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São Paulo, sábado, 22 de março de 2003

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Bomba 'inteligente' pode não ser tão precisa, diz analista

IAN SAMPLE
DA "NEW SCIENTIST"

"Esta é uma aposta enorme para a administração americana. A guerra vai mudar as relações entre os EUA e a Europa, vai mudar o Oriente Médio e certamente vai mudar o Iraque. Você não imaginaria que há uma aposta militar acontecendo ao mesmo tempo."
Harvey Sapolsky, diretor do Programa de Estudos de Defesa e Controle de Armas do Massachusetts Institute of Technology, se refere à confiança quase total que os militares americanos têm nas armas de precisão.
O resultado do conflito no Golfo vai depender de um grau sem precedentes de sucesso dessa tecnologia. E, com ele, as ambições políticas dos EUA e do Reino Unido no pós-guerra, quando eles tentarem reconstruir o Iraque e precisarem de apoio mundial.
Durante a Guerra do Golfo, em 1991, as bombas inteligentes que dominaram as manchetes dos jornais estavam reservadas para missões difíceis e operações especiais. Desta vez, cerca de 90% das bombas levadas à fronteira iraquiana são armas inteligentes.
A redução no número de homens é um sintoma de como a guerra mudou desde os dias em que a estratégia era simplesmente construir uma força esmagadora de artilharia e tanques. Agora, a ênfase está em usar pequenos grupos terrestres para assinalar alvos principais e trazer bombas de precisão para destruí-los. "Em vez de uma força esmagadora, há a promessa de uma mágica militar com armas teleguiadas de precisão", diz Sapolsky.
Mas há mais em jogo do que simplesmente sucesso militar. Impedir que bombas matem civis e destruam infra-estrutura gerará dividendos no pós-guerra, angariando simpatia da opinião pública iraquiana, algo vital para uma transição tranquila.
Essas preocupações têm visitado a Força Aérea dos EUA nos últimos meses. A estratégia escolhida, a de atacar só alvos que enfraqueçam Saddam Hussein sem matar civis ou danificar infra-estrutura, é um risco maior do que aquele que os EUA correram durante a operação "Tempestade no Deserto", em 1991.
O tipo de bomba guiada a laser usado na época funcionava com um princípio simples: antes de a bomba ser lançada, um laser infravermelho "iluminava" um ponto no alvo. Esse laser podia ser disparado por tropas amigas no solo ou por outro avião. Assim que a bomba era solta, um sensor de infravermelho no seu nariz detectava o ponto de laser e mandava sinais que controlavam lemes na cauda para se dirigir ao alvo.
O problema é que bombas guiadas por laser só são precisas se o céu estiver claro. Do contrário, podem se desviar e causar estrago. Foi o que aconteceu na guerra do Kosovo e, em 1991, no Golfo.
Para superar essa fraqueza, os EUA desenvolveram armas guiadas por sinais de satélite do Sistema de Posicionamento Global (GPS) para descobrir onde estão e aonde vão. Os sinais de GPS atravessam nuvens sem distorção, portanto bombas guiadas por eles podem ser usadas independente das condições meteorológicas.
Os armadores da Força Aérea americana fazem essas bombas a partir de bombas "burras", às quais é adicionado um kit com lemes e um GPS.
As bombas guiadas por GPS foram bem-sucedidas no Kosovo -96% delas atingiram seus alvos. Mas essa taxa de sucesso não está garantida. Com o know-how e o equipamento certos, tropas iraquianas podem fazer as bombas espertas saírem de curso. Transmissores à venda na internet podem ser sintonizados para emitir microondas de alta potência e, assim, "afogar" os sinais do GPS.
Trata-se de uma estratégia arriscada para os defensores, mas poderia frustrar aeronaves agressoras. Testes de bombas JDAM mostram que elas têm uma precisão de 13 m usando GPS. Embaralhe os sinais e a acurácia despenca para 30 m.
O valor militar das bombas de precisão é claro. No entanto, a tecnologia não funcionará a menos que outros pré-requisitos militares básicos sejam preenchidos. Sem uma boa inteligência, por exemplo, civis serão atingidos, como o foram em 1991. "Havia um "bunker" em Bagdá que parecia claramente designado para fins militares. Eles jogaram lá uma bomba a laser após a outra", diz Owen Cote, diretor de estudos de segurança do MIT. "Aí, eles descobriram que o local estava sendo usado por famílias de militares". O ataque matou 400 civis.
Se a inteligência americana melhorou de 1991 para cá, é algo ainda a ser demonstrado.


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