São Paulo, Terça-feira, 20 de Julho de 1999
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SEM CANDIDATO
Apesar de não ter optado pela política, John Jr. tinha potencial eleitoral, segundo especialistas
Morte afeta projeto político dos Kennedy

MARCIO AITH
de Washington


O desaparecimento de John F. Kennedy Jr. pode ter sepultado de vez os elementos que poderiam conduzir um novo membro da dinastia Kennedy ao primeiro time da política norte-americana.
Embora tivesse rejeitado duas oportunidades de ingresso na vida pública -ao recusar em 1992 uma oferta para candidatar-se a deputado e ao renunciar em 1993 ao cargo de promotor-assistente de Nova York-, John Jr. tinha, segundo especialistas, qualidades suficientes para tornar-se um fenômeno eleitoral.
"Ele não era inepto para a política, e seu enorme carisma pessoal e a venerada herança familiar poderiam transformar-se em apelo eleitoral para americanos de todas as idades", disse Stephen Hess, especialista em política americana do Brookings Institute, em Washington.
"Transformá-lo num candidato viável a governador ou a presidente seria uma tarefa possível e até divertida para os especialistas. Aos 38 anos, ele tinha o tempo necessário para planejar e executar um projeto eleitoral factível."
Único herdeiro do principal ramo dos Kennedy, John Jr. conciliava as virtudes de um modesto e simpático príncipe herdeiro, a atratividade de um jovem saudável e bonito e o apelo de uma estrela de Hollywood.
Suas imagens de criança cativaram as gerações mais velhas, que acompanharam com consternação a sucessão de tragédias em sua família. Os mais novos seguiram seus passos pelas colunas sociais, admiravam sua beleza e o viam como modelo de sucesso.
Sua única aparição na arena política pareceu promissora. Ao fazer um discurso de apresentação de seu tio Edward Kennedy na convenção democrata em 1988, aos 27 anos, ele foi ovacionado durante dois minutos seguidos.
Além de seu tio Edward -atual patriarca da família-, outros três primos de John Jr. optaram pela carreira política (dois são deputados e uma prima é vice-governadora). Mas poucos os vêem com potencial suficiente para uma candidatura à Presidência.
Não era o caso de John. A convenção de 88, por si só, não pode ser vista como prova de sua viabilidade eleitoral, mas houve experiências recentes inspiradoras.
Não há motivos para duvidar que John Jr. pudesse ter a aprovação eleitoral numa sociedade que elegeu duas vezes um ator -Ronald Reagan- presidente e que coloca o filho pouco conhecido de um ex-presidente inexpressivo (George W. Bush, filho do ex-presidente George Bush) na dianteira das pesquisas para as eleições presidenciais do próximo ano.
Ao contrário de George W. Bush, não há indícios de que John Jr. tenha se envolvido com bebidas ou tido uma juventude conturbada. Além de ter exibido uma excelente desenvoltura diante das câmeras, John Jr. podia ser um bom ator quando quisesse. Essa era sua profissão favorita, que não seguiu por oposição de sua mãe.
É verdade que sua opção pelo ramo editorial não se revelou um sucesso. A receita publicitária de sua revista "George" havia caído 30% no último semestre e há rumores de que fecharia mesmo sem seu desaparecimento.
"Mas é importante notar que a simples decisão de abrir uma revista não o afastou da política. Indicou que ele havia encontrado sua própria maneira de se aproximar da profissão do pai", disse Hess, do Brookings.



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