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São Paulo, sábado, 22 de março de 2003

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AÇÃO UNILATERAL

Apesar da oposição dos EUA, tropas agem para inibir pressões de separatistas curdos

Turquia invade o norte do Iraque

DA REDAÇÃO

A Turquia decidiu ontem entrar com suas tropas no norte do Iraque, apesar da oposição dos EUA. Não há cronograma oficial para a incursão, mas o movimento começou, com a entrada de uma pequena vanguarda do Exército turco, anunciou Ancara.
A intenção é inibir eventuais pressões separatistas dos curdos que vivem na região e, segundo o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Abdullah Gul, bloquear a entrada de refugiados iraquianos pela fronteira comum e "evitar a atividade terrorista" .
Gul, que estava na Bélgica para uma cúpula com a União Européia, afirmou ontem que nenhum soldado turco havia entrado no Iraque ainda. Entretanto autoridades militares em Ancara que pediram anonimato afirmaram que entre 1.000 e 1.500 soldados já haviam cruzado a fronteira em três pontos diferentes, e outros 5.000 devem seguir em breve. A Turquia já tem um contingente militar na região fronteiriça para inibir ações separatistas curdas.
Os EUA desaprovam uma ação unilateral turca por acreditarem que eventuais confrontos entre turcos e curdos possam prejudicar sua campanha militar, mas ainda não descartaram o trabalho conjunto posteriormente.
"Temos unidades especiais no norte ligadas às forças curdas, e avisamos o governo turco que nos atrapalharia muito se eles entrassem em grande número", disse ontem o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.
Os curdos iraquianos, que dominam três Províncias no norte do Iraque desde 1991, alegam que a Turquia tem interesse em seus territórios. Em contrapartida, a Turquia teme que, uma vez deposto Saddam Hussein, a reestruturação do Iraque inclua a criação de um território curdo com prejuízo para o seu próprio território. Os cerca de 25 milhões de curdos que vivem nos dois países, bem como no Irã e na Síria, reivindicam um território autônomo e os conflitos na região são constantes.
A Turquia alega ainda a necessidade de proteger a minoria turcomana na região, culturalmente mais próxima dos turcos do que dos iraquianos. Os líderes turcomanos rechaçam essa proteção.

Espaço aéreo
Após uma conturbada negociação com o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, a Turquia concedeu incondicionalmente o uso de seu espaço aéreo. O país havia exigido antes o apoio norte-americano à entrada de suas tropas no Iraque, que foi negado.
Powell disse ontem que não vê "necessidade para incursões turcas no norte do Iraque", mas que prosseguem as negociações sobre um plano humanitário no caso de um conflito na fronteira.
Outro dilema na negociação teria surgido, segundo militares turcos, porque o governo da Turquia queria ser notificado com antecedência pelos norte-americanos sobre os tipos de avião que passariam sobre o país, além de suas missões e alvos.

Atrito
Mesmo resolvido, o impasse piorou a situação diplomática entre os dois países. Além de resistir na concessão de seu espaço aéreo, a Turquia, aliada militar dos EUA desde a década de 50, havia negado no início do mês, após votação no Parlamento, o uso de suas bases militares aos EUA.
O governo norte-americano, em contrapartida, retirou a oferta de um pacote financeiro de bilhões de dólares e, segundo a Casa Branca, não deve restituí-la mesmo após a cessão do espaço aéreo.
A decisão turca criou obstáculos para a estratégia dos EUA, que só conseguiram bases fronteiriças para seus aviões e veículos no Kuait. Com isso, os militares norte-americanos estão avançando com rapidez pelo sul do Iraque, mas atacam com intensidade muito menor no norte. Os outros países que fazem fronteira com o Iraque pelo norte - Síria e Irã - são contra a guerra.


Com agências internacionais


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