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Brasil busca alinhamento militar na América do Sul
Meta é aproveitar vácuo de influência dos EUA para redefinir segurança regional
Ideia exposta em conselho sul-americano visa reduzir conflitos entre vizinhos, integrar políticas de defesa e alavancar indústria bélica
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
O governo Lula trabalha para
fixar os parâmetros de uma nova agenda de segurança regional e busca disseminar na Unasul (União de Nações Sul-Americanas) as diretrizes militares
da Estratégia Nacional de Defesa -lançada em dezembro pelos ministros Nelson Jobim
(Defesa) e Mangabeira Unger
(Assuntos Estratégicos).
Há dois objetivos principais
no esforço conjunto do Itamaraty e do Ministério da Defesa.
O primeiro é consolidar uma
doutrina comum que estimule
a cooperação, integre as políticas de defesa e reduza possibilidades de conflitos bilaterais.
O segundo é criar padrões gerais de organização e engajamento das Forças Armadas sul-americanas que ajudem a alavancar a indústria bélica -sobretudo a brasileira-, a partir
do consumo de materiais e serviços em grande escala.
O CDS (Conselho de Defesa
Sul-Americano), órgão da Unasul inaugurado há duas semanas em reunião ministerial em
Santiago (Chile), se tornou a
plataforma para a exportação
dos planos militares do Brasil.
No encontro, foi aprovado
um plano de ações que prevê o
inventário das capacidades militares, um sistema de informação sobre gastos do setor e a
consolidação de uma doutrina
militar comum.
Jobim entregou a todos os
presentes cópias da END, ressaltando a diretriz de estímulo
à integração para "fomentar a
cooperação militar regional e
as bases industriais de defesa".
Em Brasília, também fez palestra a embaixadores.
A tática de convencimento
contempla a possibilidade de
que os países sul-americanos,
unidos, se beneficiem de exportações para outros continentes.
Com o término da Guerra
Fria e o subsequente desmantelamento do guarda-chuva
ideológico, países em desenvolvimento perderam seus referenciais na área de defesa. Na
América do Sul, Argentina e
Chile começam a desenvolver
novas doutrinas de engajamento, tendo como modelo o Brasil.
Assim, no Ministério da Defesa julga-se inevitável que o
conjunto de princípios que regem as Forças Armadas brasileiras se torne o novo referencial para a região.
Da mesma forma, o Brasil deve guiar o processo de estruturação de uma nova agenda de
segurança regional, aproveitando o vácuo de influência deixado pelos Estados Unidos.
Mas sem repetir a controversa
fórmula da imposição.
Para evitar suscetibilidades,
a ordem de Jobim a seus assessores é enfatizar o viés colaborativo, harmonizando as expectativas de todos os países integrantes da Unasul.
Na reunião na capital chilena, o ministro brasileiro adotou
um perfil discreto. Ouviu mais
do que falou e reiterou que a
aliança militar sul-americana
não repetirá modelos clássicos,
como o da Otan (aliança militar
ocidental).
Em privado, Jobim agradeceu o apoio do Itamaraty, concedendo ao embaixador em
Santiago, Mario Vilalva, a medalha de Grande-Oficial da Ordem do Mérito da Defesa. Chile
e Colômbia, que no ano passado estavam resistentes ao CDS,
se tornaram entusiastas.
Mercado
A perspectiva em relação ao
mercado de defesa sul-americano se baseia no fato de que a
região tem gasto cada vez mais
em material bélico. Analistas
garantem que a dinâmica de
crescimento da última década
deve se manter a médio prazo,
apesar da atual crise financeira
e da queda das commodities.
No ano passado, os 12 países
sul-americanos aplicaram em
defesa mais de US$ 50 bilhões
(R$ 105 bilhões), dos quais cerca de 30% foram para investimentos novos e manutenção de
bens e serviços -os 70% restantes foram consumidos por
salários e pensões.
Segundo especialistas, US$
15 bilhões (R$ 30 bilhões) é um
orçamento satisfatório, uma
vez orientada a compra em fornecedores locais.
Nesse contexto, o contingente de militares- que hoje ultrapassa 1 milhão- constitui mercado consumidor para um amplo leque de produtos, sejam
uniformes, capacetes, coletes,
botas, barracas de campanha e
rações, além de pistolas, metralhadoras e armas em geral.
Na lógica da produção, ganha
quem tem tradição de indústria
de defesa, como Brasil e Argentina, que tendem a se beneficiar
com linhas de produtos como
sistemas de combate, defesa
antiaérea e veículos.
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