São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2000

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IGREJA CATÓLICA
Prelado belga afirma que a eventual saída de João Paulo 2º não o surpreenderia; Vaticano nega a especulação
Papa pode renunciar em 2001, diz cardeal

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O cardeal Godfried Danneels, figura de ponta da Igreja Católica da Bélgica, disse ontem a jornalistas, durante o lançamento de um livro de sua autoria, que não se surpreenderia se o papa João Paulo 2º renunciasse no ano que vem.
Além disso, o cardeal belga afirmou ser inevitável que, um dia, os papas sejam obrigados a se aposentar quando atinjam uma certa idade, relançando o debate sobre até quando João Paulo 2º, 80, comandará a igreja.
Os jornalistas perguntaram então ao cardeal Danneels se o limite de 75 anos utilizado para a aposentadoria de bispos (que, ao atingir essa idade, colocam seus postos à disposição do Vaticano) também deveria ser aplicado ao papa.
"A questão será colocada da mesma forma para os papas. E não me surpreenderia se o papa se aposentasse depois de 2000. Ele queria de qualquer maneira participar do ano do Jubileu (2000), mas eu o considero capaz de se aposentar depois disso", respondeu o cardeal belga.
Sobre a inevitabilidade da aposentadoria papal, ele acrescentou: "No futuro, penso que isso terá de ocorrer. Ninguém será capaz de fazer o contrário".

Vaticano
A cúpula da Igreja Católica tentou pôr fim às especulações do cardeal sobre a aposentadoria do papa João Paulo 2º em uma nota oficial.
"Trata-se de uma opinião pessoal do cardeal Danneels, que não foi confirmada", disse Joaquin Navarro-Valls, principal porta-voz do Vaticano.
O cardeal Danneels, que integra a lista dos possíveis sucessores de João Paulo 2º, deve participar de um evento para falar de seu livro na próxima segunda-feira, quando poderá esclarecer os comentários de ontem.

Especulações
Em janeiro deste ano, o bispo alemão Karl Lehmann causou controvérsia ao levantar a idéia de que o papa poderia renunciar um dia, caso não se sentisse mais apto a desempenhar suas funções eclesiásticas.
Geralmente, os papas mantêm-se no posto até o fim de suas vidas. O último papa que renunciou por livre e espontânea vontade foi Celestino 5º, que deixou seu posto em 1294.
Gregório 12 abdicou contra sua vontade, em 1415, para solucionar o problema da existência de mais de um papa ao mesmo tempo.
Especulações sobre uma possível renúncia de João Paulo 2º, que começou esta semana seu 23º ano no comando da Igreja Católica, emergem sempre que seu estado de saúde piora.
Já houve também especulações de que o papa abdicaria de seu posto em 2001, pois ele acredita que tenha recebido, em 1978 -quando foi eleito-, a missão divina de liderar a Igreja Católica, que conta com cerca de 1 bilhão de fiéis, até o novo milênio.
De acordo com o Código de Direito Canônico, um papa tem o direito de renunciar, mas deve fazê-lo espontaneamente. E, já que é a maior autoridade da igreja, não cabe a ninguém aceitar sua renúncia.


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