São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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COMENTÁRIO
Mídia troca jornalismo por propaganda

JEAN-PIERRE THIBAUDAT
do "Liberatión", de Moscou

A cobertura da campanha eleitoral na mídia não se mostrou ""digna" e privilegiou a propaganda, rejeitando a investigação. Isso não é surpresa, pois os meios de comunicação do país estão nas mãos de grandes grupos financeiros, que põem sua força ao alcance do partido ou coalizão que sustentam.
Há quatro meses, o Unidade, partido dirigido por Serguei Shoigu (ministro para Situações de Emergência), não existia. Foi criado para mobilizar as vozes favoráveis ao Kremlin quando a popularidade do presidente Ieltsin estava no patamar mais baixo nas pesquisas. Putin, o premiê que fez explodir o índice de popularidade do governo, disse, perante as câmeras de TV russas dos canais ORT e RTR (semipúblicos), que os eleitores deveriam votar no Unidade. Desde então, reportagens desses canais fizeram campanha do candidato Shoigu transmitindo para toda a Rússia.
O ORT é o canal que tem maior penetração no país, atingido 98% dos lares. Longe de ser um canal de serviço público, é um órgão de propaganda a serviço do poder. Partindo do zero em setembro, o Unidade, apesar de não ter um programa definido e de Shoigu não ser tão brilhante, chegaria, segundo as pesquisas, em segundo ou terceiro lugar nas urnas.
A TV privada NTV, concorrente direta da ORT e pertencente ao grupo Goussinski, apóia a formação de Lujkov e Primakov e não dá informações que irritem esses dois.
No interior, a situação é pior. Os meios de comunicação estão nas mãos dos governadores e não vale a pena ser jornalista independente.
Enfim, essa campanha eleitoral não fez mais do que pôr em evidência o longo caminho que separa a Rússia pós-soviética de uma imagem realmente livre, profissional e pluralista.


Tradução de Maristela do Valle


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