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São Paulo, sábado, 22 de março de 2003

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Ação simultânea abreviará duração das hostilidades

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ataque aéreo americano "choque e pavor" sobre Bagdá não é o mais devastador da história em termos de tonelagem de explosivos, mas certamente é um dos mais eficazes, já que é provável que 90% das bombas tenham atingido o alvo.
Justamente pela maior precisão das armas não é preciso usar tantos explosivos, que causariam danos muito maiores e mortes de civis em grande quantidade. Centenas de alvos foram atingidos simultaneamente. Mísseis foram disparados de navios em diferentes oceanos em momentos distintos, sincronizados para chegarem ao alvo ao mesmo tempo.
Já o avanço terrestre dos primeiros dois dias, de cerca de 160 km, é um dos mais rápidos de que se têm notícia, mas deve perder rapidez à medida em que sejam encontradas tropas mais aguerridas pelo caminho.
O ataque simultâneo por ar e terra serve para ganhar tempo, já que os anglo-americanos querem uma guerra rápida. A simultaneidade tem uma vantagem adicional: o cerco a Saddam Hussein e às unidades da sua Guarda Republicana.
Tropas em menor número estão em ação também nas frentes norte e oeste, com o objetivo de ajudar os curdos e impedir que mísseis sejam lançados contra Israel.
A tomada das bases aéreas iraquianas H-2 e H-3 no deserto do oeste do país visa impedir que Saddam as use para lançar mísseis balísticos contra Israel. Essa tomada só é possível graças ao controle total do ar pela coalizão liderada pelos EUA. Se Saddam tentar contra-atacar pelo deserto, a aviação ganha alvos apetitosos.
A tomada de Umm Qasr e da península Al Faw permitem que, nos próximos dias, cheguem tanto ajuda humanitária quanto reforços por mar -uma segunda leva de tropas que não precisaria desembarcar no Kuait para chegar ao Iraque.
O avanço rápido das tropas terrestres foi possível porque elas evitaram entrar em centros urbanos. A "caravana" de milhares de veículos -uma "onda de aço", como dizem os americanos- teve que parar.
Um dos motivos foi a maior resistência encontrada em torno de Nassiriah; mas também é preciso fazer uma pausa para que as unidades sejam reabastecidas.
Enquanto tanques e blindados recebem combustível, munição e alimento para seus tripulantes, estes aproveitam a parada para dormir. O rodízio de unidades na frente permite manter a pressão para o inimigo, mas descansos temporários são fundamentais para manter a eficiência da tropa.
Se o avanço puder ser mantido, as tropas chegarão a Bagdá em três ou quatro dias. Uma esperança americana é que, nesse período, os iraquianos se rendam antes que tenha início a potencialmente perigosa tomada da cidade.
Caso Saddam tenha sido atingido, ou algum golpe militar o deponha, não seria preciso fazer um cerco "segundo os manuais", como dizem os militares. Seria preciso rodear a cidade com tropas e, em dado momento, penetrá-la -um pesadelo igual ao dos israelenses em Beirute em 1982.
Ainda é difícil estimar o número de civis mortos em Bagdá, já que os números divulgados pelos iraquianos não são confiáveis -se é que ainda há um governo capaz de coletar estatísticas.
Durante a campanha aérea de mais de mês na guerra de 1991, estima-se que morreram entre 3.500 e 4.500 civis em Bagdá. Os números devem ser menores agora, a não ser em caso de combate.
A diferença entre esse bombardeio e os da Segunda Guerra Mundial, em que morriam muito mais pessoas, é a óbvia diferença entre eles. De 1939 a 1945, os civis eram o próprio alvo, já que a tecnologia da época não permitia destruir com precisão fábricas de armas ou tropas em cidades. A cidade alemã de Dresden foi atacada em 1945 durante duas noites por mais de 1.200 aviões que arrasaram 85% das edificações e mataram um número de pessoas nunca contabilizado, que pode ser de 50 mil a 135 mil mortos.
O "avô" dos atuais mísseis de cruzeiro Tomahawk foi a bomba-voadora V-1, lançada pelos alemães contra Londres, assim como o foguete V-2 era o ancestral dos mísseis Scud dos iraquianos. A partir de junho de 1944, 2.419 bombas V-1 atingiram Londres (de um total de 10.492 lançadas, o que mostra como eram imprecisas). Londres também recebeu 517 V-2. Só nas primeiras duas semanas de ataque, morreram 1.600 londrinos.


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