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Reformas e novos espaços mudam a cara de Nova York
Projetos bilionários são resposta aos atentados terroristas de 2001 e à derrota para sediar os Jogos Olímpicos de 2012
Na véspera do 5º aniversário do 11 de setembro, cerca de 70 novos empreendimentos provocam um renascimento arquitetônico na cidade
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Nova York virou um canteiro
de obras. Literalmente. Às vésperas do quinto aniversário do
11 de Setembro, a cidade executa um pacote de reformas e intervenções urbanas na perspectiva de ver a população inchar em um milhão de habitantes nos próximos anos.
"É o renascimento de Manhattan", disse à Folha o arquiteto-estrela Daniel Libeskind,
autor do projeto da Freedom
Tower, substituta do World
Trade Center.
São ao menos 70 grandes
empreendimentos como museus, parques, estúdios de cinema, estádios, dezenas de arranha-céus, teatros, píeres, clubes, hotéis e ciclovias ligando
todas as áreas de lazer da cidade. Só as obras do Silvercup
Studios, aos pés da Queensboro
Bridge, vão consumir US$ 1 bilhão. Segundo a prefeitura,
uma cidade do porte de São
Francisco (Califórnia) estaria
sendo construída sobre a atual
Nova York.
A versão local da "operação
belezura" (projeto da Prefeitura de São Paulo na gestão Marta Suplicy para limpar muros e
fachadas da cidade) foi rapidamente batizada de "Tomorrowland" (Terra do Futuro, numa tradução livre).
Área fashion
A maior parte da revitalização se concentra em Manhattan, zona fashion e globalizada,
que conserva traços urbanos
tradicionais, mas as reformas
incluem áreas como Brooklyn,
Queens, Bronx e o Harlem.
"Não podemos apenas construir torres de 80 andares, como fizemos nos anos 60.
Aprendemos a lição. É preciso
investir em infra-estrutura, como metrô, trem, ônibus, parques, energia elétrica, lazer,
qualidade de vida para a população", avalia Eric Gartner, da
SPG Architects.
A iniciativa das obras surgiu
de uma ação afirmativa em resposta aos atentados terroristas
que puseram abaixo o World
Trade Center e da derrota da cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2012. Projetos elaborados para convencer o COI foram levados adiante e estão em
fase de execução.
Segundo a secretária de planejamento da prefeitura,
Amanda Burden, a cidade foi
inteiramente zoneada de forma
a exigir que as mudanças preservem as características originais dos bairros.
"A idéia é conectar as áreas
de lazer. Será possível almoçar
no gramado do parque à beira
do rio East, passear de caiaque
aos pés da ponte do Brooklyn e
fazer alguma atividade cultural
na Governors Island. Tudo no
mesmo dia", afirma Burden.
O novo mapeamento da cidade permite agora a construção
de prédios de até 40 andares às
margens dos rios East e Hudson, o que reforça a silhueta de
arranha-céus da cidade.
"Apenas uma Times Square
não vai dar conta de tanto entretenimento", completa Eric
Gartner.
Revitalização
Algumas das áreas menos
aproveitadas de Manhattan, as
tangentes da ilha, serão revitalizadas. Ciclovias e pistas de
cooper já foram construídas em
quase todo o entorno da região,
e píeres com gramados para banhos de sol, como o da Christopher Street, no Village, já estão
funcionando.
A prefeitura quer ainda aproveitar a potencialidade dos rios
e ligar diversos bairros do conjunto de ilhas e penínsulas que
formam Nova York por meio de
transporte aquático. Balsas de
alta velocidade fariam o trajeto,
ligando estações das ruas 90,
65, 23 e Grand e pontos como
Williamsburg, Roosevelt Island, Dumbo, Hunters Point e
Green Point. Hoje, o serviço
existe para turistas, a US$ 25 o
passeio. Outra parte do projeto
é a instalação de bondes ligando as margens dos rios.
"É inaceitável que Nova York
fique atrás de Londres, Moscou, Pequim ou qualquer outro
lugar. A cidade sempre será um
ícone", avalia Libeskind. Sua
Freedom Tower, que começou
a ser erguida em 27 de abril e terá 1.776 pés (alusão ao ano da
independência dos EUA), equivalentes a 541 metros, é a maior
e mais cara obra da cidade.
Outro projeto não menos polêmico, o memorial das vítimas
do 11 de Setembro, teve a pedra
fundamental lançada na última
quinta-feira. Funcionará abaixo dos buracos onde existiram
as torres gêmeas do World Trade Center. Custo: US$ 1 bilhão,
maior parte da gestão do prefeito Michael Bloomberg.
O complexo, que inclui três
torres de escritórios e uma residencial, dois centros culturais,
uma estação de 13 linhas de
metrô e uma de trem, além do
memorial e da Freedom Tower,
deve ser concluído em 2012.
A reconstrução da cidade é
patrocinada tanto pela iniciativa privada quanto por agências
oficiais, prefeitura e governo
estadual.
Os projetos foram inspirados
no legado de Robert Moses
(1888-1981), urbanista e empreendedor do início do século
20 que teve para a cidade de
Nova York a importância de
[Francisco de Paula] Ramos de
Azevedo (1851-1928) para São
Paulo, e nas lições de "Morte e
Vida de Grandes Cidades", de
Jane Jacobs (1916-2006), obra
capital do planejamento urbano.
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