São Paulo, Terça-feira, 20 de Julho de 1999
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MITO DOS KENNEDY
Esqueça essa besteira toda sobre maldição

DAVID DREW ZINGG
colunista da Folha

 "A própria vida é muito injusta." John F. Kennedy

"O nome do garoto é John." Jacqueline Kennedy proferiu a frase em voz baixa, porém dura, ao cunhado da família Kennedy que se dirigiu a seu filho de 12 anos.
"John Kennedy" (sem o "Jr.") era o nome despretensioso que, mais tarde, o garoto mandaria imprimir em seu cartão de visitas.
Na ausência do pai, apreciador de estrelas menores do cinema, já se poderia adivinhar que o filho do mítico presidente da Gringolândia iria crescer muito mais na linha de sua mãe, que valorizava a privacidade.
Crescer sem pai pode ter sido difícil para John, mas, com a ajuda da mãe, ele se tornou um homem de bem, dotado de graça e encantos físicos, em grau espantoso. John sempre deu crédito a sua mãe, que o manteve afastado da sede da família Kennedy, em Hyannisport, na adolescência.
Era ali que a vida de excessos era a norma para os homens da família, presidida por seu tio -o senador Ted, o grande beberrão.
O homem que a revista "People" qualificou como "o mais sexy do mundo" não se tornou um quase recluso, como sua irmã mais velha, Caroline.

Vivendo na telenovela
Como as exigências de um roteiro de telenovela, seu desaparecimento está sendo tratado, não apenas nos EUA mas em todo o mundo, como o capítulo seguinte inevitável de algo que as pessoas gostam de descrever como "a maldição da família Kennedy".
Um jornal britânico deu a notícia sob a manchete "A maldição dos Kennedy ataca novamente". Nem um único jornal conseguiu resistir à tentação de alongar-se sobre essa frase.
Na Itália, as manchetes diziam: "Maldição mata mais um Kennedy", "Dinastia real e amaldiçoada" e -minha favorita- "Os belos e os amaldiçoados".
Na Bélgica, diziam "Maldição assombra clã Kennedy".
A se acreditar neles, John Kennedy não morreu num acidente de avião -mas de uma maldição.
Vale notar que, apesar da terrível maldição, ainda há muitos Kennedy andando por aí inteiros e saudáveis. Ativistas do leito que eram, Joseph e Rose nos legaram o total atual, vivo e bem de saúde de 87 descendentes. Com uma família desse tamanho, as chances de tragédias são maiores.
Não há nada de tão misterioso nas mortes dos Kennedy que requeira uma maldição mágica para explicá-las.
Um presidente americano desfilando em carro aberto num país cheio de malucos por armas não é exatamente um alvo inesperado. O mesmo vale para um presidenciável polêmico como Bobby.


Tradução de Clara Allain


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