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Por queda do petróleo, Chávez enxuga gastos
Presidente anuncia corte de 6,7% no Orçamento e decretos contra gastos supérfluos e altos salários no funcionalismo público
Horas antes de anúncio,
o Exército venezuelano ocupou novos portos e aeroportos de Estados governados pela oposição
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, anunciou ontem
a redução dos gastos públicos
para minimizar a queda do preço do petróleo, principal produto econômico do país. O
mandatário disse que está trabalhando com um "cenário intermediário" da crise e descartou reajustes mais fortes, como
o aumento do preço da gasolina
e a desvalorização da moeda local, o bolívar forte.
As medidas incluem a redução de 6,7% do Orçamento deste ano, o equivalente a apenas
R$ 11,6 bilhões; cortes em gastos "luxuosos" do governo, como compra de carros e viagens
ao exterior; e a redução de salários nos cargos mais altos do
Poder Executivo e das empresas estatais.
Houve ainda a redução do
preço-base do barril de petróleo de US$ 60 para US$ 40 para
o cálculo do Orçamento. Na
sexta-feira, o preço do barril venezuelano fechou em US$
43,51.
O governo venezuelano também aumentou de 9% para 12%
a alíquota do IVA (Imposto sobre o Valor Agregado), a versão
local do ICMS.
Outra medida anunciada é o
crescimento do endividamento
interno previsto no Orçamento, dos atuais R$ 12 bilhões para
R$ 35,8 bilhões. Esse aumento
será feito dentro da Venezuela,
mediante emissão de bônus.
Segundo Chávez, o atual nível de endividamento interno é
um dos mais baixos dos últimos
anos e equivale a 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
"São medidas de proteção e
de garantia de avanços", disse
Chávez, em cadeia nacional de
rádio e TV. "A crise capitalista
vai fortalecer essa revolução, e
nós vamos vencer."
O presidente venezuelano
descartou a desvalorização do
bolívar, cujo câmbio oficial tem
uma diferença de 181% em relação ao paralelo, mas voltou a dizer que deve aumentar a gasolina, cujo preço (R$ 0,10) é o
mais baixo do mundo.
"O pacote é somente um
ajuste fiscal, insuficiente para
cobrir a queda dos ingressos
petroleiros", disse à Folha o
economista Orlando Ochoa, da
Universidade Central da Venezuela (UCV). "Ele parece não
notar que a Venezuela está a
caminho da recessão com a inflação mais alta da América Latina [30,9% em 2008]."
Ochoa disse que nenhuma
das medidas busca conter a
pressão inflacionária e criticou
a dívida de US$ 10 bilhões que
as empresas estatais têm com
fornecedores. Ele também
acha "impossível" o aumento
de investimentos públicos
anunciados por Chávez.
Portos e aeroportos
As medidas foram anunciadas no mesmo dia em que militares tomaram na madrugada o
porto e o aeroporto de Maracaibo e o aeroporto de Valencia, as
duas maiores cidades venezuelanas depois de Caracas e capitais dos importantes Estados
de Zulia e Carabobo. As operações fazem parte da determinação, dada há uma semana por
Chávez, de que portos e aeroportos administrados pela oposição sejam transferidos ao governo federal.
"A reversão faz parte do plano de reunificação nacional para fortalecermos e desenvolver
a nação porque o país estava
fraturado, produto do plano de
destruição da nação que impulsam esses políticos que hoje falam que o governo abusa e viola
a lei", disse Chávez pela manhã,
em reunião ministerial transmitida ao vivo por canais estatais. Ele anunciou a criação de
duas corporações para administrar os portos e aeroportos.
Apesar das promessas de resistência feitas pelo prefeito de
Maracaibo, o oposicionista Manuel Rosales, as ocupações
ocorreram sem incidentes.
De acordo com Mariela
Fuenmayor, até ontem presidente do instituto que administra o porto de Maracaibo, a tomada foi realizada sem formalidades. "Não se assinou nada,
não entregaram nenhum documento nem resolução nem
mostraram nenhuma ata em
que estivesse a designação na
Gazeta Oficial", disse ao jornal
"El Universal".
Os militares também ocuparam ontem o aeroporto internacional da Isla Margarita,
principal destino turístico do
país, administrado pela oposição. Durante a semana, houve
ações semelhantes em Puerto
Cabello (o maior porto do país)
e no porto de Guamache, localizado em Margarita.
O governo federal assumiu
ainda o porto de Guanta e o aeroporto de Barcelona, no Estado de Anzoátegui (leste), governado pelo chavista Tarek Saab.
Foi o único caso em regiões administradas por aliados.
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