São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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Polícia invade casa de aliado dos EUA

DA REDAÇÃO

Policiais iraquianos acompanhados de soldados dos EUA invadiram e revistaram ontem a casa e dois escritórios de Ahmed Chalabi, integrante do Conselho de Governo Iraquiano que, no passado, chegou a ser cotado por Washington para liderar o novo governo do país. Três seguranças foram presos, e computadores e documentos foram apreendidos.
A rede de TV CBS, citando "autoridades graduadas do governo americano", disse que Chalabi teria passado informações secretas sobre os EUA para o Irã. "As provas mostram que Chalabi deu pessoalmente a membros da inteligência iraniana informações tão sensíveis que... poderiam causar a morte de americanos", disse a rede em um noticiário noturno.
Não houve confirmação independente da notícia.
Os EUA não mantêm relação diplomática com o Irã, país que o presidente George W. Bush colocou no chamado "Eixo do Mal" com o Iraque e a Coréia do Norte.
Na terça-feira, Washington anunciara a suspensão de um auxílio de US$ 340 mil mensais ao Congresso Nacional Iraquiano, grupo liderado por Chalabi que fazia, do exílio, oposição à ditadura de Saddam Hussein. Segundo relatório do Congresso, o Departamento de Estado deu ao iraquiano US$ 33 milhões desde março de 2000. O Pentágono e outras agências do governo também fizeram doações.
Mas, desde a derrubada do regime, em abril de 2003, o líder do CNI -impopular em seu país- vem perdendo prestígio junto à administração americana.
Chalabi, um empresário xiita sentenciado a 22 anos de prisão na Jordânia por seu envolvimento em um escândalo bancário em 1992, foi uma das principais fontes de informação para os EUA sobre o suposto arsenal de destruição em massa de Saddam, até hoje não encontrado. Muito do que ele dissera se mostrou falso.
Autoridades dos EUA reclamam também de sua interferência na investigação que apura a corrupção no programa de troca Petróleo por Comida, gerido pela ONU durante os 13 anos em que o Iraque esteve submetido a sanções econômicas, de 1991 a 2003.

"Perseguição"
O porta-voz da Autoridade Provisória da Coalizão, Dan Senor, disse que a operação de ontem não tem relação com o inquérito. O governo americano, entretanto, não revelou o motivo da busca.
O empresário acusou os EUA de persegui-lo politicamente por discordar da proposta de Washington para a transição iraquiana. "Minha casa foi atacada", disse ele em uma entrevista coletiva. "Somos amigos da América. Mas, quando a América trata seus amigos assim, ela se mete em problemas", afirmou, dizendo que a polícia invadiu seu quarto com pistolas e o acordou. Além de documentos do programa da ONU e de cartas do conselho de governo, teria sido apreendida uma "cópia valiosa do Alcorão".
Indagado sobre como definiria sua atual relação com a Autoridade Provisória da Coalizão, Chalabi respondeu: "Inexistente". "Agora eu estou exigindo políticas para libertar o povo iraquiano e para dar ao país total soberania, colocando as coisas de uma forma que eles [as autoridades americanas] não gostam", disse. Os EUA defendem que o governo interino iraquiano, que assumirá o país em 30 de junho, goze apenas de soberania parcial.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Richard Boucher, afirmou que as razões da invasão "são claramente investigativas, não políticas". Já o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, disse que "não sabia que haveria buscas em uma residência" e pediu que as perguntas fossem feitas a autoridades iraquianas.


Com agências internacionais

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