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MITO DOS KENNEDY
Esqueça essa besteira
toda sobre maldição
DAVID DREW ZINGG
colunista da Folha
"A própria vida é muito injusta."
John F. Kennedy
"O nome do garoto é John." Jacqueline Kennedy proferiu a frase
em voz baixa, porém dura, ao cunhado da família Kennedy que se
dirigiu a seu filho de 12 anos.
"John Kennedy" (sem o "Jr.")
era o nome despretensioso que,
mais tarde, o garoto mandaria
imprimir em seu cartão de visitas.
Na ausência do pai, apreciador
de estrelas menores do cinema, já
se poderia adivinhar que o filho
do mítico presidente da Gringolândia iria crescer muito mais na
linha de sua mãe, que valorizava a
privacidade.
Crescer sem pai pode ter sido
difícil para John, mas, com a ajuda da mãe, ele se tornou um homem de bem, dotado de graça e
encantos físicos, em grau espantoso. John sempre deu crédito a
sua mãe, que o manteve afastado
da sede da família Kennedy, em
Hyannisport, na adolescência.
Era ali que a vida de excessos era
a norma para os homens da família, presidida por seu tio -o senador Ted, o grande beberrão.
O homem que a revista "People" qualificou como "o mais sexy
do mundo" não se tornou um
quase recluso, como sua irmã
mais velha, Caroline.
Vivendo na telenovela
Como as exigências de um roteiro de telenovela, seu desaparecimento está sendo tratado, não
apenas nos EUA mas em todo o
mundo, como o capítulo seguinte
inevitável de algo que as pessoas
gostam de descrever como "a
maldição da família Kennedy".
Um jornal britânico deu a notícia sob a manchete "A maldição
dos Kennedy ataca novamente".
Nem um único jornal conseguiu
resistir à tentação de alongar-se
sobre essa frase.
Na Itália, as manchetes diziam:
"Maldição mata mais um Kennedy", "Dinastia real e amaldiçoada" e -minha favorita- "Os
belos e os amaldiçoados".
Na Bélgica, diziam "Maldição
assombra clã Kennedy".
A se acreditar neles, John Kennedy não morreu num acidente
de avião -mas de uma maldição.
Vale notar que, apesar da terrível maldição, ainda há muitos
Kennedy andando por aí inteiros
e saudáveis. Ativistas do leito que
eram, Joseph e Rose nos legaram
o total atual, vivo e bem de saúde
de 87 descendentes. Com uma família desse tamanho, as chances
de tragédias são maiores.
Não há nada de tão misterioso
nas mortes dos Kennedy que requeira uma maldição mágica para
explicá-las.
Um presidente americano desfilando em carro aberto num país
cheio de malucos por armas não é
exatamente um alvo inesperado.
O mesmo vale para um presidenciável polêmico como Bobby.
Tradução de Clara Allain
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