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Desastre causa atrito entre Portugal e Espanha
DO "THE INDEPENDENT"
Discussões acirradas e acusações de todas as partes dilaceravam a União Européia (UE) na
noite de ontem -depois que o
petroleiro Prestige afundou.
Espanha e Portugal se atacavam. A França, o último país europeu a ter sofrido um grave vazamento de óleo, acusava a UE de
não ter implementado um sistema de verificações marítimas.
O presidente francês, Jacques
Chirac, fez observações mordazes
a respeito da UE, criticando "a falta de capacidade dos responsáveis
políticos" europeus em agir contra a navegação de "lixeiras... em
condições totalmente inaceitáveis".
As relações entre Portugal e Espanha nunca são totalmente tranquilas, mesmo nos melhores momentos, mas o desastre do Prestige motivou uma discussão feroz
entre os dois países vizinhos, que
procuram desesperadamente livrar-se da responsabilidade pelo
desastre ambiental.
O petroleiro naufragado se
rompeu ao largo da costa portuguesa, por volta de 48 quilômetros ao norte da área de exploração econômica exclusiva de Portugal, disseram funcionários da
Marinha em Lisboa. O primeiro-ministro português, José Manuel
Durão Barroso, disse ter certeza
de que o petroleiro se encontra
afundado em águas espanholas.
A Espanha, porém, considera
que o navio -que já desapareceu
sob as ondas, embora possivelmente ainda não tenha alcançado
o fundo do mar- está fora de sua
jurisdição e que a responsabilidade por ele não cabe mais a Madri.
A Espanha procurava levantar
fundos ontem para compensar os
pescadores atingidos, tentando
furiosamente limpar a mancha de
óleo e impedir que ela avance
mais em direção à costa.
O ministro da Defesa de Portugal, Paulo Portas, comentou o acidente e suas consequências potenciais nos bastidores de uma
reunião com representantes espanhóis, em Bruxelas.
"O acidente aconteceu em
águas espanholas, e isso tem certo
peso legal", teria dito ele.
Chirac disse que os 15 países da
UE precisam adotar uma política
marítima "draconiana". Ele lembrou que a UE só tomou iniciativas no sentido de deixar de utilizar petroleiros velhos e sem boas
condições de funcionamento depois de um desastre semelhante
ocorrido ao largo da França, em
1999, quando o petroleiro Erika se
quebrou em duas partes. "Medidas nesse sentido estão sendo implementadas, mas muito lentamente", disse Chirac.
O comissário de Transportes da
UE, Loyola de Palácio, só escreveu
ontem a todos os governos da UE,
exortando-os a não esperar até julho do próximo ano para implementar as novas normas.
O ministro dos Transportes de
Chirac, Gilles de Robien, foi além,
dizendo: "Precisamos de uma política de alto-mar". Ele acusou a
UE de ser muito lenta na implementação de uma política marítima para verificar os navios que
trafegam por águas européias.
Assim como o terreno pantanoso onde o norte de Portugal e o sudoeste da Galícia se fundem de
maneira imperceptível, o mar não
respeita fronteiras, e tanto a Espanha quanto Portugal sofrerão um
desastre ambiental se a maior
parte das 77 mil toneladas de óleo
ainda contidas no navio acabar
chegando a suas praias.
A disputa é a mais recente a ser
motivada pelas ambiguidades
quanto a quem é responsável pelo
navio Prestige, de bandeira das
Bahamas e propriedade grega,
que se dirigia da Letônia para Gibraltar (segundo Madri) ou para
Cingapura (diz o Reino Unido).
Ainda neste mês, o Parlamento
Europeu deve discutir um esboço
da Diretriz de Responsabilidade
na UE. Mas a proposta tem sido
criticada por ambientalistas por
ser "tão branda que é praticamente inútil".
Lisboa se prepara para o pior. Se
os ventos mudarem hoje, a mancha de óleo poderá ameaçar a costa portuguesa, que, como a da Espanha, abriga comunidades de
pescadores que formam a base de
toda a economia de sua região litorânea.
Tradução de Clara Allain
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