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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Ação militar no Iraque e conflito com palestinos reforçam apoio a grupo extremista islâmico no Líbano

EUA e Israel dão novo fôlego ao Hizbollah

PAULA SCHMITT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BEIRUTE

A atual etapa do conflito entre Israel e palestinos favorece o Hizbollah, considerado no Líbano como um simples partido político, detentor da emissora de TV AlManar, mas visto fora do mundo islâmico como um dos grupos terroristas que têm atingido alvos norte-americanos e israelenses.
A Folha entrevistou em Beirute, no último dia 10, o xeque Hassan Nasrallah, secretário-geral do movimento, que em árabe significa "Partido de Deus".
Formado em 1982, quando da intervenção israelense no sul do Líbano, o Hizbollah recrutou militantes entre radicais xiitas. Financiado inicialmente pela Síria, com a qual discorda por seu islamismo secular, passou a ter vínculos bem mais fortes com o Irã.
O Majlis al-Shura, ou Conselho Consultivo, define como objetivo do Hizbollah a "libertação" de Jerusalém, a destruição de Israel ou, mais modestamente, o fim do Estado tolerante e multirreligioso no Líbano e sua substituição por uma república islâmica.
Os serviços de inteligência norte-americanos atribuem ao Hizbollah atentados frequentes no Líbano, nos anos 80, e sua participação em atos terroristas fora do Oriente Médio, como a colocação de explosivos em instalações israelenses na Argentina. Nasrallah, o secretário-geral do movimento, é um homem que não reflete por sua voz e seus gestos a agressividade política e religiosa de seus militantes. Em 1997 um de seus filhos morreu no sul do Líbano durante confronto entre o Hizbollah e forças regulares israelenses. Em lugar de receber pêsames, ele era cumprimentado, com um sorriso no rosto, por ser pai de um dos "mártires" da causa islâmica.
"Meu filho-mártir escolheu essa estrada por sua própria vontade. Estava com os seus camaradas na linha de fogo. É uma vitória e motivo de orgulho para o Hizbollah e para a lógica do movimento de resistência no Líbano", disse.
O Hizbollah foi, por pressões da Síria, o único partido político no Líbano autorizado pelo governo a permanecer armado mesmo após o fim da Guerra Civil, em 1991.
Nos anos 90 o Hizbollah substituiu parte de sua vocação bélica por uma maior participação na vida política e passou a cultivar redes filantrópicas. Mas como Israel continua a existir, o Hizbollah não renunciou ao terrorismo contra o chamado "inimigo sionista".
Também a ocupação do Iraque reforça um sentimento capitalizado pelo grupo. Quando os iraquianos comemoraram a queda de Saddam, os atos contra a ação militar perderam a força no Líbano. Mas, com o caos deixado no rastro da ocupação, acompanhado do que os árabes descrevem como a arrogância dos EUA, a possibilidade de apoio aos americanos foi bastante abalada.
Os atentados de 11 de setembro de 2001 causaram sentimentos de comoção e simpatia entre os árabes. Serviram de motor para um debate sobre o fundamentalismo islâmico, o terrorismo e o papel do governo em combater a proliferação da intolerância.
Naquele cenário, o Hizbollah representava a ameaça. Menos de dois anos depois, os EUA foram tão bem-sucedidos em passar de vítima a algoz que agora, mais uma vez, o Hizbollah virou o "guerreiro da liberdade". Não é à toa que, em quartos de estudantes libaneses, pode-se ver a foto de Nasrallah na parede, ao lado do pôsteres de Ernesto Che Guevara.
Nascido em em 1960, ele é o líder incontestável do grupo extremista que ele ajudou a criar em 1985. Durante anos, ele foi o principal responsável pelas ações militares do grupo. Em 1992, foi escolhido para suceder ao então secretário-geral do grupo, Abbas Moussaoui, morto num ataque israelense. Em 2000, com a retirada unilateral das tropas israelenses do sul do Líbano, a vitória da "resistência libanesa" foi aclamada no mundo árabe, e Nasrallah adquiriu um status de herói entre os muçulmanos no Oriente Médio.


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