São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LÍBANO NA MIRA
Chamoun quer saída de sírios e israelenses
Líder libanês pede fim da "dupla ocupação'

PAULO DANIEL FARAH
da Redação

O presidente do Partido Nacional Liberal libanês, Dory Chamoun, no Brasil desde o último dia 15, veio, segundo ele, "para denunciar a dupla ocupação (israelense e síria) que o Líbano enfrenta".
Principal oposicionista cristão que ainda vive no país (os outros estão exilados), afirmou que "é muito importante que os brasileiros saibam o que se passa no Líbano".
Dory Chamoun, 66, pertence a uma das famílias mais atuantes na política libanesa, que já lhe valeu diversas comparações com o clã Kennedy. Seu pai, Camille Chamoun, foi presidente do Líbano de 1952 a 1958.
Durante o seu governo, Gamal Abd al Nasser assumiu o poder no Egito e, com seu nacionalismo pan-árabe, propôs a criação da República Árabe Unida, formada em 1958 pela Síria e pelo Egito. "Graças a ele, o Líbano não aderiu a essa união", disse Chamoun.
Em 1990, após o assassinato de seu irmão Danny, Dory Chamoun tornou-se o único herdeiro político de seu pai e assumiu a Presidência do PNL.
Um dos três membros mais importantes da coalizão de oposição à presença síria no país, formada ainda pelo general Michel Aoun (líder cristão maronita exilado na França) e pelo ex-presidente (1982-1988) Amin Gemayel, Dory Chamoun criticou o atual governo, que reúne muçulmanos e cristãos e é apoiado pela Síria.


Folha - A resolução 425 da ONU (que pede a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano) completou 20 anos, nesta semana, e Israel estuda sair da região. Como o sr. avalia essa ocupação?
Dory Chamoun -
Creio que ela deveria acabar. O sul do Líbano, hoje em dia, é uma zona de guerra. Os cidadãos estão vivendo em péssimas e inaceitáveis condições e isso gera graves problemas sociais. Soldados morreram na região e isso não é bom para o moral do Exército. Israel só tem a ganhar com a retirada.
Folha - A Síria mantém 35 mil soldados no Líbano. O sr. acha que essa presença é necessária "para estabilizar a situação do país e evitar nova guerra civil", como alegam os sírios?
Chamoun -
Não, não há razão alguma que justifique tal presença. O Líbano enfrenta uma dupla ocupação. Israel ocupa 11% do território libanês e o resto todo é ocupado pela Síria. Todas as decisões são tomadas pelos sírios.
Folha - Por que seu partido boicotou as eleições de 92 e 96?
Chamoun -
As leis eleitorais eram totalmente inconstitucionais. Até o Tribunal Eleitoral declarou as leis inconstitucionais e seu presidente teve de renunciar. Todas as candidaturas foram analisadas em Damasco (capital da Síria).
Folha - O sr. acha que a suspensão da decisão americana que proibia a seus cidadãos as viagens ao Líbano significa que a atitude americana mudou?
Chamoun -
Percebemos algumas melhoras na atitude dos EUA. A secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright, decidiu visitar o Líbano e não viajar via Damasco. Com isso, ela disse: "nós consideramos o Líbano um país independente e, consequentemente, nos reunimos com os libaneses sem avisar os sírios".
Folha - O número de descendentes de libaneses no Brasil (cerca de 6 milhões) é maior do que a população do Líbano (3 milhões). Que mensagem o sr. trouxe a eles?
Chamoun -
Vim conscientizá-los da terrível situação que afeta o Líbano e pedir sua ajuda, política ou econômica.
Folha - Seu partido é formado por pessoas de diferentes religiões. Uma experiência nova no Líbano?
Chamoun -
Não, há outros partidos multiconfessionais, como o Partido Comunista. O PNL é um espelho de toda a população libanesa e, por isso, é composto de diversas religiões.
Folha - O presidente FHC deve visitar o Líbano neste ano. O que o senhor espera da visita?
Chamoun -
Espero que ele não se reúna apenas com as lideranças oficiais, mas que também se encontre com os partidos de oposição, como Albright fez.
Folha - A visita do papa ao Líbano, em 1996, trouxe alguma mudança significativa ao país?
Chamoun -
O papa trouxe ânimo a nós. As manifestações surpreenderam todos, até os cristãos. Os que são contra os cristãos dizem: "eles são apenas 20%, 25% da população". Pelo menos um milhão de cristãos foram às ruas num único dia.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.