São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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COMENTÁRIO
Taiwan é o próximo alvo de Pequim

JAIME SPITZCOVSKY
Editor de Mundo


A volta de Macau ao controle da China alimenta um dos principais processos históricos deste final de século: a ressurreição do nacionalismo chinês. Essa ""barragem de artilharia", alimentada pelo acelerado crescimento econômico e fatos como a recuperação de Hong Kong, dirige agora suas baterias a Taiwan, o próximo objetivo do Partido Comunista.
Taiwan se separou politicamente do continente ao final da guerra civil chinesa, em 49. Serviu como refúgio para os nacionalistas do partido Kuomintang derrotado pelas tropas de Mao Tse-tung e se transformou numa das mais dinâmicas economias capitalistas da Ásia, promovendo uma acelerada democratização nos últimos anos.
Para Pequim, Taiwan permanece uma ""Província rebelde". Os herdeiros de Mao consideram a recuperação do território uma ""tarefa histórica", e o presidente chinês, Jiang Zemin, sabe que arrancar um acordo com a ilha garantiria a ele um lugar de destaque na milenar história chinesa.
O Kuomintang, nos últimos meses, endureceu sua retórica no incipiente diálogo com Pequim. A estratégia indica uma tentativa de fortalecer-se para uma negociação que terá uma China fortalecida pela recuperação de Macau e Hong Kong.
Jiang Zemin oferece a Taiwan a fórmula ""um país, dois sistemas". Ou seja, a ilha poderia manter sua democracia e capitalismo -e até Forças Armadas-, enquanto o poder político voltaria para Pequim.
Ao mesmo tempo em que oferece concessões à ""Província rebelde", a China não abre mão da opção militar. Ameaça invadir a ilha caso ela renuncie ao objetivo da reunificação. O Kuomintang também cultiva a idéia da reunificação da ""pátria", mas condiciona-a à democratização da China.
A disputa Taiwan-China alimenta um dos principais focos de tensão da Ásia. E será um desafio cada vez maior ao Kuomintang resistir à crescente pressão do Partido Comunista, que troca as idéias do marxismo-leninismo pela onda nacionalista.


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