São Paulo, sábado, 21 de março de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice LÍBANO NA MIRA Chamoun quer saída de sírios e israelenses Líder libanês pede fim da "dupla ocupação'
PAULO DANIEL FARAH Folha - A resolução 425 da ONU (que pede a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano) completou 20 anos, nesta semana, e Israel estuda sair da região. Como o sr. avalia essa ocupação? Dory Chamoun - Creio que ela deveria acabar. O sul do Líbano, hoje em dia, é uma zona de guerra. Os cidadãos estão vivendo em péssimas e inaceitáveis condições e isso gera graves problemas sociais. Soldados morreram na região e isso não é bom para o moral do Exército. Israel só tem a ganhar com a retirada. Folha - A Síria mantém 35 mil soldados no Líbano. O sr. acha que essa presença é necessária "para estabilizar a situação do país e evitar nova guerra civil", como alegam os sírios? Chamoun - Não, não há razão alguma que justifique tal presença. O Líbano enfrenta uma dupla ocupação. Israel ocupa 11% do território libanês e o resto todo é ocupado pela Síria. Todas as decisões são tomadas pelos sírios. Folha - Por que seu partido boicotou as eleições de 92 e 96? Chamoun - As leis eleitorais eram totalmente inconstitucionais. Até o Tribunal Eleitoral declarou as leis inconstitucionais e seu presidente teve de renunciar. Todas as candidaturas foram analisadas em Damasco (capital da Síria). Folha - O sr. acha que a suspensão da decisão americana que proibia a seus cidadãos as viagens ao Líbano significa que a atitude americana mudou? Chamoun - Percebemos algumas melhoras na atitude dos EUA. A secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright, decidiu visitar o Líbano e não viajar via Damasco. Com isso, ela disse: "nós consideramos o Líbano um país independente e, consequentemente, nos reunimos com os libaneses sem avisar os sírios". Folha - O número de descendentes de libaneses no Brasil (cerca de 6 milhões) é maior do que a população do Líbano (3 milhões). Que mensagem o sr. trouxe a eles? Chamoun - Vim conscientizá-los da terrível situação que afeta o Líbano e pedir sua ajuda, política ou econômica. Folha - Seu partido é formado por pessoas de diferentes religiões. Uma experiência nova no Líbano? Chamoun - Não, há outros partidos multiconfessionais, como o Partido Comunista. O PNL é um espelho de toda a população libanesa e, por isso, é composto de diversas religiões. Folha - O presidente FHC deve visitar o Líbano neste ano. O que o senhor espera da visita? Chamoun - Espero que ele não se reúna apenas com as lideranças oficiais, mas que também se encontre com os partidos de oposição, como Albright fez. Folha - A visita do papa ao Líbano, em 1996, trouxe alguma mudança significativa ao país? Chamoun - O papa trouxe ânimo a nós. As manifestações surpreenderam todos, até os cristãos. Os que são contra os cristãos dizem: "eles são apenas 20%, 25% da população". Pelo menos um milhão de cristãos foram às ruas num único dia. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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