São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Segundo presidente, os mais de 50 corpos seriam de reféns xiitas; testemunhas falam em 19 mortos em estádio

Governo diz ter achado cadáveres no Tigre

DA REDAÇÃO

Mais de 70 cadáveres emergiram ontem no Iraque em dois locais diferentes, segundo relatos do governo e de testemunhas, no mesmo dia em que quatro carros-bomba mataram nove pessoas na capital. Um dos veículos explodiu perto da sede do partido do premiê Iyad Allawi, e um outro foi detonado perto de sua casa.
O governo iraquiano anunciou o resgate de mais de 50 corpos de um trecho do rio Tigre perto de Bagdá. O presidente Jalal Talabani afirmou que os mortos foram identificados como parte do grupo de xiitas seqüestrados na semana passada por insurgentes, mas não deixou claro quando o resgate ocorreu. Falah al Permani, do departamento distrital de saúde, afirmou que cerca de 50 corpos foram resgatados do rio nas últimas três semanas. Mas não se sabe se são os mesmos corpos citados pelo presidente.
Outros 19 cadáveres, supostamente de soldados iraquianos, foram encontrados em um estádio de futebol a noroeste da capital, segundo testemunhas. Não há ainda confirmação oficial do fato.
Para Talabani, os corpos achados no rio são a prova de que as notícias de que insurgentes haviam seqüestrado mais de cem xiitas na cidade de Madain, 20 km ao sul de Bagdá, eram reais.
Rumores que circularam no início desta semana. A versão de que o seqüestro seria um embuste ganhou força depois que as forças iraquianas realizaram uma grande operação de resgate na cidade e não encontraram nenhum refém.
"Terroristas cometeram crimes aqui. Não é verdade que não havia reféns. Havia. Eles foram mortos, e os corpos deles foram jogados no Tigre", disse presidente a jornalistas. "Temos o nome completo daqueles que foram mortos e dos criminosos responsáveis."
Talabani disse que o premiê Iyad Allawi "lidaria com a questão" e que os detalhes -incluindo os nomes- seriam divulgados nos próximos dias.
Madain está em um dos vértices do chamado Triângulo Sunita, um bastião da insurgência iraquiana sobre o qual as incipientes forças iraquianas e as tropas de ocupação têm pouco controle. Na cidade, basicamente agrícola, vivem aproximadamente tantas famílias da minoria sunita quanto da maioria xiita.
Notícias como as da última semana, sobre seqüestros de grupos de uma linha pelos de outra, são freqüentes ali. Policiais e funcionários locais dizem que a prática de matar as vítimas e jogar os cadáveres no rio também é relativamente corriqueira.

Paredão
Já os corpos dos soldados, segundo testemunhas, estavam cravejados de balas e foram encontrados jazendo apoiados em uma parede manchada de sangue em um estádio de Haditha, 220 km a noroeste de Bagdá.
Os taxistas Rauf Salih e Ousama Halim disseram à agência de notícias Associated Press ter ouvido tiros e acorrido ao estádio, onde encontraram os corpos. Um repórter iraquiano corroborou a versão. A agência Reuters divulgou que os homens pertenciam à Guarda Nacional iraquiana, mas não informou como obteve a identificação.
Moradores da cidade disseram crer que as vítimas, embora usassem trajes civis, fossem de soldados iraquianos capturados por insurgentes em uma folga de trabalho. Mas o repórter disse não ter visto nenhum documento que os identificasse.
Embora parte dos relatos sobre assassinatos em massa de policiais e soldados iraquianos tenha se provado falsa, incidentes dessa natureza ocorreram no passado. Em outubro, a nordeste da capital, insurgentes emboscaram um ônibus que levava soldados desarmados de folga e mataram cerca de 50 deles.
Além disso, nos últimos dias, Haditha foi palco de confrontos entre a Guarda Nacional, apoiada por soldados americanos, e insurgentes.
O comando americano na região afirmou que não podia confirmar as mortes no estádio. As Forças Armadas do Iraque tampouco tinham informações.
A descoberta dos corpos ocorre às vésperas do anúncio do novo gabinete iraquiano, que vem sendo negociado pelo recém-empossado governo, formado por representantes da maioria árabe xiita e das minorias curda e árabe sunita. Segundo o curdo Talabani, o anúncio dos novos ministros deve ser feito na tarde de hoje


Com agências internacionais

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