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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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COMENTÁRIO

Opinião pública não interessa à Al Qaeda

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A rede terrorista Al Qaeda não está preocupada com a reação da opinião pública mundial a suas ações (nem mesmo nos mundos árabe e muçulmano), de acordo com analistas ouvidos pela Folha.
"Sua intenção básica é semear a instabilidade. Mas, por trás disso, a Al Qaeda pensa poder cooptar pessoas que vivem à margem da sociedade e se sentem impotentes ante a ocupação do Iraque e as ações do governo israelense contra os palestinos", analisou Magnus Ranstorp, diretor do Centro de Estudos sobre Terrorismo e Violência Política da Universidade de St. Andrews (Reino Unido).
"Cometendo atentados espetaculares, a rede sabe que haverá uma enorme repercussão global, o que, a seus olhos, também serve para atrair aqueles que querem combater o Ocidente, porém não sabem exatamente o que fazer. A Al Qaeda não se importa com a opinião pública em geral nem nos mundos árabe e muçulmano. Afinal, seu objetivo não é aliciar "os traidores da causa islâmica", mas pessoas já propensas a escutá-la."
Para o ex-embaixador Philip Wilcox, que chefiou o setor de contraterrorismo do Departamento de Estado dos EUA e preside a Fundação para a Paz no Oriente Médio (Washington), a "versão fanática do islamismo defendida pelos terroristas despreza os muçulmanos mais modernos em seu modo de ver a religião, que aceitam a democracia e a existência desse sistema em um país de maioria muçulmana".
"Com isso, torna-se legítimo matar civis muçulmanos, pois, para os terroristas, eles se desviaram do verdadeiro caminho do islã. Nesse sentido, atentados na Turquia são emblemáticos, visto que, embora majoritariamente islâmico, o país é bem mais aberto que outros Estados muçulmanos, como o Irã", explicou Wilcox.
Ademais, a Turquia tem relações diplomáticas com o Estado de Israel e é aliada dos EUA, sendo até um país-membro da Otan. Outro aspecto a ser lembrado é sua posição geográfica. "A Turquia é vizinha do Iraque, que é o maior palco de enfrentamentos entre os terroristas e o Ocidente atualmente", afirmou Ranstorp.
O Reino Unido, também visado nas ações de ontem, é o maior aliado dos EUA no que se refere ao Iraque. Mesmo assim, contudo, não vinha sendo alvo de muitos ataques nos últimos meses.
Todavia atos terroristas contra civis islâmicos tendem a ser malvistos pela maioria da população do Oriente Médio. "Nos mundos árabe e muçulmano, há uma aversão ao terrorismo contra civis, ainda mais se eles também são muçulmanos", disse Wilcox.
"Um bom exemplo disso é o caso do Egito, na década passada, quando o Jihad Islâmico egípcio, que era liderado por Ayman al Zawahiri, o braço direito de Osama bin Laden, realizou uma onda de atentados contra civis, incluindo muitos turistas estrangeiros. Esse grupo ficou tão violento que os próprios egípcios se levantaram contra ele, apoiando os esforços do governo para pôr fim ao terrorismo no país", acrescentou.
Para conter os terroristas, segundo Wilcox, seria preciso impedir seu financiamento. "O problema é que o dinheiro necessário para bancar ataques como os de hoje [ontem], que, aliás, não são muito custosos, pode ser transportado numa pasta. Há vários métodos simples e informais para transferir fundos. E eles não são detectados pelas autoridades."


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