São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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UM ANO DEPOIS

Cerca de 5.000 desempregados marcharam ontem em Buenos Aires; estradas e avenidas foram bloqueadas

Argentinos lembram queda de De la Rúa

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

O primeiro dia de protestos e manifestações para marcar um ano da queda do então presidente da Argentina, Fernando de la Rúa, foi calmo. Até o início da noite de ontem, nenhum incidente havia sido registrado. O governo do país e os próprios manifestantes receavam que atos violentos tumultuassem os dois dias de protestos, que terminam hoje.
Cerca de 5.000 desempregados marcharam ontem por Buenos Aires. Outros grupos bloquearam estradas e avenidas em vários pontos da Argentina. No centro financeiro da capital do país, bancos fecharam as portas, e argentinos com depósitos bloqueados pelo governo picharam as sedes das principais instituições financeiras -algo que tem ocorrido pelo menos uma vez por semana. Tudo sob a vigilância de cerca de mil homens que participam do esquema de segurança montado pelo governo do país.
No ano passado, durante os dias que antecederam a renúncia de Fernando de la Rúa, 32 argentinos morreram devido à repressão policial e aos conflitos entre comerciantes e saqueadores.
Ontem, o chefe do Gabinete de Ministros argentino, Alfredo Atanasof, pediu, em nome do governo, que se "dissipassem os temores de atos violentos".
O receio de que os saques ou os conflitos com a polícia se repetissem fez com que todos se preparassem. Comerciantes tomaram medidas de segurança -vários se armaram-, o governo preparou um esquema especial para os dois dias, e as organizações de desempregados orientaram os manifestantes a não aceitar nenhum tipo de provocação.
Algumas organizações de desempregados, como a Federação de Terra e Moradia, chegaram a denunciar manobras políticas para provocar saques na periferia de Buenos Aires. Partidários do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) teriam oferecido dinheiro a membros da organização para que eles organizassem saques. Menem não comentou as denúncias.

Paz
Ontem, quando a marcha de cinco mil desempregados chegou à sede do governo argentino, na Praça de Maio, o clima era de calma. Lojas e restaurantes permaneceram abertos e, em várias lanchonetes e cafés, havia filas para que os manifestantes pudessem usar os banheiros.
"A única violência que ocorre no país é a dos grupos políticos e econômicos que fazem a população passar fome", discursava Luis D'Elía, líder da Federação da Terra e Moradia, uma das organizações de desempregados que organizaram a marcha.
Para a noite de ontem, vários grupos -associações de direitos humanos, grupos de estudantes, associações de bairros- haviam marcado uma manifestação que deveria começar as 21h (22h em Brasília) e que se estenderia pela madrugada.
Hoje chegam a Buenos Aires marchas de desempregados que partiram na segunda de várias Províncias do país. Os grupos devem chegar à capital pela manhã.


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