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ORIENTE MÉDIO
Ação militar no Iraque e conflito com palestinos reforçam apoio a grupo extremista islâmico no Líbano
EUA e Israel dão novo fôlego ao Hizbollah
PAULA SCHMITT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BEIRUTE
A atual etapa do conflito entre
Israel e palestinos favorece o Hizbollah, considerado no Líbano
como um simples partido político, detentor da emissora de TV
AlManar, mas visto fora do mundo islâmico como um dos grupos
terroristas que têm atingido alvos
norte-americanos e israelenses.
A Folha entrevistou em Beirute,
no último dia 10, o xeque Hassan
Nasrallah, secretário-geral do
movimento, que em árabe significa "Partido de Deus".
Formado em 1982, quando da
intervenção israelense no sul do
Líbano, o Hizbollah recrutou militantes entre radicais xiitas. Financiado inicialmente pela Síria,
com a qual discorda por seu islamismo secular, passou a ter vínculos bem mais fortes com o Irã.
O Majlis al-Shura, ou Conselho
Consultivo, define como objetivo
do Hizbollah a "libertação" de Jerusalém, a destruição de Israel ou,
mais modestamente, o fim do Estado tolerante e multirreligioso
no Líbano e sua substituição por
uma república islâmica.
Os serviços de inteligência norte-americanos atribuem ao Hizbollah atentados frequentes no
Líbano, nos anos 80, e sua participação em atos terroristas fora do
Oriente Médio, como a colocação
de explosivos em instalações israelenses na Argentina. Nasrallah,
o secretário-geral do movimento,
é um homem que não reflete por
sua voz e seus gestos a agressividade política e religiosa de seus
militantes. Em 1997 um de seus filhos morreu no sul do Líbano durante confronto entre o Hizbollah
e forças regulares israelenses. Em
lugar de receber pêsames, ele era
cumprimentado, com um sorriso
no rosto, por ser pai de um dos
"mártires" da causa islâmica.
"Meu filho-mártir escolheu essa
estrada por sua própria vontade.
Estava com os seus camaradas na
linha de fogo. É uma vitória e motivo de orgulho para o Hizbollah e
para a lógica do movimento de resistência no Líbano", disse.
O Hizbollah foi, por pressões da
Síria, o único partido político no
Líbano autorizado pelo governo a
permanecer armado mesmo após
o fim da Guerra Civil, em 1991.
Nos anos 90 o Hizbollah substituiu parte de sua vocação bélica
por uma maior participação na
vida política e passou a cultivar
redes filantrópicas. Mas como Israel continua a existir, o Hizbollah
não renunciou ao terrorismo contra o chamado "inimigo sionista".
Também a ocupação do Iraque
reforça um sentimento capitalizado pelo grupo. Quando os iraquianos comemoraram a queda
de Saddam, os atos contra a ação
militar perderam a força no Líbano. Mas, com o caos deixado no
rastro da ocupação, acompanhado do que os árabes descrevem
como a arrogância dos EUA, a
possibilidade de apoio aos americanos foi bastante abalada.
Os atentados de 11 de setembro
de 2001 causaram sentimentos de
comoção e simpatia entre os árabes. Serviram de motor para um
debate sobre o fundamentalismo
islâmico, o terrorismo e o papel
do governo em combater a proliferação da intolerância.
Naquele cenário, o Hizbollah
representava a ameaça. Menos de
dois anos depois, os EUA foram
tão bem-sucedidos em passar de
vítima a algoz que agora, mais
uma vez, o Hizbollah virou o
"guerreiro da liberdade". Não é à
toa que, em quartos de estudantes
libaneses, pode-se ver a foto de
Nasrallah na parede, ao lado do
pôsteres de Ernesto Che Guevara.
Nascido em em 1960, ele é o líder incontestável do grupo extremista que ele ajudou a criar em
1985. Durante anos, ele foi o principal responsável pelas ações militares do grupo. Em 1992, foi escolhido para suceder ao então secretário-geral do grupo, Abbas
Moussaoui, morto num ataque israelense. Em 2000, com a retirada
unilateral das tropas israelenses
do sul do Líbano, a vitória da "resistência libanesa" foi aclamada
no mundo árabe, e Nasrallah adquiriu um status de herói entre os
muçulmanos no Oriente Médio.
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