São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Democrata teve problemas para embarcar em vôos porque seu nome se parecia com o usado por suspeito

Ted Kennedy é confundido com terrorista

RACHEL L. SWARNS
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

A reunião tinha tudo para ser uma audiência como outra qualquer no Congresso. O senador democrata pelo Estado de Massachusetts Edward Kennedy discutia os problemas enfrentados por cidadãos comuns cujos nomes aparecem por engano em listas de suspeitos de terrorismo.
Então, para o espanto do público presente à audiência do Comitê do Judiciário no Senado, na quinta-feira, o próprio Kennedy se ofereceu como exemplo.
De 1º de março a 6 de abril, agentes de companhias aéreas tentaram impedir o senador de embarcar em aviões em cinco ocasiões. Tudo isso porque seu nome se assemelha ao nome falso utilizado por um suspeito de terrorismo que foi proibido de fazer viagens de avião nos Estados Unidos, disseram seus assessores e funcionários do governo.
Em lugar de reconhecer o senador septuagenário e grisalho como sendo o líder no Congresso cujo rosto aparece na televisão americana há décadas, os agentes das companhias de aviação civil o trataram como se tivessem topado com um fanático que poderia explodir um avião americano.
Descrevendo para o público atento um de seus encontros com um funcionário de uma empresa de aviação norte-americana, Ted Kennedy relatou: ""Ele disse: "O senhor não pode comprar uma passagem para Boston pela companhia". Perguntei: "Por que não?" Ele falou: "Não podemos lhe dizer a razão"."

Barrados por semelhança
Ted Kennedy afirmou que a sua situação realça a odisséia vivida por pessoas cujos nomes aparecem por engano nas listas de suspeitos de terrorismo ou se assemelham aos nomes de suspeitos que constam dessas listas.
Em abril, a União Americana em Defesa das Liberdades Civis (ACLU) processou o governo federal em nome de sete passageiros que afirmaram ter sido colocados erroneamente nessas listas de pessoas não autorizadas a voar e disseram que não conseguem encontrar uma maneira de limpar os seus nomes.
No caso do senador Ted Kennedy, supervisores das companhias aéreas acabaram por passar por cima das objeções, em todos os casos, e permitir que ele embarcasse. Mas, segundo os assessores do senador, o Departamento de Segurança Nacional levou várias semanas para resolver a questão completamente.
No início de abril, o secretário da Segurança Nacional, Tom Ridge, telefonou a Kennedy para pedir desculpas e prometer que o problema seria resolvido. Poucos dias mais tarde, porém, mais um representante de companhia área tentou impedir o senador de embarcar em um avião.
Segundo David Smith, porta-voz do senador, o nome falso usado pelo suspeito de terrorismo cujo nome constava da lista era Edward Kennedy.
Asa Hutchinson, do Departamento da Segurança Nacional, disse que viajantes que enfrentam problemas desse tipo devem contatar o ombudsman da Administração de Segurança nos Transportes, uma divisão da Segurança Nacional, que os ajudará a fazer o que for preciso para limpar os seus nomes.
Na segunda-feira, Hutchinson disse ao Congresso que autoridades da Segurança Nacional pretendem assumir o trabalho de checagem dos nomes de passageiros. Hoje o trabalho está a cargo das companhias aéreas, para assegurar que suspeitos de terrorismo não embarquem em aviões e que a polícia seja notificada prontamente sobre quaisquer riscos potenciais à segurança.

Falta informação
As pessoas que defendem o endurecimento dos procedimentos de verificação de passageiros disseram que o sistema atual é ineficaz. O argumento se baseia em que o governo não dá às companhias aéreas um conjunto completo de listas de nomes a vigiar, em parte porque essas informações são consideradas sigilosas.
Advogados que representam a ACLU disseram que a demora do governo e das companhias aéreas a reagir aos esforços de Ted Kennedy para limpar seu nome evidenciam o absurdo do sistema de proibição de vôo. ""Isso só vem confirmar tudo o que criticávamos em primeiro lugar", comentou Reginald Shulford, da ACLU. ""Se você é Ted Kennedy, pode pedir ajuda a um amigo. Se é um cidadão comum, não pode. Você pode reclamar no Departamento de Segurança Nacional, mas isso não adianta."


Tradução de Clara Allain


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