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CÚPULA DE DENVER
Estagnação dos salários e aumento das desigualdades sociais preocupam o governo americano
Números revelam furos no crescimento
do enviado especial a Denver
Nem o otimismo que o ofício exige impede que até o secretário norte-americano do Tesouro, Robert
Rubin, admita que o modelo tem
lá seus problemas.
Ao falar na terça-feira sobre a cúpula, Rubin reconheceu que há
"estagnação salarial em, digamos,
os 50%, mais ou menos, dos que
estão na parte de baixo do espectro
salarial".
Estagnação é dizer pouco. Em
1995, o salário semanal líquido do
trabalhador industrial era, na média, de US$ 475, menos do que a
média de 16 anos antes (US$ 495).
O crescimento da economia, nos
últimos sete anos, não se transmitiu para a renda familiar, que subiu, pela primeira vez, apenas no
ano passado. Desde 1975, mantém-se estagnada em torno de US$
40 mil.
E assim mesmo só subiu porque
os trabalhadores passaram a fazer
horas extras ou tiveram que pegar
um segundo emprego ou empregar mais de uma pessoa na família
(58% das famílias dependem de
dois ou mais rendimentos).
O que, sim, aumentou foi a desigualdade, como assinalou Reich:
em 1975, os 20% mais ricos ficavam com 43% da renda do país.
Vinte anos depois, abocanhavam
49%. Tais números, entre outros,
desmentem a manchete ufanista
de "The Wall Street Journal" sobre as lições que os Estados Unidos
poderiam ensinar aos outros, especialmente os europeus.
Custos e benefícios
"É verdade que os EUA criam
mais empregos do que os países
europeus, mas eles criam também
mais desigualdades. A brecha entre os 10% mais bem pagos e os
10% mais mal pagos é de 1 para 6,
ao passo que na Europa é de apenas 1 para 3", diz o francês Jean
Boissonnat, que presidiu uma comissão encarregada de preparar
relatório sobre as perspectivas do
emprego no século 21.
Talvez por isso, o próprio Clinton tenha mudado de tom, ao menos na frente do presidente francês
Jacques Chirac, na sexta-feira.
Quando, ao lado de Chirac, lhe
perguntaram que mensagem teria
aos franceses e europeus a respeito
de uma economia melhor para a
Europa, Clinton saiu-se com um
prodígio de equilibrismo:
"O truque é como ter suficiente
disciplina fiscal e flexibilidade para
o crescimento dos empregos e
crescimento econômico, ao mesmo tempo que se preserva uma rede de proteção social para o povo."
Esse, sim, é o modelo ideal. Mas
nem a Europa nem os EUA conseguiram, até agora, transformá-lo
em realidade.
(CLÓVIS ROSSI)
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