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Para ex-ministro
francês, "guerra
é inevitável"
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Uma ofensiva militar contra
o regime do ditador iraquiano,
Saddam Hussein, liderada pelos EUA, é "inevitável" porque
Washington quer ter influência
sobre as reservas de petróleo
do Iraque, de acordo com Michelle Vauzelle, governador da
região administrativa Provence-Alpes-Côte d'Azur, situada
no sudeste da França, e ex-ministro da Justiça do país.
O socialista Vauzelle, 58, que
presidia a Comissão de Relações Exteriores da Assembléia
Nacional da França durante a
Guerra do Golfo, protagonizou
a última visita de uma autoridade européia a Bagdá antes do
início do conflito, em janeiro
de 1991. Ele disse que queria
"entender por que Saddam não
buscava evitar a guerra".
"A situação atual é distinta.
Sou contrário a um novo conflito no golfo Pérsico porque ele
poderá causar um levante em
regiões árabes ou muçulmanas... Mas a guerra é inevitável,
já que os EUA, percebendo que
a Arábia Saudita é instável,
querem ter acesso aos recursos
petrolíferos iraquianos", disse.
"Os americanos tiram proveito do caos internacional
atual para obter vantagens para
o futuro. O Iraque e seu petróleo se inserem nesse quadro. Os
EUA sabem que, em dez anos, a
China poderá ser uma potência
mais influente. E a Rússia poderá estar numa melhor situação que a atual, buscando ampliar sua zona de influência."
Vauzelle participou ontem de
um encontro com jornalistas
brasileiros e franceses em São
Paulo. O evento era destinado à
divulgação da assinatura de
acordos de cooperação entre
sua região francesa e a prefeitura ou o governo do Estado.
Quanto à sua visita ao Iraque,
em 1991, Vauzelle guarda "lembranças interessantes". "Quando cheguei ao Iraque, [o vice-premiê iraquiano] Tareq Aziz
demonstrou irritação, dizendo
que eu deveria ter chegado
mais cedo. Logo percebi que
minha missão não seria fácil."
"Após receber a informação
de que poderia reunir-me com
Saddam, fui a seu encontro.
Chegando ao palácio, ele me
recebeu em trajes militares...
Nós nos sentamos, Saddam retirou um revólver de sua cintura e o pôs sobre a mesa. Percebi que tinha de fazer algo, peguei
minha caneta e também a coloquei sobre a mesa", descreveu
Vauzelle, sorridente.
Enfatizando que a situação
em 1991 era diferente da atual,
pois o "Iraque tinha invadido
outro país", ele explicou que,
em seguida, Saddam passou a
expor sua visão das relações internacionais. Segundo o ditador, para compensar a superpotência dos EUA, a Europa e o
mundo muçulmano deveriam
ter um papel mais importante.
"Para Saddam, a França tinha
de assumir a liderança na Europa, e o Iraque, no mundo
árabe. Ele queria ser um califa,
como os que existiam no passado. Ele pensava que a derrota
militar os tornaria mártires,
contribuindo para seu plano",
apontou Vauzelle.
De acordo com ele, "a mudança de regime no Iraque é
desejável; a guerra, não". "Deveríamos usar outros meios."
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