São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004

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NA FRONTEIRA

No posto de controle de Erez, israelenses fazem checagem rigorosa de quem entra em Israel

As agruras de quem vai de Gaza a Israel

DO ENVIADO ESPECIAL

Entrar ou sair de Gaza é uma experiência única. Erez, o posto de controle de fronteira que até 2000 era relativamente tranqüilo, acompanhou o recrudescimento do conflito entre palestinos e israelenses, transformando-se num emaranhado de trincheiras, arames farpados, portões e revistas.
A entrada é simples para quem é estrangeiro. Quando a Folha chegou a Erez, às 8h15 da manhã de segunda-feira passada, não havia ninguém interessado em entrar. Depois de preenchido formulário e respondidas algumas questões, seu nome é digitado no sistema israelense.
Um passe de portão é entregue e carimbado. Trata-se de um papel vermelho mostrando que você sai de Israel. O soldado manda o visitante andar em frente.
Cerca de 500 metros e aparece uma entrada. Percorre-se o que antes eram as entradas para a população, uma longa seqüências de guichês e portões rotatórios ao estilo de estádio de futebol, com várias barras de ferro. Tudo abandonado por ora.
Lá, de dentro de uma barricada, um soldado armado lhe pede o papel. Dado o OK, abre o primeiro portão elétrico do dia. Anda-se mais um pouco e chega-se a mais um portão, agora rotatório como os anteriores.
Percorre-se longo corredor. A reportagem andou sozinha por cerca de 5 minutos e chegou à barreira palestina, formada por um sujeito barrigudo e bonachão e um soldado também obeso, mas sem bom humor.
Nome registrado num livro, uma breve revista e pronto. Dois taxistas disputam a tapas, literalmente, quem vai ganhar o dia com o incauto visitante. Caminhos de terra entre montes de entulho dão uma idéia do que está por vir na cidade.
A passagem abre às 8h e fecha às 21h. A Folha chegou para a volta às 19h30, já escuro. A saída é mais impressionante, pois poucos fazem o caminho. O visitante dá o passaporte a um dos três soldados palestinos que jogam conversa fora. Dez minutos depois, há o OK dos israelenses do outro lado da linha.
Preenchidos os papéis de saída, é hora de enfrentar o mesmo corredor da ida. Só que agora ele está no escuro total, com apenas uma luz ao seu final. Com os olhos acostumados ao breu, o impacto da chegada à barreira israelense é grande: quatro holofotes, fortes como refletores de estádio, cegam o visitante.
A barreira giratória destrava, e uma voz num alto-falante dá ordens. Seguir até certo ponto. Tirar o colete de fotógrafo recheado de papéis, celular e câmera, deixando-o no chão. Passar por detector de metais, que aponta algo. O relógio, moedas e uma chave ficam no chão. Nada. A barreira insiste em apitar, e a voz manda tirar a camisa para fora da calça e baixá-la. Ainda assim, o apito. Chega a vez das botas de caminhada. Eis as vilãs.
Passada essa barreira, chega-se a mais uma. Em duas barricadas com sacos de areias, soldados dão ordens. Dois deles brincam, lógico, sobre futebol ao ver o passaporte brasileiro. Isso não evita, contudo, uma rigorosa revista em todos os vários bolsos do colete, feita por uma soldado.
Checados os papéis, mais uma barreira. Agora, a voz no alto-falante manda retirar novamente tudo o que é metálico e passar o colete por um raio-x igual aqueles de aeroporto. Sabendo a origem dos apitos anteriores e determinada a não baixar as calças novamente, a reportagem deixa os sapatos de fora e passa ilesa.
Agora, um rapaz sardento faz a revista. Obriga um telefonema para provar que o celular é verdadeiro. Mais uma checagem de papéis, e o OK é dado.
Anda-se mais cinco minutos até o posto do controle oficial de passaporte, onde após 15 minutos o visitante ganha uma papeleta de saída amarelo-limão.
O passaporte mesmo nunca é carimbado. Para Israel, você não saiu de seu território. (IG)


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