UOL


São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA planejam mudar economia do Oriente Médio

EDWARD ALDEN
DO ""FINANCIAL TIMES"

Quase 2.000 pessoas, incluindo o secretário norte-americano de Estado, Colin Powell, se reúnem na Jordânia neste fim de semana para uma conferência sobre o Oriente Médio que vai focalizar a política ""pequena" da reforma econômica, em lugar da alta política da guerra e da paz.
Se não for obstruído pela violência contínua em Israel e na faixa de Gaza, esse encontro extraordinário do Fórum Econômico Mundial vai lançar luz sobre uma iniciativa dos EUA que não é menos radical do que a mudança do regime iraquiano ou o cambaleante plano americano de paz entre Israel e palestinos.
Os Estados Unidos esperam poder utilizar uma combinação de persuasão moral e assistência externa direcionada para fomentar uma revolução democrática capitalista numa região ainda dominada por autocracias e economias petrolíferas lideradas pelo Estado.
A força motriz por trás da parceria é Elizabeth Cheney, a filha de 36 anos do vice-presidente americano, Dick Cheney. Sua indicação para o cargo de subsecretária-assistente de Estado para o Oriente Médio, em março de 2002, provocou espanto em alguns setores, mas mesmo seus adversários dizem que ela pode ser a melhor pessoa para liderar a visão do presidente dos EUA, George W. Bush, de remodelar o Oriente Médio à imagem da América.
Judith Barnett, que ocupou o mesmo cargo na administração Clinton, descreve Elizabeth Cheney como ""brilhante" e diz: ""Ela é sem dúvida alguma a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa".
Cheney chegou ao cargo com pouca experiência, que incluía o Departamento de Estado e o Banco Mundial, mas com um histórico de interesse por questões ligadas ao desenvolvimento.
Nas guerras burocráticas de Washington, Elizabeth Cheney já conseguiu aumentar o financiamento da Parceria EUA-Oriente Médio de US$ 29 milhões, no ano passado, para US$ 100 milhões neste ano, tendo solicitado aumento dessa verba para US$ 145 milhões no ano que vem.
""O que estamos fazendo é realmente muito novo e importante. É a primeira vez que os EUA assumem um compromisso de tal natureza e grau com estas questões de reforma econômica e política no Oriente Médio", disse ela.
A iniciativa envolve passos enormes, tais como o chamado feito por Bush, em maio, pela adoção, até 2013, de um acordo de livre comércio dos EUA com a região. Para isso é preciso convencer algumas das economias mais fortemente protegidas do mundo a abrir-se à concorrência e aos investimentos internacionais.
Elizabeth Cheney volta sua atenção a uma série de passos menores que, os EUA esperam, ajudarão a impelir a região no sentido da abertura econômica e da democracia política. Um dos que ela mais aprecia é o aumento do papel político das mulheres. Em 2002, ela presidiu uma conferência realizada em Washington para ajudar a fornecer recursos a candidatas do sexo feminino na meia dúzia de países da região que autorizam a candidatura de mulheres para cargos eletivos.
Outra prioridade é a reforma legal. Pesquisa feita com empresas árabes em 2000 constatou que sistemas legais fracos que não prevêem meios de obrigar a aplicação de contratos são vistos como o maior obstáculo aos negócios.
Para incentivar essas iniciativas, os EUA vão rever seus programas de assistência à região, começando com o maior deles -o do Egito, que recebe US$ 600 milhões por ano em apoio econômico direto. Washington quer aumentar o apoio que presta às pequenas empresas por meio de microcrédito, do lançamento de projetos educacionais que promovam um currículo fora do fundamentalismo islâmico e do apoio a programas de alfabetização de meninas.
Os céticos dizem que, ao impulsionar reformas tão abrangentes em países tradicionais, os EUA podem suscitar expectativas que podem ter resultado contrário se Washington não conseguir cumprir o que promete.
Cheney tem consciência da crítica segundo a qual os EUA estão tentando impor seu modelo próprio à região. ""Não se trata de impor o modelo americano. Cada país terá de descobrir o que funciona melhor para ele", disse ela. ""Trata-se de buscar maneiras nas quais os EUA possam dar apoio àqueles na região que estão tomando as decisões difíceis exigidas para que se possa empreender as reformas necessárias."


Tradução de Clara Allain



Texto Anterior: Paz sob ataque: Israel mata líder do Hamas em Hebron
Próximo Texto: EUA e Israel dão novo fôlego ao Hizbollah
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.