UOL


São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

EUA pressionam por solução em crise entre presidente da Autoridade Palestina e o premiê indicado, Mahmoud Abbas

Novo gabinete leva a impasse com Arafat

MARK LAVIE
DA "ASSOCIATED PRESS", EM JERUSALÉM

Representantes de diferentes alas do Parlamento palestino tentavam ontem encontrar uma saída para o impasse entre o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, e o premiê indicado por ele próprio, Mahmoud Abbas, em torno da composição do novo gabinete.
Arafat, que sempre liderou a ANP com amplos poderes, indicou Abbas para o cargo de premiê por pressão dos EUA, que têm advogado uma reforma na estrutura da ANP e uma renovação na liderança palestina como condição para que Washington patrocine um novo plano de paz entre os palestinos e Israel.
Os EUA insistem que é necessário que Arafat delegue mais poderes ao premiê, dando a ele capacidade de governar. As reservas de Arafat em relação ao gabinete proposto por Abbas mostra essa resistência.
Segundo as regras da ANP, Abbas, que foi indicado por Arafat no fim de março, tem até amanhã para aprovar seu gabinete no Parlamento. Se ele não conseguir, o presidente da ANP poderia indicar outro primeiro-ministro para tentar formar o governo.
Washington aumentou a pressão pela instalação do atual gabinete. "É essencial que os palestinos completem esse processo para estabelecer um governo de forma urgente", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Richard Boucher.
Ele pediu aos palestinos: "Não percam essa oportunidade".

Apagando incêndios
Representantes do movimento Fatah, de Arafat, se reuniram com Abbas ontem para encontrar uma solução para a crise, descrita como a mais séria já surgida entre os dois líderes palestinos, normalmente afinados em suas posições políticas, e dar condições a Abbas de apresentar um gabinete ao Parlamento.
Arafat e integrantes da Fatah, que domina o Legislativo palestino de 88 membros, ainda eram resistentes à composição do gabinete proposto por Abbas, especialmente sua intenção de entregar um cargo-chave de Segurança a Mohammed Dahlan, ex-homem forte da faixa de Gaza.
Dahlan ficaria encarregado de liderar a repressão aos militantes palestinos -um dos pré-requisitos do plano de paz americano.
Abbas, que é conhecido como Abu Mazen, ameaçou renunciar se sua equipe não for aceita, numa iniciativa que pode jogar por terra os esforços para reformar a ANP, pôr fim aos 30 meses de violência com Israel e retomar as negociações de paz.
"Estamos na fase mais importante. Há muitas discussões e dificuldades", disse um alto funcionário da Fatah, Hussein Al Sheikh. "A questão de Mohammed Dahlan é apenas um dos pontos de divergência entre Arafat e Abu Mazen. Espero que consigamos encontrar uma saída e formar um novo governo."
A figura de um premiê possui um significado que ultrapassa a política interna palestina. Os EUA e Israel buscam um premiê palestino que possa agir independentemente de Arafat, a quem acusam de ter vínculos com o terrorismo e a quem vêm boicotando. Abbas, que descreveu a Intifada (levante palestino) como um erro, é bem visto por ambos os países.
"É uma luta para decidir quem fica com a chave" da ANP, segundo Oded Granot, analista de assuntos palestinos na TV Israel. "Arafat está travando uma batalha por sua sobrevivência."
O presidente americano, George W. Bush, disse que vai apresentar o chamado "mapa do caminho" -um plano de paz traçado em conjunto com a União Européia, a Rússia e as Nações Unidas- depois que o governo de Abbas estiver instalado.
O plano pede o fim imediato da violência e um Estado palestino com fronteiras provisórias ainda neste ano, dando um prazo de até três anos para que esse Estado palestino se torne pleno. Também exige o congelamento total dos assentamentos judaicos, uma medida politicamente difícil para o premiê israelense, Ariel Sharon.
Arafat possui um longo histórico de negociar até o último minuto, e alguns observadores prevêem que o impasse político vá terminar num acordo. Alguns setores especulam que o Parlamento pode adiar o prazo final.
Outros, porém, dizem que Arafat pode atribuir a tarefa de formar o governo a outra figura da Fatah, sendo o nome mais frequentemente mencionado o do presidente do Parlamento, Ahmed Qurei. "As chances de Abbas formar um governo são muito pequenas e diminuem a cada hora que passa", disse o legislador Soufian Abu Zaida.



Texto Anterior: Artigo: Por um diálogo entre o Ocidente e o Islã
Próximo Texto: Questão nuclear: EUA e Coréia do Norte iniciam negociações amanhã em Pequim
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.