São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997.



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CÚPULA DE DENVER
Conciliar emprego e proteção é o desafio
França busca 3ª via entre dois modelos

do enviado especial a Denver

Em abril do ano passado, ao inaugurar uma reunião especial do G-7 sobre emprego, o presidente francês Jacques Chirac defendeu uma "terceira via" entre as européia e norte-americana.
Apontava os vícios de cada qual: a Europa tem alto nível de proteção social, mas elevado desemprego (acima de 10%, na média dos 15 países da União Européia).
Os EUA tem baixo desemprego (menos da metade), mas alta precariedade no mercado de trabalho.
Ron Brown, então secretário americano do Comércio, presente à reunião, humilhou Chirac. Disse que "não há segunda via ou terceira via, há a via que funciona" (naturalmente a norte-americana).
Um ano depois, o bate-boca dos dois lados do Atlântico é indireto, mas continua praticamente na mesma intensidade e mais ou menos nos mesmos termos.
No lado norte-americano, o economista Fred Bergsten, diretor do Instituto para a Economia Internacional, gaba-se: "Nossas firmas podem demitir, então elas podem contratar. As firmas japonesas e alemães não podem demitir, então não contratam". É a defesa do liberalismo explícito, em que o Estado nada tem a ver com o mercado de trabalho.
Do lado francês, contra-ataca o deputado socialista Julien Dray: "Sustento que os déficits de hoje podem ser os empregos de amanhã e a receita de impostos de depois de amanhã". É o retorno à ortodoxia social-democrata, pela qual o Estado deve, sim, interferir, até usando recursos públicos para tentar gerar empregos.
De alguma forma, essas duas posições se refletem na realidade salarial: na França, o novo premiê, Lionel Jospin, acaba de propor um aumento de 4% no salário mínimo, que já é de US$ 1.104.
Nos EUA, nem se fala no assunto, embora o mínimo atual esteja em US$ 760, 25%, portanto, abaixo do francês.
Mas se refletem também no desemprego: na França é de 12,4%, mais do que o dobro da marca norte-americana (4,8%).
Culpa dos altos salários e da excessiva intervenção estatal, atacam os liberais. Talvez. Mas pode ser também culpa do baixo crescimento econômico no mundo rico, que caiu de 3,7%, nos anos 70, para os atuais 1,95%. (CLÓVIS ROSSI)


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