UOL


São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Israelenses andam com máscaras

MICHEL GAWENDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE TEL AVIV

O início do ataque no Iraque mudou a rotina escolar em Israel ontem e provocou novas suspensões de vôos ao país.
Segundo o Ministério da Educação, cerca de metade dos alunos da região de Tel Aviv não voltou para as aulas depois do feriado prolongado da festa judaica de Purim, iniciado na segunda-feira.
Os estudantes que foram à escola tiveram que levar suas máscaras antigás além do material de estudos. O governo instruiu a população a carregar as máscaras para o trabalho e à escola a partir de ontem, em preparação para um eventual ataque de mísseis iraquianos equipados com armas não-convencionais. Na Guerra do Golfo, em 1991, o Iraque lançou 39 mísseis Scud, de fabricação soviética, contra Israel, provocando danos materiais. As armas continham explosivos convencionais.
A empresa francesa Air France anunciou ontem que todos os seus vôos para Israel e a partir do país serão cancelados hoje devido à guerra. Outras empresas devem adotar a mesma posição. A britânica British Airways e a holandesa KLM já haviam anunciado a suspensão dos vôos anteontem.
Centenas de trabalhadores estrangeiros - entre eles filipinos, chineses, tailandeses e romenos - deixaram Israel ontem por temerem um ataque iraquiano.
Funcionários do Aeroporto Ben Gurion disseram à Folha que receberam instruções para continuarem o trabalho normalmente hoje. A empresa aérea israelense El Al disse que manterá seus vôos.
Muitos israelenses faziam ontem os últimos preparativos para um eventual ataque iraquiano e tentavam manter a rotina.
O comércio funcionou normalmente, o tráfego nas estradas que levam a Tel Aviv e Jerusalém ficaram congestionadas de manhã e no final da tarde. Nos ônibus e nas ruas, muitos carregavam caixas de papelão com as máscaras.
O governo abriu novos centros de informação ao público e linhas telefônicas para orientações sobre a guerra. Também começaram a funcionar ontem canais de rádio e TV com instruções 24 horas.
Rami Shenav, 35, professor de educação física, decidiu comprar o plástico e a fita adesiva para vedar um cômodo de seu apartamento em Tel Aviv somente hoje.
"Fiz tudo no último minuto. Não acho que o perigo seja muito grande e não estou com medo. Mas duas de minhas três filhas não foram para a escola hoje porque sentiram medo", disse ele.
Segundo instruções do governo, as casas do país devem ter um quarto com janelas, portas e saídas de ar isolados do exterior, para evitar a entrada de agentes químicos em caso de ataque não-convencional. Os abrigos antiaéreos também foram preparados.
A caixa Oshrat Ashkenazi, 22, disse que o estoque de rolos de náilon e fita adesiva terminou na manhã de ontem no supermercado onde trabalha, na cidade de Raanana, periferia de Tel Aviv.
Mas contou que, em casa, sua família usou náilon que sobrou da Guerra do Golfo. A preparação para um possível ataque também foi feita na noite de quarta-feira.
"Não me importo de morrer em um acidente de trânsito ou outro tipo de fatalidade. Mas não quero morrer em uma guerra, quando alguém quer me matar de propósito", disse, com a caixa com a máscara pendurada no ombro.
Mas também há israelenses que afirmam não temer a ameaça iraquiana. O empresário Nadav Shoshani, 27, disse que não levou a máscara para o trabalho nem preparou um quarto de seu apartamento e que sua namorada nem sequer retirou um kit de proteção nos centros de distribuição.
"Acho que não há muito perigo agora. Saddam Hussein é somente uma ameaça a mais para Israel, que já sofre o terrorismo palestino e outras ameaças árabes. Saddam poderá lançar mísseis contra Israel mais adiante, quanto não tiver outras alternativas para responder ao ataque americano."


Texto Anterior: EUA fazem ampla ofensiva no sul do Afeganistão
Próximo Texto: Ação militar será mais agressiva que em 91, diz general
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.