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ELEIÇÕES NA FRANÇA
Segurança pública e falta de união na esquerda são consideradas as causas do fracasso de Jospin
Socialistas tentam explicar resultados
DE PARIS
A opinião pública francesa caiu
no estupor, assim que as primeiras pesquisas de boca-de-urna começaram a ser divulgadas, apontando que o líder de extrema-direita Jean-Marie Le Pen disputaria o primeiro turno das eleições
presidenciais com cerca de 17,2%
dos votos válidos.
O resultado não era de todo improvável, porém, pelas indicações
das pesquisas anteriores. Le Pen
havia disparado nas preferências
de votos nas últimas semanas e alcançara cerca de 15%, instalando-se no terceiro lugar, depois do
presidente Jacques Chirac, da
RPR, e do premiê socialista Lionel
Jospin.
As pesquisas também alertavam que 41% dos franceses ainda
não haviam decidido o seu voto e
poderiam mudá-lo na hora. Como Le Pen conseguira o mesmo
total de 15% nas eleições presidenciais de 1995, ficando em terceiro lugar, analistas julgaram que
ele não ultrapassaria esse índice
agora, deixando o segundo turno
para Chirac e Jospin, como antes.
Os cálculos vieram por terra, e o
que era apenas hipótese tornou-se realidade. "É um cataclismo",
disse o ministro (socialista) da
Economia e das Finanças, Laurent Fabius. "É uma das mais graves crises políticas do pós-guerra", afirmou o candidato dos Verdes, Noël Mamère (cerca de 5,5%
dos votos).
Na TV, políticos se revezaram
durante toda a noite tentando explicar as razões de tal resultado,
que desesperou a esquerda, mas
preocupa também a direita moderada. Le Pen é inimigo político
de Chirac, a quem ele chama de
"Jospin piorado".
Entre os motivos para a derrota
de Jospin e dos socialistas, a questão da segurança pública é a mais
evocada. Pesquisa anterior às eleições mostrou que 58% dos eleitores consideravam o assunto o
principal tema a ser tratado na
campanha. Chirac centrou nele
toda sua ação, assim como Le
Pen.
O primeiro secretário do Partido Socialista, François Hollande,
acentuou ontem a "utilização
abusiva do tema da insegurança"
por Chirac como responsável pelo resultado.
Essa também foi a opinião do
secretário nacional dos Verdes,
Dominique Voynet, que classificou como "demagógica e desonesta" a maneira como a questão
da segurança foi abordada na pré-eleição. "Quem semeia vento, colhe tempestade", disse.
O partido de Chirac, o RPR
(Reunião Pela República), se defendeu das acusações. Para Nicolas Sakozy, um de seus dirigentes,
o RPR não "falou da insegurança
para fazer medo nos franceses,
mas porque os franceses têm medo". Durante a campanha, Jospin
acusou Chirac de "alimentar" a
extrema-direita com o assunto.
Outros motivos essenciais aventados a respeito da ascensão de Le
Pen foi a desconcentração das forças de esquerda, que se multiplicaram em várias candidaturas, e a
capacidade dos socialistas em
reuni-las em torno de Jospin.
No total, os partidos de esquerda alcançaram agora 43,5% dos
votos, segundo as pesquisas, mais
do que nas eleições anteriores,
embora distribuídos entre sete diferentes partidos -11,3% deles
dados a agremiações de extrema
esquerda. Os 2% de votos obtidos
pela candidata do Partido Radical
de Esquerda, Christiane Taubira,
já ajudariam na eleição de Jospin.
O resultado previsto também representa uma grave derrota para
o Partido Comunista.
"A explosão da oferta política
que levou à atomização das vozes
é a primeira causa da desqualificação (da esquerda). Mais particularmente, a alta muito forte registrada pela extrema esquerda
constitui a primeira novidade à
esquerda", analisou o jornal "Le
Monde".
O candidato da Liga Comunista
Revolucionária, Olivier Besancenot (extrema esquerda, 4,4% dos
votos), recusou o argumento, dizendo que a "multiplicação das
candidaturas não é responsável
pelo crescimento da extrema direita. É o resultado da política da
esquerda plural no governo (socialistas-verdes-comunistas), que
se desligou dramaticamente das
camadas populares nas eleições".
Os erros da campanha de Jospin
também são contados como responsáveis pelos resultados. Um
dos mais graves foi ele ter afirmado, logo no início da campanha,
que seu programa não era socialista. Ao final da campanha, teve
que mudar de rota, enfatizando o
discurso de esquerda, ao ver seus
votos migrarem para outros partidos.
Outro erro seu foram as referências agressivas, aos olhos dos
franceses, que fez a Chirac. Chamou-o de "velho" e "com uma visão crepuscular da França". Também referiu-se à "usura" do presidente.
Além disso, a hesitação de Jospin e a do Partido Socialista em
abordar frontalmente a preocupação maior dos franceses com a
segurança, por julgá-la uma questão da direita, deixou a impressão
que colocava o problema em segundo plano.
(ALCINO LEITE NETO)
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