São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Pesquisa de reputado centro iraquiano mostra que, para 88%, os EUA são ocupantes, e não libertadores

Maioria no Iraque apóia Al Sadr, diz pesquisa

Muhammed Muheisen/Associated Press
Cinegrafista registra imagens dos estragos na residência de Chalabi, em Bagdá, após a revista feita pela polícia com apoio dos EUA


DA REDAÇÃO

Uma pesquisa citada ontem pelo jornal britânico "Financial Times" mostrou um crescimento do apoio dos iraquianos ao clérigo radical xiita Moqtada al Sadr, que os EUA prometeram "prender ou matar" por ter liderado um levante contra a ocupação no início de abril. O levantamento, feito antes do escândalo de tortura na prisão bagdali de Abu Ghraib, mostra ainda que 88% dos iraquianos vêem as forças dos EUA como ocupantes -e não libertadoras ou mantenedoras da paz, como elas se autodenominam.
A pesquisa foi conduzida pelo Centro Iraquiano de Pesquisa e Estudos Estratégicos, e parte das perguntas foi enviada pela própria Autoridade Provisória da Coalizão, liderada pelos EUA. O resultado da pesquisa só será divulgado oficialmente na próxima semana, mas o "Financial Times" antecipou parte dos resultados.
Indagados sobre qual a figura mais influente no Iraque, os 1.600 entrevistados colocaram em primeiro lugar o grão-aiatolá Ali al Sistani, seguido por Al Sadr.
Ao todo, 32% disseram "apoiar fortemente Al Sadr" e outros 36% afirmaram apoiá-lo "em alguma instância". O resultado surpreende, porque Al Sadr não tem o apoio de outros líderes influentes, como Al Sistani, mas mostra que o discurso radical ganhou adeptos em 14 meses de ocupação.
Saadun Duleimi, diretor do centro, disse que mais da metade dos entrevistados querem que as forças de coalizão deixem imediatamente o Iraque -um salto em relação aos 20% que fizeram a mesma demanda em outubro, data da pesquisa anterior.
A data do novo estudo não foi divulgada, mas, como a pesquisa precede as revelações sobre torturas praticadas por militares americanos contra prisioneiros iraquianos e a intensificação dos confrontos entre as forças dos EUA e a milícia de Al Sadr na região da cidade sagrada xiita de Najaf, é possível que os números tenham piorado para os EUA.
"Os iraquianos sempre comparam as ações americanas com as promessas americanas, e agora se abriu um abismo de credibilidade", disse Duleimi. "Nesse ambiente, os confrontos deram credibilidade a Moqtada, pois ele é o único iraquiano a se levantar contra as forças de ocupação.
Outro episódio que pode avariar a credibilidade americana é o ataque perto da fronteira com a síria que matou mais de 40 iraquianos, anteontem. Moradores e autoridades locais afirmam que as vítimas eram convidados de um casamento, mas os EUA negam e dizem que o ataque era parte de uma ação contra combatentes estrangeiros, que freqüentemente entrariam no Iraque pela Síria.
O general James Mattis, comandante da divisão dos marines responsável pela região, disse a jornalistas: "Quem vai para o meio do deserto, a 16 km da fronteira síria, promover um casamento a 130 km da civilização mais próxima? Não sejamos ingênuos. Coisas ruins acontecem na guerra".
A TV por satélite Al Arabiya exibiu imagens de crianças e mulheres mortas supostamente no local.

Bush
Apesar de faltarem apenas 41 dias para a transição da APC para um governo interino iraquiano e esse governo ainda não ter sido definido, o presidente dos EUA, George W. Bush, comparou ontem os iraquianos a crianças aprendendo a andar de bicicleta e disse que eles "já podem tirar as rodinhas". Bush foi ao Capitólio conversar com congressistas republicanos, preocupados com a queda de sua popularidade.
"Foram dois meses difíceis para o presidente, especialmente em relação ao Iraque, e ele esteve aqui para lembrar os colegas de que temos uma política e essa política será dura", disse o senador Rick Santorum após o encontro, que a imprensa não acompanhou.
Bush recebeu anteontem o premiê italiano, Silvio Berlusconi, que prometeu manter suas tropas no país após 30 de junho. Mas ontem, em um debate no Senado italiano, Berlusconi, um dos maiores aliados de Bush na questão, disse que a Itália era contrária a guerra, "mas o governo dos EUA tomou sua decisão pensando que o país estava ameaçado".

Com agências internacionais

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