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São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2003

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ESTUDO

Pesquisa da ONU feita por estudiosos árabes revela atraso da região

Guerra ao terror radicaliza árabes; estagnação segue

DA REUTERS

A guerra contra o terrorismo liderada pelos EUA radicalizou ainda mais os árabes, que estão furiosos não só com o Ocidente, mas com os seus governos autocráticos, sempre determinados a reprimir seus direitos políticos, diz estudo feito por estudiosos árabes encomendado pela ONU e divulgado ontem na Jordânia.
O Relatório de Desenvolvimento Humano Árabe de 2003, como o anterior, afirma que os países árabes ficam atrás de outras regiões em termos de disseminação do conhecimento. A leitura de livros é relativamente limitada, a educação dita submissão em lugar de pensamento crítico e a língua árabe está em crise.
O relatório culpa a falta de "canais pacíficos e efetivos de combate às injustiças" pela pressão que leva os grupos políticos radicais a promover a mudança por meio da violência.
Rima Khalaf Hunaidi, o funcionário da ONU encarregado de coordenar a equipe que redigiu o relatório, disse que o sentimento antiárabe intensificado no Ocidente depois dos ataques terroristas do 11 de Setembro era também um fator de radicalização dos árabes. Hunaidi disse que as oportunidades educacionais são ainda mais limitadas agora, porque a reação negativa aos árabes fez com que mais jovens árabes abandonassem a idéia de estudar nos EUA -o número caiu 30%, em média, entre 1999 e 2002.
O desencanto dos árabes é aprofundado pelos governos autocráticos de seus países, que agora têm "uma desculpa espúria para restringir as liberdades, sob o pretexto de combater o terrorismo".
O relatório menciona a existência de uma severa censura, que reprime o acesso à internet. Os grupos não-governamentais trabalharam sob mais restrições em 2003, enquanto os avanços quanto aos direitos das mulheres foram revertidos em alguns países e bastante limitados em outros.
O relatório da ONU, que se concentra em como enfrentar os desafios da modernidade, ilustra até que ponto os 270 milhões de árabes estão atrasados em relação a outras regiões em relação à "aquisição de conhecimento".
Diz que um romance de sucesso vende em média 5.000 cópias nos mercados árabes, ante centenas de milhares em outras regiões. O número de livros publicados no mundo árabe não ultrapassa 1,1% do total, ainda que os árabes sejam 5% da população mundial.
O relatório menciona currículos educacionais nos países árabes que "estimulam a submissão, a obediência, a subordinação e a transigência, em lugar do pensamento crítico". A ONU também tratou da situação das universidades árabes, lastimando a falta de autonomia e o controle direto dos governos. Elas estão repletas de laboratórios velhos e bibliotecas medíocres. Os números de matrículas são mais um gesto político para apaziguar a sociedade do que um produto das necessidades educacionais.
A língua árabe está em crise, diante dos desafios da globalização. Apenas 10 mil livros foram traduzidos para o árabe em todo o milênio, o que equivale ao número de livros traduzidos para o espanhol a cada ano.
Pesquisa e desenvolvimento no mundo árabe não respondem por mais de 0,2% do PIB da região. Menos de 1 em cada 20 alunos das universidades estuda uma disciplina científica, ante 1 em 5 na Coréia do Sul. O número de linhas telefônicas nos países árabes mal equivale a 20% da média dos países desenvolvidos.
O acesso à mídia digital é também um dos mais baixos no mundo. Há 18 computadores por mil habitantes, ante a média mundial de 78. Apenas 1,6% dos mais de 270 milhões de árabes têm acesso à internet, uma das médias mais baixas do mundo, de acordo com o relatório.


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