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Kirchner e Lavagna racham a histórica UCR argentina
Presidente ganha aliados na antiga oposição; ex-ministro é o preferido de Alfonsín
Partido mais antigo do país, UCR perdeu força com fracasso de ex-presidente De la Rúa; líderes se dividem entre governo e oposição
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
A tradicional UCR (União Cívica Radical), partido político
argentino criado em 1891 e que,
a partir de 1945, consagrou-se
como adversária histórica do
peronismo, está à beira de um
racha que, nesta semana, tomará corpo com a ausência anunciada de pelo menos quatro dos
seis governadores filiados à legenda na convenção nacional,
na sexta-feira.
A pouco mais de um ano das
eleições presidenciais, que devem ocorrer em outubro de
2007, o presidente da Argentina, o peronista Néstor Kirchner, usa de todas as armas para
atrair o apoio dos governadores
e prefeitos radicais e, assim, liquidar o único de seus adversários com chances reais de crescer nas pesquisas e dificultar
sua reeleição: seu ex-ministro
da economia, Roberto Lavagna.
Embora também se apresente como peronista, Lavagna teve seu nome anunciado pelo
ex-presidente Raúl Alfonsín
-o principal cacique político
da hoje enfraquecida UCR-,
como o candidato que terá o
apoio dos radicais.
Antes de ser ministro de
Kirchner e de Eduardo Duhalde (que presidiu o país de janeiro de 2002 a maio de 2003), Lavagna foi secretário de comércio no governo Alfonsín (1983-1989). Ele ainda não admite ser
candidato, mas aumentou sua
participação em programas de
TV nos últimos quinze dias.
É o único que, ao cobrar para
si o mérito da recuperação econômica argentina, poderia fazer frente ao kirchnerismo.
O último presidente eleito
pela UCR foi Fernando de la
Rúa, que abandonou o cargo na
metade do mandato em meio a
maior recessão da história do
país. Depois da desvalorização
do peso e da moratória da dívida externa, o país voltou a crescer com Kirchner e Lavagna.
À Folha, Ricardo Alfonsín,
54, dirigente da UCR e filho do
ex-presidente, explicou que Lavagna seria uma alternativa ao
estilo de "Fernando Henrique
[Cardoso] para o Brasil e Ricardo Lagos para o Chile", com
bom trânsito entre empresários e academia.
Segundo ele, a convenção deve definir um programa político para 2007 e decidir que, com
Kirchner, a UCR não está.
"Kirchner não falou com a direção da UCR. Está empreendendo uma operação para desmembrar o partido, com pressão sobre os governadores, já
que controla os recursos das
Províncias", disse.
Para o sociólogo Torcuato Di
Tella, ex-ministro da Cultura
de Kirchner, a fratura da UCR é
"típica dos partidos de centro":
"O mesmo ocorreu com o partido radical do Chile, que praticamente desapareceu."
"A UCR vai diminuir e seguramente se dividir. Para sobreviver, terá que se aliar ao setor
da esquerda real do país, que é o
peronismo kichneriano. Cada
país tem a esquerda que pode,
não a que quer. Isso é a Argentina, e aqui o partido peronista é
o mais próximo que temos do
partido Democrata dos EUA.
Não é um partido socialista
nem social-democrata, mas se
parece", complementou.
Radicais K
Chamados de "Radicais K",
os apoiadores de Kirchner filiados à UCR fizeram há uma semana um ato público de apoio
ao governo. Estiveram presentes, além dos governadores, 183
dos 611 prefeitos radicais.
"A reunião dos radicais pró-Kirchner evidencia que a estratégia oficialista é juntar-se aos
chefes territoriais. A crise que
explodiu em 2001 mostrou a
fraqueza dos partidos políticos
e fortaleceu os governadores. É
por isso que Kirchner centra
sua estratégia nos governadores e prefeitos, seja qual for a
procedência", diz o analista político Rosendo Fraga.
Avaliação positiva
Nas pesquisas de opinião,
cerca de 20% dos eleitores desaprovam Kirchner. A porcentagem chega a 40% nas classes
alta e média. Nos estratos mais
pobres, é de 15%. O restante da
população avalia positivamente o presidente -mas vale dizer
que, na maioria dos estudos
não é dada ao entrevistado, como no Brasil, a opção de avaliação "regular", somente "positiva" e "negativa".
Além de Lavagna, outros dois
nomes se apresentam à corrida
eleitoral como opositores de
Kirchner: Elisa Carrió, ex-UCR, que chama o atual presidente de fascista e que, ao mesmo tempo, elogia o ex-presidente FHC e a candidata do
PSOL, Heloísa Helena; e o presidente do clube de futebol Boca Juniors, Mauricio Macri,
que pode acabar se associando
a Lavagna.
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