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NA FRONTEIRA
No posto de controle de Erez, israelenses fazem checagem rigorosa de quem entra em Israel
As agruras de quem vai de Gaza a Israel
DO ENVIADO ESPECIAL
Entrar ou sair de Gaza é uma
experiência única. Erez, o posto
de controle de fronteira que até
2000 era relativamente tranqüilo, acompanhou o recrudescimento do conflito entre palestinos e israelenses, transformando-se num emaranhado de trincheiras, arames farpados, portões e revistas.
A entrada é simples para quem
é estrangeiro. Quando a Folha
chegou a Erez, às 8h15 da manhã
de segunda-feira passada, não
havia ninguém interessado em
entrar. Depois de preenchido
formulário e respondidas algumas questões, seu nome é digitado no sistema israelense.
Um passe de portão é entregue
e carimbado. Trata-se de um papel vermelho mostrando que você sai de Israel. O soldado manda o visitante andar em frente.
Cerca de 500 metros e aparece
uma entrada. Percorre-se o que
antes eram as entradas para a
população, uma longa seqüências de guichês e portões rotatórios ao estilo de estádio de futebol, com várias barras de ferro.
Tudo abandonado por ora.
Lá, de dentro de uma barricada, um soldado armado lhe pede
o papel. Dado o OK, abre o primeiro portão elétrico do dia. Anda-se mais um pouco e chega-se
a mais um portão, agora rotatório como os anteriores.
Percorre-se longo corredor. A
reportagem andou sozinha por
cerca de 5 minutos e chegou à
barreira palestina, formada por
um sujeito barrigudo e bonachão e um soldado também obeso, mas sem bom humor.
Nome registrado num livro,
uma breve revista e pronto. Dois
taxistas disputam a tapas, literalmente, quem vai ganhar o dia
com o incauto visitante. Caminhos de terra entre montes de
entulho dão uma idéia do que
está por vir na cidade.
A passagem abre às 8h e fecha
às 21h. A Folha chegou para a
volta às 19h30, já escuro. A saída
é mais impressionante, pois
poucos fazem o caminho. O visitante dá o passaporte a um dos
três soldados palestinos que jogam conversa fora. Dez minutos
depois, há o OK dos israelenses
do outro lado da linha.
Preenchidos os papéis de saída, é hora de enfrentar o mesmo
corredor da ida. Só que agora ele
está no escuro total, com apenas
uma luz ao seu final. Com os
olhos acostumados ao breu, o
impacto da chegada à barreira
israelense é grande: quatro holofotes, fortes como refletores de
estádio, cegam o visitante.
A barreira giratória destrava, e
uma voz num alto-falante dá ordens. Seguir até certo ponto. Tirar o colete de fotógrafo recheado de papéis, celular e câmera,
deixando-o no chão. Passar por
detector de metais, que aponta
algo. O relógio, moedas e uma
chave ficam no chão. Nada. A
barreira insiste em apitar, e a voz
manda tirar a camisa para fora
da calça e baixá-la. Ainda assim,
o apito. Chega a vez das botas de
caminhada. Eis as vilãs.
Passada essa barreira, chega-se
a mais uma. Em duas barricadas
com sacos de areias, soldados
dão ordens. Dois deles brincam,
lógico, sobre futebol ao ver o
passaporte brasileiro. Isso não
evita, contudo, uma rigorosa revista em todos os vários bolsos
do colete, feita por uma soldado.
Checados os papéis, mais uma
barreira. Agora, a voz no alto-falante manda retirar novamente
tudo o que é metálico e passar o
colete por um raio-x igual aqueles de aeroporto. Sabendo a origem dos apitos anteriores e determinada a não baixar as calças
novamente, a reportagem deixa
os sapatos de fora e passa ilesa.
Agora, um rapaz sardento faz a
revista. Obriga um telefonema
para provar que o celular é verdadeiro. Mais uma checagem de
papéis, e o OK é dado.
Anda-se mais cinco minutos
até o posto do controle oficial de
passaporte, onde após 15 minutos o visitante ganha uma papeleta de saída amarelo-limão.
O passaporte mesmo nunca é
carimbado. Para Israel, você não
saiu de seu território.
(IG)
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