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São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Cerca de 10 mil pessoas pedem governo representativo; choques entre árabes e curdos matam dez em Kirkuk

Ato xiita anti-EUA é o maior do pós-guerra

Andrea Comas - Reuters
Iraquiano dá apoio a manifestantes muçulmanos xiitas no maior protesto contra os EUA realizado em Bagdá desde o final da guerra


DA REDAÇÃO

Numa clara demonstração de seu novo poder, milhares de muçulmanos xiitas fizeram ontem, em Bagdá, o maior protesto contra a presença militar americana no Iraque desde o final da guerra, exigindo a formação de um governo representativo no país.
Desde que o ex-ditador Saddam Hussein foi deposto pela coalizão anglo-americana, no mês passado, houve vários atos contra a presença dos EUA, mas eles nunca chegaram a reunir mais de algumas centenas de pessoas.
O protesto de ontem contou, em um determinado momento, com cerca de 10 mil pessoas e teve uma mensagem política clara.
"Não ao extremismo xiita, não ao sunita. Buscamos apenas a unidade islâmica", gritavam os manifestantes, que também cantavam músicas religiosas e portavam faixas com dizeres contrários à "administração estrangeira".
"Queremos um governo interino que represente todos os segmentos da sociedade iraquiana", afirmou Ali Salman, um dos participantes do protesto.
A barulhenta -mas pacífica- manifestação foi muito bem organizada. Monitores formaram correntes humanas ao redor dos participantes para tentar impedir que atos violentos ocorressem. Os organizadores lançaram água para os manifestantes, buscando acalmá-los e refrescá-los.
Funcionários do escritório das forças americanas na capital iraquiana disseram não se importar com o protesto. Eles disseram crer que a maioria da população seja favorável à nova administração. "É importante que as pessoas possam expressar suas opiniões. Cremos que isso seja normal. Mas não acreditamos que se trate da opinião da maioria, embora ela também seja legítima", afirmou um porta-voz americano.
Os xiitas constituem cerca de 60% da população iraquiana, que é de 24 milhões de pessoas. Eles não gozavam de liberdade religiosa durante os 23 anos do regime de Saddam. Muitos deles foram perseguidos pelo ex-ditador.
A desordem que reina em boa parte do território iraquiano também preocupa o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, o egípcio Mohamed El Baradei. Segundo ele, são graves os relatos de que instalações nucleares foram saqueadas.
Ele disse ainda que há o risco da ocorrência de uma emergência por conta da contaminação nuclear, já que materiais radioativos podem ter caído nas mãos da população durante os saques ocorridos após a queda de Saddam.

Papel da ONU
A resolução anglo-americana sobre a reconstrução do Iraque, que foi apresentada no Conselho de Segurança na semana passada, dá um papel "insuficiente" à ONU no processo de reestruturação do país, segundo o presidente francês, Jacques Chirac.
Mas o chanceler russo, Igor Ivanov, disse ver "progresso" nas negociações sobre o tema. De acordo com ele, restam alguns pontos a serem discutidos, sobretudo em relação ao papel da ONU, mas as "perspectivas são boas".
Mais tarde, um diplomata dos EUA disse que o país está disposto a dar a um representante da ONU "autoridade independente" para "colaborar" com a formação de um governo interino no Iraque.

Mortes em Kirkuk
Pelo menos dez pessoas morreram em enfrentamentos entre árabes e curdos em Kirkuk, no que foi o pior caso de violência ocorrido na cidade, que se situa no norte do Iraque e é rica em petróleo, segundo informação divulgada ontem pela polícia local.
Enquanto funcionários da atual administração discutiam as regras das eleições locais que ocorrerão na próxima semana, árabes e curdos se enfrentavam, durante todo o final de semana, em distritos situados no sul da cidade, segundo Jwamma Kakey, funcionário graduado da administração.
A violência vem fazendo parte do cotidiano dos moradores de Kirkuk desde que os combatentes leais ao ex-ditador deixaram a cidade, há seis semanas.
Cinco marines morreram ontem, quando o helicóptero em que viajavam caiu num canal perto de Karbala, de acordo com um funcionário do Pentágono.

Com agências internacionais


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