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Ação simultânea
abreviará duração
das hostilidades
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ataque aéreo americano "choque e pavor" sobre Bagdá não é o
mais devastador da história em
termos de tonelagem de explosivos, mas certamente é um dos
mais eficazes, já que é provável
que 90% das bombas tenham atingido o alvo.
Justamente pela maior precisão
das armas não é preciso usar tantos explosivos, que causariam danos muito maiores e mortes de civis em grande quantidade. Centenas de alvos foram atingidos simultaneamente. Mísseis foram
disparados de navios em diferentes oceanos em momentos distintos, sincronizados para chegarem ao alvo ao mesmo tempo.
Já o avanço terrestre dos primeiros dois dias, de cerca de 160
km, é um dos mais rápidos de que
se têm notícia, mas deve perder
rapidez à medida em que sejam
encontradas tropas mais aguerridas pelo caminho.
O ataque simultâneo por ar e
terra serve para ganhar tempo, já
que os anglo-americanos querem
uma guerra rápida. A simultaneidade tem uma vantagem adicional: o cerco a Saddam Hussein e às unidades da sua Guarda Republicana.
Tropas em menor número estão em ação também nas frentes
norte e oeste, com o objetivo de
ajudar os curdos e impedir que
mísseis sejam lançados contra Israel.
A tomada das bases aéreas iraquianas H-2 e H-3 no deserto do
oeste do país visa impedir que
Saddam as use para lançar mísseis
balísticos contra Israel. Essa tomada só é possível graças ao controle total do ar pela coalizão liderada pelos EUA. Se Saddam tentar
contra-atacar pelo deserto, a aviação ganha alvos apetitosos.
A tomada de Umm Qasr e da
península Al Faw permitem que,
nos próximos dias, cheguem tanto ajuda humanitária quanto reforços por mar -uma segunda leva de tropas que não precisaria
desembarcar no Kuait para chegar ao Iraque.
O avanço rápido das tropas terrestres foi possível porque elas
evitaram entrar em centros urbanos. A "caravana" de milhares de
veículos -uma "onda de aço",
como dizem os americanos- teve que parar.
Um dos motivos foi a maior resistência encontrada em torno de
Nassiriah; mas também é preciso
fazer uma pausa para que as unidades sejam reabastecidas.
Enquanto tanques e blindados
recebem combustível, munição e
alimento para seus tripulantes, estes aproveitam a parada para dormir. O rodízio de unidades na frente permite manter a pressão
para o inimigo, mas descansos
temporários são fundamentais
para manter a eficiência da tropa.
Se o avanço puder ser mantido,
as tropas chegarão a Bagdá em
três ou quatro dias. Uma esperança americana é que, nesse período, os iraquianos se rendam antes que tenha início a potencialmente
perigosa tomada da cidade.
Caso Saddam tenha sido atingido, ou algum golpe militar o deponha, não seria preciso fazer um cerco "segundo os manuais", como dizem os militares. Seria preciso rodear a cidade com tropas e,
em dado momento, penetrá-la -um pesadelo igual ao dos israelenses em Beirute em 1982.
Ainda é difícil estimar o número
de civis mortos em Bagdá, já que
os números divulgados pelos iraquianos não são confiáveis -se é
que ainda há um governo capaz
de coletar estatísticas.
Durante a campanha aérea de
mais de mês na guerra de 1991, estima-se que morreram entre
3.500 e 4.500 civis em Bagdá. Os
números devem ser menores agora, a não ser em caso de combate.
A diferença entre esse bombardeio e os da Segunda Guerra
Mundial, em que morriam muito
mais pessoas, é a óbvia diferença
entre eles. De 1939 a 1945, os civis
eram o próprio alvo, já que a tecnologia da época não permitia
destruir com precisão fábricas de
armas ou tropas em cidades. A cidade alemã de Dresden foi atacada em 1945 durante duas noites
por mais de 1.200 aviões que arrasaram 85% das edificações e mataram um número de pessoas
nunca contabilizado, que pode
ser de 50 mil a 135 mil mortos.
O "avô" dos atuais mísseis de
cruzeiro Tomahawk foi a bomba-voadora V-1, lançada pelos alemães contra Londres, assim como
o foguete V-2 era o ancestral dos
mísseis Scud dos iraquianos. A
partir de junho de 1944, 2.419
bombas V-1 atingiram Londres
(de um total de 10.492 lançadas, o
que mostra como eram imprecisas). Londres também recebeu
517 V-2. Só nas primeiras duas semanas de ataque, morreram 1.600
londrinos.
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