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São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2003

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OPINIÃO

O vínculo inexistente com o terrorismo

Leia a seguir trechos do editorial publicado na edição de ontem do jornal "The New York Times".

Na quarta-feira, o presidente Bush finalmente pôs os pingos nos "is", reconhecendo que não existe conexão entre Saddam Hussein e o 11 de Setembro.
Os assessores da Casa Branca nos dirão que Bush nunca chegou a afirmar diretamente que ela existisse. Mas pesquisas indicam que muitos americanos crêem na existência desse vínculo. E, ao menos em parte, isso ocorre porque os assessores do presidente deixaram implícito que ele existia.
O próprio Bush traçou uma linha que partia dos atentados quando anunciou o fim das hostilidades no Iraque. "A batalha do Iraque é uma vitória na guerra contra o terror, que começou em 11 de setembro de 2001 e continua até hoje", disse Bush.
Mas, no domingo, o vice-presidente Dick Cheney foi longe demais, dizendo que "não é surpresa" que muitos americanos vejam um elo entre Saddam e o 11 de Setembro. Indagado sobre a existência desse elo, ele disse: "Não sabemos". Mas a administração sabe, e Bush foi obrigado a reconhecer esse fato na quarta-feira.
Cheney não se surpreendeu ao saber que os americanos tinham feito uma conclusão apressada. Mas mostrou-se entusiasmado ao ajudá-los a chegar a ela. "Voltamos ao 11 de Setembro, e, além disso, uma das preocupações com Saddam é seu potencial relacionado a armas biológicas", disse Cheney, em setembro de 2002.
Ele tomou o cuidado de não afirmar que existiam provas reais que ligassem Saddam ao 11 de Setembro. Mas usou um argumento tortuoso sobre as ligações entre Saddam e a Al Qaeda e sugeriu que não estivesse revelando tudo o que sabia porque não queria divulgar segredos importantes.
Antes de a guerra começar, Bush mudou, várias vezes, os argumentos usados para justificá-la. O mais persuasivo deles -o perigo das armas de destruição em massa iraquianas- caiu por terra desde então, já que essas armas não foram encontradas.
Houve várias provas de que Saddam era um tirano. Mas pesquisas mostram que o público americano não vê a idéia de fazer sacrifícios para ajudar os iraquianos com o mesmo entusiasmo que a de fazer sacrifícios para proteger os EUA do terrorismo.
A administração Bush sempre reage mal quando as pessoas procuram traçar paralelos entre o o Vietnã e o Iraque. Porém, se não quiser que a história se repita, Bush deverá aprender com ela.
O veneno do Vietnã nasceu de uma classe política que não quis ser transparente com a população. A franqueza é a melhor arma de Bush para manter a confiança popular em sua liderança.


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