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São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2003

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Schröder quer superar divergências com Bush

DA REDAÇÃO

O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, disse, em artigo publicado ontem no "New York Times", que a Alemanha deseja superar as divergências com os EUA e ajudar na reconstrução no Iraque. "É verdade que a Alemanha e os EUA não estiveram de acordo sobre a melhor maneira de tratar o regime de Saddam Hussein [ex-ditador iraquiano]. Não há razão para continuar esse debate. Devemos olhar para o futuro. Trabalhar juntos para conseguir a paz", escreveu Schröder.
O premiê disse estar disposto a enviar ajuda humanitária ao Iraque, auxiliar na reconstrução civil e econômica do país e treinar as forças de segurança iraquianas.
O artigo foi publicado num momento estratégico, já que, hoje, França, Alemanha e Reino Unido -os três principais países da União Européia (UE)- realizarão reunião em Berlim na qual também tratarão de suas divisões.
A França e a Alemanha lideraram a oposição à guerra, e o Reino Unido foi o maior aliado dos EUA no conflito. Como os três países são os pilares da UE, é importante que se reaproximem, inclusive porque o bloco europeu viverá uma fase delicada em 2004, com a adesão de dez novos membros.
Segundo o jornal alemão "Die Welt", "os planejadores da política exterior alemã crêem ser possível reduzir a profunda brecha dentro da União Européia".
Embora tanto a França quanto a Alemanha sejam favoráveis a que a ONU tenha um papel mais relevante no Iraque ocupado, Schröder tem dados sinais de que quer ajudar os EUA mesmo sem condicionar essa colaboração a uma nova resolução sobre o Iraque no Conselho de Segurança da ONU.
Já o presidente francês, Jacques Chirac, tem insistido que os EUA devem transferir o poder aos iraquianos "em meses, não anos" e que a ONU -e não os EUA- deve ter o papel central na transição.
"Os franceses estão colocando mais pressão do que os alemães", disse Hans Stark, do Instituto Francês de Relações Internacionais. "A Alemanha quer restaurar as boas relações com os EUA, enquanto esse não é muito o caso da França."
Segundo Stark, a França quer aumentar sua influência na região do Iraque, o que só seria possível por meio das Nações Unidas. "A motivação principal da França é seu interesse nacional mais do que o interesse da ONU", disse.
Já o premiê britânico, Tony Blair, cuja imagem se desgastou devido a sua aliança incondicional com os EUA, quer recolocar o Reino Unido no centro da UE.
Tradicionalmente, a França e a Alemanha são vistos como "os motores" da UE. Já o Reino Unido, que tem uma postura ambígua em relação à integração européia -não adotou o euro, por exemplo-, engajou-se mais no atual governo. Mas a divisão causada pelo Iraque esfriou as coisas.
"Nem o Reino Unido nem a França ou a Alemanha podem cumprir seus objetivos na Europa sem trabalharem juntos de forma mais construtiva", disse Charles Grant, diretor do Centro para a Reforma Européia, de Londres.
"Não há dúvida de que Blair quer ver o Reino Unido no coração da Europa, e o coração da Europa é ocupado pela França e pela Alemanha", disse Stanley Crossick, diretor do Centro de Política Européia, em Bruxelas.
Na próxima semana governantes de todo o mundo participarão da Assembléia Geral da ONU, em Nova York. Com a conversa de hoje, Schröder, Chirac e Blair tentarão afinar suas posições.
O presidente dos EUA, George W. Bush, discursará na terça-feira e deve falar sobre a nova resolução que pretende apresentar. Bush quer mais ajuda internacional -em soldados e recursos financeiros- para a reconstrução do Iraque, mas, para conseguir isso, terá de dar à ONU uma importância maior no processo.
Ontem, a França anunciou que Chirac se reunirá com Bush durante a Assembléia.


Com agências internacionais

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