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ESTUDO
Pesquisa da ONU feita por estudiosos árabes revela atraso da região
Guerra ao terror radicaliza árabes; estagnação segue
DA REUTERS
A guerra contra o terrorismo liderada pelos EUA radicalizou
ainda mais os árabes, que estão
furiosos não só com o Ocidente,
mas com os seus governos autocráticos, sempre determinados a
reprimir seus direitos políticos,
diz estudo feito por estudiosos
árabes encomendado pela ONU e
divulgado ontem na Jordânia.
O Relatório de Desenvolvimento Humano Árabe de 2003, como
o anterior, afirma que os países
árabes ficam atrás de outras regiões em termos de disseminação
do conhecimento. A leitura de livros é relativamente limitada, a
educação dita submissão em lugar de pensamento crítico e a língua árabe está em crise.
O relatório culpa a falta de "canais pacíficos e efetivos de combate às injustiças" pela pressão
que leva os grupos políticos radicais a promover a mudança por
meio da violência.
Rima Khalaf Hunaidi, o funcionário da ONU encarregado de
coordenar a equipe que redigiu o
relatório, disse que o sentimento
antiárabe intensificado no Ocidente depois dos ataques terroristas do 11 de Setembro era também
um fator de radicalização dos árabes. Hunaidi disse que as oportunidades educacionais são ainda
mais limitadas agora, porque a
reação negativa aos árabes fez
com que mais jovens árabes
abandonassem a idéia de estudar
nos EUA -o número caiu 30%,
em média, entre 1999 e 2002.
O desencanto dos árabes é aprofundado pelos governos autocráticos de seus países, que agora têm
"uma desculpa espúria para restringir as liberdades, sob o pretexto de combater o terrorismo".
O relatório menciona a existência de uma severa censura, que reprime o acesso à internet. Os grupos não-governamentais trabalharam sob mais restrições em
2003, enquanto os avanços quanto aos direitos das mulheres foram revertidos em alguns países e
bastante limitados em outros.
O relatório da ONU, que se concentra em como enfrentar os desafios da modernidade, ilustra até
que ponto os 270 milhões de árabes estão atrasados em relação a
outras regiões em relação à "aquisição de conhecimento".
Diz que um romance de sucesso
vende em média 5.000 cópias nos
mercados árabes, ante centenas
de milhares em outras regiões. O
número de livros publicados no
mundo árabe não ultrapassa 1,1%
do total, ainda que os árabes sejam 5% da população mundial.
O relatório menciona currículos
educacionais nos países árabes
que "estimulam a submissão, a
obediência, a subordinação e a
transigência, em lugar do pensamento crítico". A ONU também
tratou da situação das universidades árabes, lastimando a falta de
autonomia e o controle direto dos
governos. Elas estão repletas de
laboratórios velhos e bibliotecas
medíocres. Os números de matrículas são mais um gesto político
para apaziguar a sociedade do
que um produto das necessidades
educacionais.
A língua árabe está em crise,
diante dos desafios da globalização. Apenas 10 mil livros foram
traduzidos para o árabe em todo o
milênio, o que equivale ao número de livros traduzidos para o espanhol a cada ano.
Pesquisa e desenvolvimento no
mundo árabe não respondem por
mais de 0,2% do PIB da região.
Menos de 1 em cada 20 alunos das
universidades estuda uma disciplina científica, ante 1 em 5 na Coréia do Sul. O número de linhas
telefônicas nos países árabes mal
equivale a 20% da média dos países desenvolvidos.
O acesso à mídia digital é também um dos mais baixos no mundo. Há 18 computadores por mil
habitantes, ante a média mundial
de 78. Apenas 1,6% dos mais de
270 milhões de árabes têm acesso
à internet, uma das médias mais
baixas do mundo, de acordo com
o relatório.
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