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Premiê turco avança para se reeleger
Graças a apoio de camadas populares, partido AK, de Recep Erdogan, é franco favorito na disputa do dia 29
Rivais acusam líder de ser autoritário e populista; sigla governista, cujas raízes são islâmicas, escapou em 2008 de ser dissolvida pela Justiça
DELPHINE STRAUSS
DO "FINANCIAL TIMES", EM BALIKESIR,
TURQUIA
Se o partido governista da
Turquia, o Justiça e Desenvolvimento (AK), sair vitorioso
das eleições marcadas para o
próximo dia 29, o sucesso poderá ser atribuído sobretudo à
popularidade de seu líder, Recep Tayyip Erdogan.
Quer esteja criticando o presidente de Israel diante da mídia mundial pela guerra na faixa de Gaza, combatendo os barões da imprensa em seu país
ou tentando desfazer a suspeita
de que quer islamizar a Turquia, Erdogan é a figura dominante na política turca.
O premiê vem percorrendo o
país de norte a sul há semanas,
exortando multidões de simpatizantes agitando bandeiras a
dar um novo mandato ao AK,
após um ano em que o partido,
de raízes islâmicas, escapou
por pouco de ser dissolvido pela Suprema Corte por suspeita
de solapar o secularismo.
Erdogan estava em plena forma persuasiva no domingo passado em Balikesir, no noroeste
do país, intercalando farpas
lançadas contra seus adversários com estatísticas sobre
construção de moradias e estradas e com versos sentimentais de poetas locais.
"Pensem grande -porque
vocês são a Turquia, vocês são
Balikesir", ele gritou para a
multidão antes de embarcar no
ônibus da campanha, do qual
atirava brinquedos às crianças
que corriam ao lado da estrada.
Tudo indica que seus apelos
terão resultado. O AK enfrentará uma disputa difícil em algumas cidades grandes, e, com o
desemprego em alta, pode não
chegar aos 47% dos votos conquistados nas eleições gerais de
2007. Mas as pesquisas indicam que o partido pode conseguir mais de 40%, o que, pelos
padrões históricos turcos, é
uma grande vantagem.
Erdogan pode enfurecer os
rivais e a elite secularista, mas
muitos turcos comuns sentem
que o premiê é um deles.
"Ele é um homem de verdade", comentou com uma risadinha uma senhora de meia-idade que o ouviu discursar.
Tirando as multidões adoradoras, porém, a situação para o
premiê parece mais difícil, na
medida em que a crise econômica mundial vem erodindo os
ganhos de prosperidade que o
país tinha conseguido. O desemprego está em 25% entre os
jovens, e, com muitas fábricas
suspendendo sua produção,
trabalhadores estão retornando a suas aldeias natais.
Apesar disso, o premiê diz
que as pesquisas internas do
AK indicam que o partido está
se saindo "melhor do que as
pessoas previam -e melhor a
cada dia que passa", mesmo em
algumas das regiões onde a disputa é mais apertada.
O Partido Republicano do
Povo, a principal agremiação
oposicionista, deu uma trégua
às acusações de que o AK promove uma agenda religiosa
sub-reptícia.
Mas as alegações de que o
premiê vem ficando mais autocrático e de que seu partido
tenta comprar o apoio dos eleitores começam a ganhar credibilidade. Seus adversários escarnecem dele com cartazes
saudando "o último sultão", e
colunistas irados de jornais o
descrevem como próximo aos
presidentes Mahmoud Ahmadinejad (Irã) ou Hugo Chávez
(Venezuela).
As comparações são exageradas, mas Erdogan conferiu credibilidade às críticas pelo fato
de dar pouca autonomia a seus
ministros, trabalhar com um
círculo estreito de assessores e
fazer críticas ferrenhas a jornais hostis a ele.
O premiê também pisou em
terreno perigoso quando elogiou um governador de Província por distribuir geladeiras e
lava-roupas gratuitos, justamente quando a temporada
eleitoral estava começando,
numa iniciativa condenada pelo conselho eleitoral.
Muitos eleitores dizem que
vão votar no AK simplesmente
porque acham que um município governado pelo partido do
premiê tem mais chances de
obter do governo central as verbas de que precisa para melhorar os serviços públicos.
O AK também parece estar
deixando que a tática eleitoral
dite suas políticas. O partido
aprovou às pressas um pacote
de cortes temporários nos impostos para incentivar a demanda de carros e bens de consumo, mas vem fazendo hora
em relação a um acordo potencialmente impopular com o
FMI para limitar a severidade
da recessão econômica.
"Turco demais"
"O problema de Erdogan não
é que ele seja islâmico demais",
escreveu o colunista Mustafa
Akyol. "É que ele é turco demais. A cultura política do país
é baseada na dominação do líder, na retórica do confronto e
na ausência de pragmatismo."
A verdadeira pergunta a ser
respondida nas urnas não é por
que margem o AK vai vencer,
mas o que Erdogan pretende
fazer com um novo mandato.
Tradução de CLARA ALLAIN
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