|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UM ANO DEPOIS
Cerca de 5.000 desempregados marcharam ontem em Buenos Aires; estradas e avenidas foram bloqueadas
Argentinos lembram queda de De la Rúa
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
O primeiro dia de protestos e
manifestações para marcar um
ano da queda do então presidente
da Argentina, Fernando de la Rúa,
foi calmo. Até o início da noite de
ontem, nenhum incidente havia
sido registrado. O governo do
país e os próprios manifestantes
receavam que atos violentos tumultuassem os dois dias de protestos, que terminam hoje.
Cerca de 5.000 desempregados
marcharam ontem por Buenos
Aires. Outros grupos bloquearam
estradas e avenidas em vários
pontos da Argentina. No centro
financeiro da capital do país, bancos fecharam as portas, e argentinos com depósitos bloqueados
pelo governo picharam as sedes
das principais instituições financeiras -algo que tem ocorrido
pelo menos uma vez por semana.
Tudo sob a vigilância de cerca de
mil homens que participam do
esquema de segurança montado
pelo governo do país.
No ano passado, durante os dias
que antecederam a renúncia de
Fernando de la Rúa, 32 argentinos
morreram devido à repressão policial e aos conflitos entre comerciantes e saqueadores.
Ontem, o chefe do Gabinete de
Ministros argentino, Alfredo Atanasof, pediu, em nome do governo, que se "dissipassem os temores de atos violentos".
O receio de que os saques ou os
conflitos com a polícia se repetissem fez com que todos se preparassem. Comerciantes tomaram
medidas de segurança -vários se
armaram-, o governo preparou
um esquema especial para os dois
dias, e as organizações de desempregados orientaram os manifestantes a não aceitar nenhum tipo
de provocação.
Algumas organizações de desempregados, como a Federação
de Terra e Moradia, chegaram a
denunciar manobras políticas para provocar saques na periferia de
Buenos Aires. Partidários do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) teriam oferecido dinheiro a
membros da organização para
que eles organizassem saques.
Menem não comentou as denúncias.
Paz
Ontem, quando a marcha de
cinco mil desempregados chegou
à sede do governo argentino, na
Praça de Maio, o clima era de calma. Lojas e restaurantes permaneceram abertos e, em várias lanchonetes e cafés, havia filas para
que os manifestantes pudessem
usar os banheiros.
"A única violência que ocorre
no país é a dos grupos políticos e
econômicos que fazem a população passar fome", discursava Luis
D'Elía, líder da Federação da Terra e Moradia, uma das organizações de desempregados que organizaram a marcha.
Para a noite de ontem, vários
grupos -associações de direitos
humanos, grupos de estudantes,
associações de bairros- haviam
marcado uma manifestação que
deveria começar as 21h (22h em
Brasília) e que se estenderia pela
madrugada.
Hoje chegam a Buenos Aires
marchas de desempregados que
partiram na segunda de várias
Províncias do país. Os grupos devem chegar à capital pela manhã.
Texto Anterior: Chefe de inspetores critica dossiê Próximo Texto: Argentina: Juiz mantém presa a dona do "Clarín" Índice
|