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São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

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Decisão viola acordo, afirma opositor

DA REDAÇÃO

Com a prisão de Carlos Fernández, o governo violou o acordo contra a violência assinado no dia anterior com a oposição, na avaliação do presidente da Câmara Venezuelana da Indústria Alimentícia, Rafael Alfonzo.
"Nem esperaram secar a tinta", disse Alfonzo, que, além de diretor da Fedecámaras (associação presidida por Fernández), é um dos negociadores da oposição na mesa de diálogo com o governo mediada pela OEA (Organização dos Estados Americanos).
Para ele, a prisão é uma tentativa do governo de elevar a tensão política e criar uma "armadilha" para a oposição. "Eles gostariam que fizéssemos uma nova greve geral, mas não vamos cair na armadilha. O país será paralisado por culpa do governo, não da oposição", disse. Leia a seguir trechos da entrevista que Alfonzo concedeu à Folha ontem por telefone, de Caracas. (RW)
 

Folha - Como vocês receberam a notícia da prisão de Fernández?
Rafael Alfonzo -
É a primeira violação do acordo que acabamos de assinar. Nem secou a tinta e já estão violando o acordo. É um ato muito preocupante.

Folha - O governo alega que o Judiciário é independente. O sr. acha que o governo está por trás disso?
Alfonzo -
Deveria ser realmente um Poder independente, mas imagine que o juiz que decretou a prisão foi defensor dos atiradores de 11 de abril [acusados pelas 17 mortes ocorridas durante a manifestação que antecedeu o golpe que tirou Hugo Chávez do poder por dois dias]. É um caso realmente insólito. Que independência pode haver nesse caso?
Além disso, a forma da prisão foi totalmente ilegal. Eram oito homens armados, que dispararam no momento da prisão, não tinham um mandado com eles, não permitiram a presença de advogado nem que uma promotora entrasse no lugar. Só após altas horas da madrugada permitiram que o advogado falasse com ele.
Foi um procedimento totalmente ilegal. É a reação do governo diante do ato de ontem [anteontem" no qual apresentamos o resultado do "firmazo" [abaixo-assinado para a convocação de uma Constituinte ou o encurtamento do mandato de Chávez], com 4,4 milhões de assinaturas. Isso irritou o governo.

Folha - O governo acusa Carlos Fernández de rebelião, traição à pátria, instigação à delinquência...
Alfonzo -
São acusações vagas, sem cabimento, mal-intencionadas. É um caso político, mais que jurídico. Isso complementa o caso dos três militares achados mortos no mesmo dia da assinatura do acordo na mesa de negociação.

Folha - Não havia um clima menos tenso após o acordo?
Alfonzo -
Claro, mas assim que se anunciou a assinatura do acordo, apareceram mortos esses militares, atiraram pedras em jornalistas e agora o caso de Fernández.

Folha - O sr. acha que o governo tem a intenção de elevar a tensão?
Alfonzo -
Querem desviar a atenção das pessoas sobre as assinaturas que recolhemos e colocar a oposição numa situação difícil. É uma jogada política, mas não vamos cair nessa armadilha. O governo quer um bode expiatório para a catástrofe econômica que vem aí. Nós estamos reativando as indústrias, mas nos põem um controle de câmbio e de preços que vai impedir uma reativação como queremos. O governo gostaria que fizéssemos novamente uma greve geral, ou algo parecido, mas não vamos fazer isso, porque não vamos cair na armadilha. O país será paralisado por culpa do governo, por sua incompetência, não pela ação da oposição.


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