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Ação militar será mais agressiva que em 91, diz general
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A atual missão americana parece ser mudar o regime iraquiano
após a deposição do ditador Saddam Hussein. Ela demandará
uma campanha militar mais
agressiva que a realizada na Guerra do Golfo (1991). Forças terrestres serão usadas rapidamente e
haverá pesados ataques aéreos.
A análise é de William L. Nash,
general da reserva do Exército dos
EUA e diretor do Centro para
Ação Preventiva do Council on
Foreign Relations (Washington).
Na ativa, ele comandou uma brigada blindada americana durante
a operação Tempestade no Deserto, na Guerra do Golfo.
De acordo com ele, durante essa
operação, houve por volta de 40
dias de bombardeios antes do ataque por terra. Desta vez, as forças
terrestres serão necessárias bem
mais cedo por conta do tipo de
missão que os americanos querem realizar no Iraque.
Leia a seguir a entrevista de
Nash, por telefone, à Folha.
Folha - A ofensiva contra o Iraque
foi lançada. Quais são as reais razões da determinação americana?
William L. Nash - Cheguei à conclusão, após observar alguns documentos do Departamento da
Defesa, de que é importante levar
em conta a preocupação sincera
do presidente [George W.] Bush
com a possibilidade de Saddam
passar armas de destruição em
massa a grupos terroristas. Com o
tempo, ele poderá fornecer essas
armas a grupos que não hesitariam em usá-las contra os EUA.
Não creio que seja verdadeiro o
argumento de que o petróleo iraquiano é a principal motivação
americana. Baseado nos documentos sobre o arsenal iraquiano
a que tive acesso, devo dizer que
não acredito nisso.
Folha - Do ponto de vista militar,
a guerra é necessária?
Nash - A ameaça [iraquiana] de
utilizar armas de destruição em
massa é muito grave e constituiu
uma séria ameaça aos EUA. Assim, não é, de forma nenhuma,
inadequado que o presidente
[Bush] esteja bastante preocupado com o assunto.
Não tenho certeza de que, na
prática, essa ameaça seja tão importante quanto parece. Isso sobretudo no que se refere ao aspecto espaciotemporal. Ou seja, não
sei se devemos tomar uma posição radical agora porque a ameaça talvez ainda não seja tão séria.
Na verdade, a questão da estratégia militar não é tão relevante
quanto a avaliação da ameaça representada pelo Iraque. Por outro
lado, como parte da comunidade
internacional começa a mostrar-se disposta a exigir militarmente o
desarmamento do Iraque, podemos imaginar que os dirigentes
de um bom número de países estejam convencidos de que Saddam é realmente perigoso.
Folha - A nova guerra será similar
à Guerra do Golfo?
Nash - Haverá similaridades, porém é muito importante ter em
mente que as duas missões são diferentes. Em 1991, a missão era
forçar a saída das tropas de Saddam do Kuait. Assim que a decisão de usar força militar foi tomada, aquela missão foi cumprida
rapidamente e com sucesso.
A missão agora parece ser mudar o regime iraquiano após a deposição de Saddam. Ela demandará uma campanha militar mais
agressiva. Certamente, veremos o
uso de forças terrestres rapidamente, além de pesados ataques
aéreos. Durante a operação Tempestade no Deserto, houve por
volta de 40 dias de bombardeios
antes do ataque por terra. Desta
vez, as forças terrestres serão necessárias bem mais cedo por conta do tipo de missão.
Folha - Especula-se que o Iraque
seja bem mais fraco hoje que em
1991. Os EUA poderão ter dificuldade para cumprir sua missão?
Nash - No geral, sem dúvida, as
forças iraquianas são mais frágeis
agora que na década passada. No
entanto, por causa da diferença
essencial entre as duas missões,
haverá partes da campanha militar que serão mais difíceis agora
que no passado. Digo isso porque
a decisão de depor um regime significa que o inimigo fica com sua
própria sobrevivência ameaçada,
podendo fazer o que quer que seja
para manter-se vivo.
Com certeza, haverá bolsões de
resistência que os militares americanos terão muita dificuldade em
derrotar. As forças dos EUA têm
capacidade para derrotar as forças iraquianas sem grandes problemas. Porém, por conta da forte
possibilidade de que haja combates urbanos, parte da missão dos
americanos tende a ser duríssima.
Folha - Combates urbanos costumam provocar a morte de inúmeros civis, não é?
Nash - Tenho certeza de que os
militares americanos não terão civis como seus alvos. O problema é
que, indubitavelmente, Saddam
colocará alvos militares, sobretudo aqueles associados a armas de
destruição em massa, em zonas
urbanas. Com isso, as forças aliadas serão obrigadas a atacar algumas das áreas em que vive a população civil. Não haverá combates urbanos simplesmente para
tomar terreno de Saddam, mas
porque as zonas urbanas deverão
ser usadas por ele para esconder
material militar.
Folha - Por que os EUA não tratam
a Coréia do Norte como o Iraque?
Nash - A questão está diretamente ligada à probabilidade de
um país fornecer armas de destruição em massa a terroristas,
que não hesitariam em usá-las
contra os EUA. Sim, a Coréia do
Norte é um problema, mas ela dificilmente poderia fornecer armas
nucleares a terroristas capazes de
utilizá-las internacionalmente.
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