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COMENTÁRIO
Opinião pública não interessa à Al Qaeda
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A rede terrorista Al Qaeda não
está preocupada com a reação da
opinião pública mundial a suas
ações (nem mesmo nos mundos
árabe e muçulmano), de acordo
com analistas ouvidos pela Folha.
"Sua intenção básica é semear a
instabilidade. Mas, por trás disso,
a Al Qaeda pensa poder cooptar
pessoas que vivem à margem da
sociedade e se sentem impotentes
ante a ocupação do Iraque e as
ações do governo israelense contra os palestinos", analisou Magnus Ranstorp, diretor do Centro
de Estudos sobre Terrorismo e
Violência Política da Universidade de St. Andrews (Reino Unido).
"Cometendo atentados espetaculares, a rede sabe que haverá
uma enorme repercussão global,
o que, a seus olhos, também serve
para atrair aqueles que querem
combater o Ocidente, porém não
sabem exatamente o que fazer. A
Al Qaeda não se importa com a
opinião pública em geral nem nos
mundos árabe e muçulmano. Afinal, seu objetivo não é aliciar "os
traidores da causa islâmica", mas
pessoas já propensas a escutá-la."
Para o ex-embaixador Philip
Wilcox, que chefiou o setor de
contraterrorismo do Departamento de Estado dos EUA e preside a Fundação para a Paz no
Oriente Médio (Washington), a
"versão fanática do islamismo defendida pelos terroristas despreza
os muçulmanos mais modernos
em seu modo de ver a religião,
que aceitam a democracia e a
existência desse sistema em um
país de maioria muçulmana".
"Com isso, torna-se legítimo
matar civis muçulmanos, pois,
para os terroristas, eles se desviaram do verdadeiro caminho do islã. Nesse sentido, atentados na
Turquia são emblemáticos, visto
que, embora majoritariamente islâmico, o país é bem mais aberto
que outros Estados muçulmanos,
como o Irã", explicou Wilcox.
Ademais, a Turquia tem relações diplomáticas com o Estado
de Israel e é aliada dos EUA, sendo até um país-membro da Otan.
Outro aspecto a ser lembrado é
sua posição geográfica. "A Turquia é vizinha do Iraque, que é o
maior palco de enfrentamentos
entre os terroristas e o Ocidente
atualmente", afirmou Ranstorp.
O Reino Unido, também visado
nas ações de ontem, é o maior
aliado dos EUA no que se refere
ao Iraque. Mesmo assim, contudo, não vinha sendo alvo de muitos ataques nos últimos meses.
Todavia atos terroristas contra
civis islâmicos tendem a ser malvistos pela maioria da população
do Oriente Médio. "Nos mundos
árabe e muçulmano, há uma aversão ao terrorismo contra civis,
ainda mais se eles também são
muçulmanos", disse Wilcox.
"Um bom exemplo disso é o caso do Egito, na década passada,
quando o Jihad Islâmico egípcio,
que era liderado por Ayman al
Zawahiri, o braço direito de Osama bin Laden, realizou uma onda
de atentados contra civis, incluindo muitos turistas estrangeiros.
Esse grupo ficou tão violento que
os próprios egípcios se levantaram contra ele, apoiando os esforços do governo para pôr fim ao
terrorismo no país", acrescentou.
Para conter os terroristas, segundo Wilcox, seria preciso impedir seu financiamento. "O problema é que o dinheiro necessário
para bancar ataques como os de
hoje [ontem], que, aliás, não são
muito custosos, pode ser transportado numa pasta. Há vários
métodos simples e informais para
transferir fundos. E eles não são
detectados pelas autoridades."
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