São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2010

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REINO UNIDO

Ex-preso de Guantánamo acusa serviço britânico de omitir denúncia de tortura

DE SÃO PAULO

Um ex-detento de Guantánamo afirma que trechos do seu depoimento ao serviço de segurança britânico foram omitidos para esconder a complacência dos agentes com o uso de tortura nos interrogatórios.
O líbio Omar Deghayes, 1 dos 6 detidos pelo Reino Unido que processam o governo por terem sido enviados à prisão da base americana em Cuba, referia-se à transcrição do seu depoimento às forças britânicas a que teve acesso após o jornal inglês "Guardian" publicá-la parcialmente, na semana passada.
Segundo Deghayes, a transcrição omite seus relatos de tortura a agentes do MI5 e MI6 (respectivamente, as agências secretas britânicas do interior e exterior).

ESPANCAMENTOS
"Eu lhes contei sobre o tratamento -algemas, espancamentos, falta de sono, como fiquei doente. Mas esses [comentários] não apareceram. O interesse nacional parece ter-lhes servido como um escudo conveniente", disse ele ao "Guardian".
Deghayes também afirma que os agentes suprimiram perguntas que poderiam constrangê-los, por revelar que estariam perdidos na investigação.
"Numa das primeiras sessões, eles me perguntaram sobre a Tchetchênia, e eu disse que nunca havia estado lá. Mas essa questão não aparece", disse ele.

CENSURA
Para o ex-preso, as omissões configuram censura e buscam prejudicar a sua imagem. Ele alega que foi preso por ter sido confundido com outro homem.
As acusações pressionam o governo britânico a escolher um juiz independente para averiguar se os trechos do depoimento foram mesmo modificados.
Deghayes também diz que os registros estão incompletos. Só foi divulgada a transcrição de um interrogatório, mas ele se lembra de ter sido questionado outras duas ou três vezes por agentes britânicos em Guantánamo.

TRAJETÓRIA
O líbio era um refugiado político que morou no Reino Unido por muitos anos antes de se mudar para o Afeganistão. Depois do ataque militar americano, ele fugiu para o Paquistão, mas, acusado de envolvimento com terroristas, foi preso em 2002 e entregue a autoridades dos EUA.
Primeiramente interrogado em bases militares no Paquistão, acabou transferido para a prisão de Guantánamo. Foi libertado em 2007 e hoje mora no Reino Unido outra vez.


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