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Debate sobre remédios mais baratos se espalha
ANDREW POLLACK
DO "THE NEW YORK TIMES"
A defesa da patente de remédios
pelas gigantes farmacêuticas está
sob ataque de vários governos e
parece mostrar que as indústrias
erraram ao tentar impedir a venda de remédios mais baratos e o
tratamento a populações pobres
contaminadas pela Aids, doença
que rivaliza com as pestes da Idade Média.
O último conflito ocorreu anteontem, na África do Sul, quando 39 indústrias farmacêuticas retiraram uma ação judicial contra
uma lei do governo sul-africano
que autorizava a aquisição de remédios mais baratos para tratar a
doença.
O debate já havia irrompido em
outros países. O Brasil ameaçou
garantir uma licença compulsória, permitindo aos fabricantes locais a produção de remédios anti-Aids, cuja patente pertence a laboratórios estrangeiros.
E, na Tailândia, doentes e ativistas planejam validar legalmente a
produção de um remédio fabricado pela Bristol-Myers Squibb.
Até mesmo governos que
apoiavam o direito de patente estão recuando. Washington diz
que não irá mais pressionar os
países pobres, que autorizaram a
produção de genéricos para combater problemas de saúde pública,
desde que eles sigam as normas
gerais do Trips, acordo internacional de propriedade intelectual.
O Parlamento Europeu já expressou "solidariedade e apoio" à
África do Sul e ao Quênia, países
que têm se esforçado para ter
acesso a remédios mais baratos.
Até recentemente, a indústria
farmacêutica preocupava-se com
o fato de que a erosão dos direitos
de patentes em um país pudesse
se espalhar por outros.
"Havia um sentimento de que
um país contrário ao Trips desencadearia uma reação semelhante
em outros países", disse um executivo de um laboratório.
Mas, agora, a julgar pelos fatos
recentes, percebe-se que as farmacêuticas decidiram reduzir o
preço cobrado em países pobres
para aliviar a pressão sobre o sistema de patentes e atacar os fabricantes de genéricos.
No Brasil, a Merck baixou sensivelmente os preços dos remédios
contra a Aids para impedir que o
governo autorizasse a produção
local de remédios genéricos.
Mas ativistas dizem que o recente desconto reflete uma reação aos
baixos preços dos fabricantes de
genéricos na Índia.
Executivos das indústrias argumentam que as patentes não são
uma barreira para o tratamento
da Aids. Mesmo o preço cobrado
nos genéricos estaria fora do alcance de muitos países, cujos gastos em saúde pública estão abaixo
de US$ 10 por ano por pessoa.
As indústrias afirmam que,
além da pesquisa -que pode levar mais de uma década-, milhões de dólares são gastos em testes. E, quando lançados no mercado, os remédios podem ser facilmente copiados.
Para alguns países, por uma
questão de saúde pública, os remédios deveriam ser uma exceção ao direito de patente.
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