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Decisão viola acordo, afirma opositor
DA REDAÇÃO
Com a prisão de Carlos Fernández, o governo violou o acordo
contra a violência assinado no dia
anterior com a oposição, na avaliação do presidente da Câmara
Venezuelana da Indústria Alimentícia, Rafael Alfonzo.
"Nem esperaram secar a tinta",
disse Alfonzo, que, além de diretor da Fedecámaras (associação
presidida por Fernández), é um
dos negociadores da oposição na
mesa de diálogo com o governo
mediada pela OEA (Organização
dos Estados Americanos).
Para ele, a prisão é uma tentativa do governo de elevar a tensão
política e criar uma "armadilha"
para a oposição. "Eles gostariam
que fizéssemos uma nova greve
geral, mas não vamos cair na armadilha. O país será paralisado
por culpa do governo, não da
oposição", disse. Leia a seguir trechos da entrevista que Alfonzo
concedeu à Folha ontem por telefone, de Caracas.
(RW)
Folha - Como vocês receberam a
notícia da prisão de Fernández?
Rafael Alfonzo - É a primeira violação do acordo que acabamos de
assinar. Nem secou a tinta e já estão violando o acordo. É um ato
muito preocupante.
Folha - O governo alega que o Judiciário é independente. O sr. acha
que o governo está por trás disso?
Alfonzo - Deveria ser realmente
um Poder independente, mas
imagine que o juiz que decretou a
prisão foi defensor dos atiradores
de 11 de abril [acusados pelas 17
mortes ocorridas durante a manifestação que antecedeu o golpe
que tirou Hugo Chávez do poder
por dois dias]. É um caso realmente insólito. Que independência pode haver nesse caso?
Além disso, a forma da prisão
foi totalmente ilegal. Eram oito
homens armados, que dispararam no momento da prisão, não
tinham um mandado com eles,
não permitiram a presença de advogado nem que uma promotora
entrasse no lugar. Só após altas
horas da madrugada permitiram
que o advogado falasse com ele.
Foi um procedimento totalmente ilegal. É a reação do governo diante do ato de ontem [anteontem" no qual apresentamos o
resultado do "firmazo" [abaixo-assinado para a convocação de
uma Constituinte ou o encurtamento do mandato de Chávez],
com 4,4 milhões de assinaturas.
Isso irritou o governo.
Folha - O governo acusa Carlos
Fernández de rebelião, traição à
pátria, instigação à delinquência...
Alfonzo - São acusações vagas,
sem cabimento, mal-intencionadas. É um caso político, mais que
jurídico. Isso complementa o caso
dos três militares achados mortos
no mesmo dia da assinatura do
acordo na mesa de negociação.
Folha - Não havia um clima menos tenso após o acordo?
Alfonzo - Claro, mas assim que
se anunciou a assinatura do acordo, apareceram mortos esses militares, atiraram pedras em jornalistas e agora o caso de Fernández.
Folha - O sr. acha que o governo
tem a intenção de elevar a tensão?
Alfonzo - Querem desviar a atenção das pessoas sobre as assinaturas que recolhemos e colocar a
oposição numa situação difícil. É
uma jogada política, mas não vamos cair nessa armadilha. O governo quer um bode expiatório para a catástrofe econômica que
vem aí. Nós estamos reativando
as indústrias, mas nos põem um
controle de câmbio e de preços
que vai impedir uma reativação
como queremos. O governo gostaria que fizéssemos novamente
uma greve geral, ou algo parecido,
mas não vamos fazer isso, porque
não vamos cair na armadilha. O
país será paralisado por culpa do
governo, por sua incompetência,
não pela ação da oposição.
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