São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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Chávez pede gasolina e técnicos brasileiros

DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

O presidente Hugo Chávez pediu a Marco Aurélio Garcia, enviado especial do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que o Brasil forneça gasolina à Venezuela, quadros técnicos da Petrobrás para substituir os grevistas da estatal de petróleo local e um aumento da exploração em território da Venezuela.
O Brasil já vende US$ 900 milhões anuais de derivados de petróleo à Venezuela, o que parece um contra-senso (o país vizinho é o quinto maior exportador mundial), mas não é. O Brasil importa petróleo e, ao processá-lo, gera derivados em quantidade que pode superar a demanda interna.
A Petrobrás já atua na exploração na Venezuela por meio da Perez Companc, empresa argentina recentemente comprada pela brasileira.
Marco Aurélio anotou tudo, para levar os pedidos ao governo brasileiro, tanto ao atual como ao próximo, na medida em que fez questão de deixar claro que sua missão teve aval completo do Itamaraty, embora tenha sido idealizada pelo futuro presidente.
O assessor diplomático de Lula chegou à Venezuela disposto a conversar apenas com representantes do governo Chávez, para não convalidar o que considera golpismo da oposição.
Mas mudou de idéia e, com a concordância do próprio Chávez, está disposto a dialogar com oposicionistas que "estejam comprometidos com uma solução democrática para a Venezuela".
Tem até um nome na agenda: Timoteo Zambrano, um social-democrata que é o coordenador, pelo lado oposicionista, do diálogo com o governo (até agora um diálogo de surdos).
Consultado sobre o nome, Chávez respondeu que seria "bom" o contato e contou que houve gestões para que ele próprio se encontrasse no exterior com Zambrano, o que acabou não acontecendo.
A recepção de Chávez a Marco Aurélio, sempre acompanhado pelo embaixador Ruy Nogueira, foi "exuberante", na definição do emissário de Lula.
Foi mesmo. À saída do Palácio de Miraflores, Chávez disse a Marco Aurélio: "Estás en tu pátria, hermano".
Os dois tinham agendado um encontro durante jantar ontem, mas Chávez localizou Marco Aurélio em pleno almoço na residência do embaixador brasileiro e pediu-lhe que fosse ao palácio antes de se avistar com César Gaviria, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), mediador do diálogo.
Chávez vira, no único canal estatal, a entrevista que Marco Aurélio dera após reunir-se com o vice-presidente José Vicente Rangel e se entusiasmara. Qualificou de "equilibradas e apropriadas" as palavras do enviado brasileiro.
As mesmas palavras, aliás, que Marco Aurélio repetiria após a conversa com Gaviria: "Não é o caso de oferecer mediação, porque é um problema que tem de ser resolvidos pelos venezuelanos. Mas, se o governo da Venezuela solicitar, podemos ver como o futuro governo brasileiro pode ajudar".
A viagem do emissário de Lula foi capa nos dois principais jornais locais ("El Nacional" e "El Universal") e flashes, nos telejornais, reproduziram suas três breves entrevistas aos jornalistas, após cada encontro. (CR)


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