São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Situação em Najaf, principal cidade xiita, chega a impasse; bombardeio na véspera deixou 77 mortos

Confusão cerca o controle de templo xiita

Jim MacMillan/Associated Press
Militares dos EUA se protegem durante conflito em Najaf, cidade que abriga principal santuário xiita e cujo controle virou incógnita


DA REDAÇÃO

As tensões na cidade xiita de Najaf, no sul do Iraque, chegaram ontem a um impasse quando, após confrontos e bombas que deixaram quase 80 mortos, não se sabia ao certo quem controlava o templo do imã Ali, o principal do xiismo. Horas depois de o governo interino iraquiano declarar que havia retomado o controle do santuário sem disparar um único tiro, testemunhas diziam que o templo ainda era ocupado pelo clérigo radical Moqtada al Sadr e sua milícia, o Exército Mehdi.
Membros da milícia também dominavam as ruas que levam ao templo, e, ao anoitecer, nenhum policial podia ser visto nas imediações. Segundo a rede americana de TV CNN, a polícia iraquiana disse que não controla o local.
O paradeiro do clérigo era desconhecido. Al Sadr estava refugiado no santuário desde o último dia 5, quando o atual conflito eclodiu, pondo fim a dois meses de trégua. Desde então, o Exército Mehdi enfrenta diariamente a polícia iraquiana e as forças americanas nas cercanias e, esporadicamente, nas ruas de Najaf.
Segundo o comando americano, o conflito já deixou mais de 400 insurgentes mortos. O número de baixas civis ainda é desconhecido. O Ministério da Saúde iraquiano não possui dados sobre a cidade sagrada.
Anteontem, os EUA bombardearam alvos da insurgência na cidade, tomando cuidado para não atingir nenhum dos vários locais sagrados que se situam em Najaf -as forças americanas temem que uma ofensiva mais drástica leve as tensões locais a se espalharem por todo o país, onde mais de 60% da população é xiita.
Segundo autoridades iraquianas, a operação e os confrontos nas cercanias da cidade deixaram pelo menos 77 iraquianos mortos e 70 feridos -não se sabe se há civis entre as vítimas.

"Negociações em curso"
Após o fracasso das negociações entre Al Sadr e Bagdá, o governo interino fez um ultimato, prometendo "ensinar" ao Exército Mehdi "uma lição para nunca esquecer". Mas, desde então, o que acontece na cidade se tornou uma enorme incógnita.
Os mesmos relatos de agências de notícias que traziam testemunhas afirmando que os rebeldes continuavam controlando o templo também davam conta de que eles haviam retirado do santuário suas armas e munições.
O Ministério do Interior, mais cedo, chegou a anunciar a "prisão de centenas de insurgentes" que estavam no santuário. Assessores de Al Sadr negaram a versão, dizendo que há "negociações em curso" sobre a entrega do controle ao principal líder xiita do Iraque, o grão-aiatolá moderado Ali al Sistani -que convalesce em Londres de uma cirurgia cardíaca.
A retomada do templo pelo governo iraquiano representaria uma enorme vitória para o premiê interino Iyad Allawi, que tem na insurgência xiita, centralizada em Najaf, a maior ameaça à estabilidade de seu governo interino.
Os EUA, que apesar da transição administrativa ainda mantêm no Iraque 135 mil soldados à frente de uma Força Multinacional de 160 mil, também encontram dificuldades para controlar a situação na região, que tem ameaçado a coesão da coalizão e levado ao limite a capacidade das tropas.
De Bagdá, o almirante americano Greg Slavonic disse não poder confirmar quem controla o templo em Najaf nem o paradeiro de Al Sadr. Os marines estão nas cercanias da cidade, após terem sua entrada no centro antigo, na semana passada, duramente criticada por líderes religiosos e políticos de dentro e de fora do Iraque.
Na capital, o foco de tensão é Sadr City, o bairro xiita onde 11 pessoas morreram desde a penúltima madrugada.
Também ontem, uma explosão de causa desconhecida matou três policiais em uma delegacia em Nassiriah, também no sul do país. Em Samarra, ao norte de Bagdá, dois soldados americanos foram mortos em uma emboscada, elevando para 947 os militares dos EUA mortos desde a invasão do Iraque, em março de 2003.
Em um website islâmico, um grupo disse ter seqüestrado 12 nepaleses que trabalham na reconstrução do país. A autenticidade do relato não pode ser comprovada.
A situação no Iraque, dono da segunda maior reserva de petróleo do mundo, levou os preços do barril do produto a dispararem, superando o recorde de US$ 49 nos mercados americanos.

Com agências internacionais

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