|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bomba 'inteligente'
pode não ser tão
precisa, diz analista
IAN SAMPLE
DA "NEW SCIENTIST"
"Esta é uma aposta enorme para
a administração americana. A
guerra vai mudar as relações entre
os EUA e a Europa, vai mudar o
Oriente Médio e certamente vai
mudar o Iraque. Você não imaginaria que há uma aposta militar
acontecendo ao mesmo tempo."
Harvey Sapolsky, diretor do
Programa de Estudos de Defesa e
Controle de Armas do Massachusetts Institute of Technology, se
refere à confiança quase total que
os militares americanos têm nas
armas de precisão.
O resultado do conflito no Golfo
vai depender de um grau sem precedentes de sucesso dessa tecnologia. E, com ele, as ambições políticas dos EUA e do Reino Unido
no pós-guerra, quando eles tentarem reconstruir o Iraque e precisarem de apoio mundial.
Durante a Guerra do Golfo, em
1991, as bombas inteligentes que
dominaram as manchetes dos
jornais estavam reservadas para
missões difíceis e operações especiais. Desta vez, cerca de 90% das
bombas levadas à fronteira iraquiana são armas inteligentes.
A redução no número de homens é um sintoma de como a
guerra mudou desde os dias em
que a estratégia era simplesmente
construir uma força esmagadora
de artilharia e tanques. Agora, a
ênfase está em usar pequenos
grupos terrestres para assinalar
alvos principais e trazer bombas
de precisão para destruí-los. "Em
vez de uma força esmagadora, há
a promessa de uma mágica militar com armas teleguiadas de precisão", diz Sapolsky.
Mas há mais em jogo do que
simplesmente sucesso militar.
Impedir que bombas matem civis
e destruam infra-estrutura gerará
dividendos no pós-guerra, angariando simpatia da opinião pública iraquiana, algo vital para uma
transição tranquila.
Essas preocupações têm visitado a Força Aérea dos EUA nos últimos meses. A estratégia escolhida, a de atacar só alvos que enfraqueçam Saddam Hussein sem
matar civis ou danificar infra-estrutura, é um risco maior do que
aquele que os EUA correram durante a operação "Tempestade no
Deserto", em 1991.
O tipo de bomba guiada a laser
usado na época funcionava com
um princípio simples: antes de a
bomba ser lançada, um laser infravermelho "iluminava" um
ponto no alvo. Esse laser podia ser
disparado por tropas amigas no
solo ou por outro avião. Assim
que a bomba era solta, um sensor
de infravermelho no seu nariz detectava o ponto de laser e mandava sinais que controlavam lemes
na cauda para se dirigir ao alvo.
O problema é que bombas guiadas por laser só são precisas se o
céu estiver claro. Do contrário,
podem se desviar e causar estrago. Foi o que aconteceu na guerra
do Kosovo e, em 1991, no Golfo.
Para superar essa fraqueza, os
EUA desenvolveram armas guiadas por sinais de satélite do Sistema de Posicionamento Global
(GPS) para descobrir onde estão e
aonde vão. Os sinais de GPS atravessam nuvens sem distorção,
portanto bombas guiadas por eles
podem ser usadas independente
das condições meteorológicas.
Os armadores da Força Aérea
americana fazem essas bombas a
partir de bombas "burras", às
quais é adicionado um kit com lemes e um GPS.
As bombas guiadas por GPS foram bem-sucedidas no Kosovo
-96% delas atingiram seus alvos.
Mas essa taxa de sucesso não está
garantida. Com o know-how e o
equipamento certos, tropas iraquianas podem fazer as bombas
espertas saírem de curso. Transmissores à venda na internet podem ser sintonizados para emitir
microondas de alta potência e, assim, "afogar" os sinais do GPS.
Trata-se de uma estratégia arriscada para os defensores, mas poderia frustrar aeronaves agressoras. Testes de bombas JDAM mostram que elas
têm uma precisão de 13 m usando
GPS. Embaralhe os sinais e a acurácia despenca para 30 m.
O valor militar das bombas de
precisão é claro. No entanto, a tecnologia não funcionará a menos
que outros pré-requisitos militares básicos sejam preenchidos.
Sem uma boa inteligência, por
exemplo, civis serão atingidos, como o foram em 1991. "Havia um
"bunker" em Bagdá que parecia
claramente designado para fins
militares. Eles jogaram lá uma
bomba a laser após a outra", diz
Owen Cote, diretor de estudos de
segurança do MIT. "Aí, eles descobriram que o local estava sendo
usado por famílias de militares".
O ataque matou 400 civis.
Se a inteligência americana melhorou de 1991 para cá, é algo ainda a ser demonstrado.
Texto Anterior: Ação simultânea abreviará duração das hostilidades Próximo Texto: Turquia invade o norte do Iraque Índice
|