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Extremismo islâmico fomentado pelo regime agora o ameaça
DA REDAÇÃO
O atentado de ontem em Riad
reforça o temor de que a família
real saudita não consiga neutralizar o terrorismo islâmico, aliás estimulado indiretamente pelo sistema teocrático que a legitima no
poder há 72 anos.
Outros atentados mais sangrentos, em 12 de maio e 9 de novembro do ano passado, já haviam feito 52 mortos. A prisão de centenas de verdadeiros ou falsos suspeitos não conseguiu desmantelar as redes de militantes radicais
que encontram estímulo e amparo em dezenas de mesquitas.
A Arábia Saudita surgiu em
1932, com a ascensão ao trono do
rei Abd al Azis. Seus descendentes, ainda reinantes, "guardiães"
das cidades santas de Meca e Medina, fundamentaram o poder
temporal no islamismo wahabita,
uma ramificação do sunismo que
faz uma leitura ortodoxa dos textos sagrados e rejeita como malévola toda realidade alheia ao islã.
Foi nessa cultura que cresceu
Osama bin Laden e nasceu sua organização, a Al Qaeda, que vê nos
governantes sauditas uma das
fontes privilegiadas do mal em razão de seus vínculos econômicos
com o Ocidente e de suas alianças
com os Estados Unidos. Além disso, 15 dos 19 responsáveis diretos
pelos atentados de 11 de setembro
de 2001 eram sauditas.
Tal evidência complicou as relações entre os EUA e aquele país
desértico que ocupa grande parte
da península Arábica.
As pressões de Washington fizeram com que o príncipe Abdullah, detentor do poder real, desativasse associações supostamente
filantrópicas que, em verdade,
abasteciam o terrorismo de fundos. E também reforçasse o dispositivo policial interno para tentar neutralizar os radicais.
Ainda na última segunda-feira,
em reunião com seus ministros,
Abdullah disse que o terrorismo
seria enfrentado e que todo cidadão deveria se considerar a partir
de agora como integrante das forças de segurança.
Fecha-se com isso, e mais uma
vez, um paradoxo: o trono procura reprimir grupos derivados de
uma forma de islamismo no qual
está assentada sua histórica autoridade teocrática.
O wahabismo implica a não-aceitação de uma rede laica de ensino como a existente em muitos
outros países do mundo muçulmano, beneficiados pela distinção
entre poder religioso e poder temporal. Os livros didáticos só no
ano passado suprimiram a proibição, fundamentada supostamente em preceitos religiosos, de
adolescentes terem contatos com
pessoas estrangeiras ou que professassem outra religião.
É também complexa a modernização institucional de um país
em que a sociedade civil inexiste,
porque não dispõe de entidades
para canalizar suas reivindicações
-partidos políticos, organizações não-governamentais, grupos
de pressão- e na qual 80% dos
24,2 milhões de habitantes identificam-se por suas raízes tribais.
Uma das formas de pressão dos
Estados Unidos está justamente
em modernizar o reino saudita
para impedir que os grupos religiosos internos derrubem a monarquia e desestabilizem o mercado do petróleo e o precário equilíbrio do Oriente Médio.
Os resultados são, por enquanto, muito tímidos. Um conselho
com 90 sábios indicados pelo rei
dá às decisões do Executivo um
perfume tênue de algo colegiado.
Eleições municipais foram convocadas para este ano. Mas não
serão permitidos partidos para o
processo de escolha de vereadores
nas 14 câmaras municipais.
Não há liberdade de expressão.
Até a internet é controlada por
meio de filtros que bloqueiam o
acesso a web sites políticos ou que
envolvam comportamentos
-como o erotismo- contrários
à ortodoxia islâmica.
As decisões oficiais, mesmo as
aberturistas, são de incrível lentidão. O país está nas mãos de um
grupo septuagenário de príncipes
incapaz de compreender o que
venha a ser uma democracia.
Considera-se um grande avanço a denúncia feita há dias por
uma das celebridades da televisão
local, que apareceu diante das câmeras com o rosto deformado em
razão de uma surra que levou do
marido. A denúncia seria impensável até os anos 90, quando as
mulheres não tinham sequer o direito à carteira de identidade. Foi
algo inusitado. Mas não chega a
pesar simbolicamente como fator
de modernidade institucional.
A família real pouco ou nada
consegue fazer contra os xeques
"jihadistas" (partidários da
"guerra santa"). Eles detêm um
imenso poder. São ferreamente
antiamericanos -ficaram felizes
quando os EUA esvaziaram suas
bases militares, logo após terem
fincado pé no Iraque.
E os xeques emitem periódicos
anátemas contra intelectuais ou
personalidades que defendam
reivindicações -como um Judiciário laico- capazes de diminuir o poder da teocracia.
Com o "New York Times" e o "Le Monde"
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