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Israelenses andam com máscaras
MICHEL GAWENDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE TEL AVIV
O início do ataque no Iraque
mudou a rotina escolar em Israel
ontem e provocou novas suspensões de vôos ao país.
Segundo o Ministério da Educação, cerca de metade dos alunos
da região de Tel Aviv não voltou
para as aulas depois do feriado
prolongado da festa judaica de
Purim, iniciado na segunda-feira.
Os estudantes que foram à escola tiveram que levar suas máscaras antigás além do material de estudos. O governo instruiu a população a carregar as máscaras para
o trabalho e à escola a partir de
ontem, em preparação para um
eventual ataque de mísseis iraquianos equipados com armas
não-convencionais. Na Guerra do
Golfo, em 1991, o Iraque lançou 39
mísseis Scud, de fabricação soviética, contra Israel, provocando
danos materiais. As armas continham explosivos convencionais.
A empresa francesa Air France
anunciou ontem que todos os
seus vôos para Israel e a partir do
país serão cancelados hoje devido
à guerra. Outras empresas devem
adotar a mesma posição. A britânica British Airways e a holandesa
KLM já haviam anunciado a suspensão dos vôos anteontem.
Centenas de trabalhadores estrangeiros - entre eles filipinos,
chineses, tailandeses e romenos
- deixaram Israel ontem por temerem um ataque iraquiano.
Funcionários do Aeroporto Ben
Gurion disseram à Folha que receberam instruções para continuarem o trabalho normalmente
hoje. A empresa aérea israelense
El Al disse que manterá seus vôos.
Muitos israelenses faziam ontem os últimos preparativos para
um eventual ataque iraquiano e
tentavam manter a rotina.
O comércio funcionou normalmente, o tráfego nas estradas que
levam a Tel Aviv e Jerusalém ficaram congestionadas de manhã e
no final da tarde. Nos ônibus e nas
ruas, muitos carregavam caixas
de papelão com as máscaras.
O governo abriu novos centros
de informação ao público e linhas
telefônicas para orientações sobre
a guerra. Também começaram a
funcionar ontem canais de rádio e
TV com instruções 24 horas.
Rami Shenav, 35, professor de
educação física, decidiu comprar
o plástico e a fita adesiva para vedar um cômodo de seu apartamento em Tel Aviv somente hoje.
"Fiz tudo no último minuto.
Não acho que o perigo seja muito
grande e não estou com medo.
Mas duas de minhas três filhas
não foram para a escola hoje porque sentiram medo", disse ele.
Segundo instruções do governo,
as casas do país devem ter um
quarto com janelas, portas e saídas de ar isolados do exterior, para evitar a entrada de agentes químicos em caso de ataque não-convencional. Os abrigos antiaéreos também foram preparados.
A caixa Oshrat Ashkenazi, 22,
disse que o estoque de rolos de
náilon e fita adesiva terminou na
manhã de ontem no supermercado onde trabalha, na cidade de
Raanana, periferia de Tel Aviv.
Mas contou que, em casa, sua
família usou náilon que sobrou da
Guerra do Golfo. A preparação
para um possível ataque também
foi feita na noite de quarta-feira.
"Não me importo de morrer em
um acidente de trânsito ou outro
tipo de fatalidade. Mas não quero
morrer em uma guerra, quando
alguém quer me matar de propósito", disse, com a caixa com a
máscara pendurada no ombro.
Mas também há israelenses que
afirmam não temer a ameaça iraquiana. O empresário Nadav
Shoshani, 27, disse que não levou
a máscara para o trabalho nem
preparou um quarto de seu apartamento e que sua namorada nem
sequer retirou um kit de proteção
nos centros de distribuição.
"Acho que não há muito perigo
agora. Saddam Hussein é somente uma ameaça a mais para Israel,
que já sofre o terrorismo palestino
e outras ameaças árabes. Saddam
poderá lançar mísseis contra Israel mais adiante, quanto não tiver outras alternativas para responder ao ataque americano."
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