UOL


São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-empresa de Cheney leva US$ 800 milhões

ERIC LESER
DO "LE MONDE", EM NOVA YORK

A produção de petróleo deve ser retomada amanhã no Iraque. A reconstrução do país foi entregue a um grupo reduzido de empresas norte-americanas, sobretudo à Halliburton, especialista em engenharia de petróleo. Mas uma de suas filiais, a KBR (Kellogg Brown & Root), foi encarregada das refeições e uniformes de todos os militares norte-americanos que atuam no exterior.
Entre outubro de 1995 a agosto de 2000 a Halliburton teve como presidente Dick Cheney, atual vice-presidente americano.
No total, a empresa obteve mais de US$ 800 milhões em contratos, ou um quarto do orçamento (US$ 2,6 bilhões) aprovado para a reconstrução iraquiana.
Os passos mais recentes dessa preferência datam de 8 de março, quando a intendência do Exército atribuiu à KBR um contrato de US$ 71,3 milhões para permitir que instalações petrolíferas iraquianas voltassem a funcionar.
As cláusulas não foram divulgadas. O Pentágono não fez concorrência e evocou "a necessidade de respeitar segredos militares". O governo Bush foi acusado por deputados democratas de favorecimento de uma única empresa.
Com o passar dos dias as críticas diminuíram. Mas os contratos da Halliburton são bem mais importantes do que se supunha. O grupo, por exemplo, abastece outras bases terrestres do golfo, tendo faturado US$ 425 milhões.
Outra surpresa: o custo dos consertos em instalações de petróleo foi triplicado e está hoje em US$ 213,7 milhões. Alguns especialistas argumentam que o estado dos campos petrolíferos de Kirkuk e de Basra era bem pior que o imaginado. A falta de manutenção e as pilhagens pioraram o quadro.
Foi também descoberto que os contratos da KBR vão bem além dos reparos de urgência nos poços e da eventual extinção de incêndios. Em carta de 2 de maio, o general Robert Flowers, comandante da intendência, disse que caberia também à empresa fazer funcionar as instalações e distribuir o óleo cru. Afirmou que no final de agosto uma concorrência pública seria aberta.
Mas Gary Loew, encarregado das obras nos poços e refinarias do Iraque, disse que o prazo é muito curto e não será respeitado.
A base jurídica em benefício da Halliburton está num contrato fechado em dezembro de 2001 e com duração de dez anos.
"A Halliburton pode receber fortunas de um valor infinito", diz o deputado democrata Henry Waxman, que também protesta contra o fato de não terem ocorrido concorrências para a terceirização de tarefas. Ele ainda acusa a empresa de superfaturamento.
A empresa afirma que a escolha foi feita com base na experiência e que são infundadas as suspeitas de favorecimento. A experiência é real: entre 1992 e 1999, a KBR supriu as tropas americanas nos Bálcãs, recebendo US$ 1,8 bilhão. Outros US$ 103 milhões foram pagos na guerra do Afeganistão.



Texto Anterior: "Fogo amigo" pode acabar em corte marcial
Próximo Texto: Irã na mira: Atacar Irã é "opção", diz subsecretário dos EUA
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.