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Neste mês, hackers brasileiros passam a ser os principais autores de ataques digitais, revela consultoria britânica
Brasil é líder mundial em crimes na internet
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
O Brasil se tornou neste mês o
maior "exportador" de criminalidade via internet. Os hackers brasileiros atingiram o topo do ranking mundial de ataques digitais.
Essas informações fazem parte
de um levantamento da consultoria britânica mi2g, empresa a serviço de grandes bancos e companhias seguradoras que monitora
as ações dos hackers na rede
mundial de computadores.
Entre os cibercrimes de gangues
brasileiras catalogados está, sobretudo, a alteração de conteúdo
de home pages. Outros delitos
também foram registrados, como
roubo de identidade, fraudes de
cartão de crédito, violações à propriedade intelectual (pirataria) e
invasão de sites para protestos
políticos.
Na visão do presidente da mi2g,
DK Matai, a liberdade de trânsito
dos hackers do país pode resultar
em pressões dos países ricos
-sobretudo EUA e Reino Unido- para que as autoridades brasileiras adotem medidas mais rigorosas para combatê-los.
A ausência de legislação para lidar com a criminalidade digital é
um das principais razões, segundo o estudo, para o Brasil estar se
tornando uma espécie de "Estado
delinquente" no mundo virtual.
"No ano passado, funcionários
do FBI vieram ao Brasil para tentar entender por que havia tantos
ataques aos sites do governo dos
EUA com origem aqui", disse à
Folha o promotor Rodrigo Canellas Dias, do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado), especialista
em crimes pela internet.
"Eles nos deixaram de castigo.
Fecharam a porta das home pages
do governo americano por uma
semana a todos os usuários brasileiros."
Os dez grupos de hackers mais
ativos no mundo hoje em dia são
brasileiros. As três principais organizações virtuais responsáveis
por danos a sistemas nos EUA até
agora no mês de novembro são
daqui: Endiabrad0s (398 ações),
Ir4dex (378) e Virtual Hell (351).
DK Matai disse que "raramente,
desde 1995, um país dominou as
atividades criminais digitais da
forma como o Brasil faz agora".
"O português se tornou a língua
franca do underground dos hackers", afirma um comunicado à
imprensa da mi2g.
Nas estimativas da empresa
com sede em Londres, os ataques
digitais resultam em prejuízos da
ordem de US$ 37 bilhões a US$ 45
bilhões anuais, sobretudo nos
países mais tecnologicamente
avançados do G-8 (grupo que
reúne os sete países mais industrializados e a Rússia).
Metralhadoras digitais
Um padrão identificado pelo estudo é que os hackers brasileiros
não se importam com a "grife"
dos sistemas que invadem. "Eles
usam ataques automáticos como
metralhadoras, atingindo muitos
sites de forma simultânea", explicou DK Matai.
"[Os brasileiros] não se importam muito com a qualidade de
seus alvos. Estão mais interessados em quantidade. Querem ser
conhecidos no mundo como
aqueles que fazem o maior números de ataques."
Dessa forma, os grupos nem
sempre são seletivos sobre os países que pretendem prejudicar.
Agem tanto em escala global como contra sites e sistemas dentro
do próprio país.
Talvez por isso o Brasil tenha tido ascensão meteórica no ranking dos países mais atacados por
hackers. Em 2002, tornou-se a segunda maior vítima de ataques
digitais abertos (4.874), perdendo
apenas para os EUA (24.611).
A criação de vírus de computador, porém, parece estar fora da
lista de especialidades dos hackers do Brasil: apenas 4 dos 296
novos vírus eletrônicos detectados na rede em 2002 tiveram origem em território nacional.
Para chegar ao "topo do mundo", os hackers brasileiros superaram rivais do Leste Europeu e
da Ásia. Em 1999, a maioria dos
ataques partia de países como Romênia, Rússia e Iugoslávia. Em
2000, China, Hong Kong e Macau
se destacaram.
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