São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2000


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RÚSSIA
Favoritismo do presidente em exercício, Vladimir Putin, e rejeição a políticos desanimam o eleitorado
Apatia marca campanha em Moscou

IGOR GIELOW
enviado especial a Moscou

A cinco dias da mais importante eleição desde o fim do comunismo na Rússia, nada nas ruas de Moscou sugere que algo como o futuro do país esteja em jogo.
Há poucas referências ao pleito presidencial no cotidiano. Na TV, o espaço é quase todo ocupado pelo favorito nas pesquisas, o presidente em exercício Vladimir Putin, mas o enfoque é mais o de uma cobertura institucional.
A exceção ficou por conta do factóide por ele operado na segunda-feira, quando foi à capital tchetchena, Grozni, em um caça-bombardeiro Sukhoi-27 para anunciar a conquista da cidade de Komsomolskoie -que ontem já era atacada novamente.
O jornal "Segodnia" criticou a manobra, considerada perdulária e dispensável. A crítica foi pontual: os diários fazem uma cobertura mais intensiva da campanha, mas geralmente se fixam apenas em Putin e no liberal Grigori Iavlinski, do partido Iabloko, geralmente criticado por gastos excessivos no pleito.
Na região central de Moscou, em torno do Kremlin, a única dica sobre a existência de uma corrida eleitoral são pequenas faixas de rua, que dizem: "Russos, compareçam aos locais de votação no próximo domingo, dia 26". Nas grandes "prospekt", avenidas largas que levam à periferia, há um ou outro outdoor.
Uma das maiores faixas do centro, na elegante rua Tverskaia, é eclipsada por dezenas de outras faixas, que anunciam shows. O desinteresse é atribuído a dois fatores: desilusão com a classe política e a aparente invencibilidade de Putin -que tem entre 50% e 60% das intenções de voto nos principais institutos de pesquisa.
O primeiro fator encontra eco nas ruas. "Nós não esperamos mais nada dos políticos", afirma o engenheiro eletrônico Alexei Danilenko, 43. "Gostaria de votar no (expoente liberal Anatoli) Tchubais, mas ele não está concorrendo. Pior, virou apenas mais um", disse Danilenko, em referência ao fato de Tchubais ter traído o candidato apoiado pela frente de partidos que lidera ao declarar voto em Putin.
A decisão reforçou no eleitorado a impressão de que todos os políticos são movidos a interesses inconfessáveis. Tchubais, formulador da linha econômica dos primeiros anos do governo Boris Ieltsin (1991-1999), é presidente da poderosa Sistemas Energéticos Unidos. A empresa é dona do monopólio das estatais de energia, e Tchubais não gostaria de desagradar a Putin para se manter no cargo.
Para o especialista em informática Alexander Ovsanikov, 32, o principal é dar estabilidade ao país. "Nós já sofremos demais. Acho que Putin, (o liberal Grigori) Iavlinski e (o líder neocomunista Gennadi) Ziuganov são a mesma coisa."
Ovsanikov, dono de uma pequena empresa que presta consultoria de informática para hotéis, e o engenheiro Danilenko, não vão votar domingo.
Já a suposta força eleitoral de Putin, ex-espião da KGB, pode encontrar seu páreo na mentalidade de eleitores como os entrevistados acima. "Podemos ter uma surpresa ao apurarmos a abstenção", disse o cientista político Viktor Soloviev, da Universidade de Moscou.
Em entrevista ao jornal "Nezavissimaia Gazeta", o diretor do Instituto Independente de Problemas Sociais e Nacionais, Mikhail Gorshkov, estimou que a abstenção pode chegar a 40% do eleitorado -se superar os 50%, a eleição é declarada nula.
Mas ele descarta essa possibilidade e acha que mesmo um segundo turno será improvável.


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