São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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Neste mês, hackers brasileiros passam a ser os principais autores de ataques digitais, revela consultoria britânica

Brasil é líder mundial em crimes na internet

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

O Brasil se tornou neste mês o maior "exportador" de criminalidade via internet. Os hackers brasileiros atingiram o topo do ranking mundial de ataques digitais.
Essas informações fazem parte de um levantamento da consultoria britânica mi2g, empresa a serviço de grandes bancos e companhias seguradoras que monitora as ações dos hackers na rede mundial de computadores.
Entre os cibercrimes de gangues brasileiras catalogados está, sobretudo, a alteração de conteúdo de home pages. Outros delitos também foram registrados, como roubo de identidade, fraudes de cartão de crédito, violações à propriedade intelectual (pirataria) e invasão de sites para protestos políticos.
Na visão do presidente da mi2g, DK Matai, a liberdade de trânsito dos hackers do país pode resultar em pressões dos países ricos -sobretudo EUA e Reino Unido- para que as autoridades brasileiras adotem medidas mais rigorosas para combatê-los.
A ausência de legislação para lidar com a criminalidade digital é um das principais razões, segundo o estudo, para o Brasil estar se tornando uma espécie de "Estado delinquente" no mundo virtual.
"No ano passado, funcionários do FBI vieram ao Brasil para tentar entender por que havia tantos ataques aos sites do governo dos EUA com origem aqui", disse à Folha o promotor Rodrigo Canellas Dias, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), especialista em crimes pela internet.
"Eles nos deixaram de castigo. Fecharam a porta das home pages do governo americano por uma semana a todos os usuários brasileiros."
Os dez grupos de hackers mais ativos no mundo hoje em dia são brasileiros. As três principais organizações virtuais responsáveis por danos a sistemas nos EUA até agora no mês de novembro são daqui: Endiabrad0s (398 ações), Ir4dex (378) e Virtual Hell (351).
DK Matai disse que "raramente, desde 1995, um país dominou as atividades criminais digitais da forma como o Brasil faz agora". "O português se tornou a língua franca do underground dos hackers", afirma um comunicado à imprensa da mi2g.
Nas estimativas da empresa com sede em Londres, os ataques digitais resultam em prejuízos da ordem de US$ 37 bilhões a US$ 45 bilhões anuais, sobretudo nos países mais tecnologicamente avançados do G-8 (grupo que reúne os sete países mais industrializados e a Rússia).

Metralhadoras digitais
Um padrão identificado pelo estudo é que os hackers brasileiros não se importam com a "grife" dos sistemas que invadem. "Eles usam ataques automáticos como metralhadoras, atingindo muitos sites de forma simultânea", explicou DK Matai.
"[Os brasileiros] não se importam muito com a qualidade de seus alvos. Estão mais interessados em quantidade. Querem ser conhecidos no mundo como aqueles que fazem o maior números de ataques."
Dessa forma, os grupos nem sempre são seletivos sobre os países que pretendem prejudicar. Agem tanto em escala global como contra sites e sistemas dentro do próprio país.
Talvez por isso o Brasil tenha tido ascensão meteórica no ranking dos países mais atacados por hackers. Em 2002, tornou-se a segunda maior vítima de ataques digitais abertos (4.874), perdendo apenas para os EUA (24.611).
A criação de vírus de computador, porém, parece estar fora da lista de especialidades dos hackers do Brasil: apenas 4 dos 296 novos vírus eletrônicos detectados na rede em 2002 tiveram origem em território nacional.
Para chegar ao "topo do mundo", os hackers brasileiros superaram rivais do Leste Europeu e da Ásia. Em 1999, a maioria dos ataques partia de países como Romênia, Rússia e Iugoslávia. Em 2000, China, Hong Kong e Macau se destacaram.


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