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AMÉRICA LATINA
Na avaliação brasileira, faltou habilidade a Gutiérrez; o prefeito de Quito, Paco Moncayo, é visto como sucessor
Brasil tentou reunir "amigos do Equador"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil tentou articular uma espécie de "grupo de amigos do
Equador", a exemplo do que já
houve para a Venezuela, mas não
houve tempo. Agora, avalia que o
vice-presidente Alfredo Palacio,
que assume a presidência, é um
médico sem tradição e sem apoios
políticos e que o mais provável é
haver eleições em quatro meses.
À noite, o Itamaraty divulgou
nota de dois parágrafos afirmando que acompanha a situação no
Equador "com preocupação" e fazendo um "apelo às forças políticas": que tentem "conciliar suas
posições em torno de solução
constitucional que assegure a restauração da normalidade institucional, da estabilidade interna e
da paz social para todos os equatorianos, com respeito aos direitos humanos".
Com a perspectiva de que o vice
Palacio exerça uma Presidência
efêmera, não houve intencionalmente menção ao nome dele. O
Brasil preferiu destacar o processo, sem se comprometer com pessoas nem com soluções específicas.
O prefeito de Quito, Paco Moncayo, é um dos principais líderes
da oposição e considerado um
candidato provável numa eventual eleição daqui a quatro meses.
Ele mantém bons contatos com o
Brasil e chegou a admitir a intermediação de países vizinhos para
a solução para a crise.
Uma dessas saídas seria como a
arquitetada no Peru: um governo
de coalizão para dar sobrevida ao
governo até a sucessão presidencial normal.
Na avaliação brasileira, porém,
faltou habilidade política para o
presidente Lucio Gutiérrez, que
foi eleito com plataforma e alianças de esquerda mas acabou deslizando para o centro e, enfim, para
a direita. Perdeu o que tinha, não
conquistou o que não tinha.
Como não soube articular
apoios dos aliados nem negociar
com a multifacetada oposição,
Gutiérrez estava com 4% de popularidade, segundo pesquisas
que chegaram ao Planalto. O golpe final foi quando a crise chegou
às ruas e as Forças Armadas lavaram as mãos. "Falência múltipla
de órgãos", comparou um diplomata brasileiro.
A crise é tida como essencialmente política, já que a economia
tem bons indicadores e avaliação
positiva, conforme destacou ontem o assessor internacional do
Planalto, Marco Aurélio Garcia,
que esteve no país duas semanas
atrás, almoçou com Gutiérrez e
teve contatos com a oposição, inclusive com o prefeito Moncayo.
Segundo Garcia, a inflação no
Equador é de 1,2% ao ano, a menor do continente, e o país está se
beneficiando dos preços internacionais do petróleo e da queda do
dólar (a moeda equatoriana é dolarizada). "O problema é político."
Na terça-feira passada, durante
encontro de chanceleres da América do Sul, no Itamaraty, o governo brasileiro chegou a assinar um
memorando de intenções com o
equatoriano para três grandes
projetos: construção da estrada
Quito-Guayaquil, ampliação do
aeroporto de Tena (região ao norte do país) e a venda de aviões da
Embraer.
"Tenho certeza de que, qualquer que seja o novo presidente,
vai manter esses projetos, tão importantes para os dois países",
disse Garcia.
Ainda ontem, antes da queda de
Gutierrez, seus assessores telefonaram para Marco Aurélio Garcia
sondando sobre a possibilidade
de retomar a idéia do "grupo de
amigos", que poderia ter a participação, por exemplo, do ex-premiê da Espanha Felipe Gonzáles e
do ex-presidente brasileiro José
Sarney.
Às 16h30, porém, descendo de
um avião em São Paulo, Garcia
soube da queda de Gutiérrez.
Quando ligou para o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, ele já tinha sabido pelos serviços de notícias em tempo real.
Não está prevista a ida de nenhum
interlocutor brasileiro para Quito.
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