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"História será esquecida", diz analista
DA REPORTAGEM LOCAL
John P. White foi subsecretário
da Defesa na administração Bill
Clinton (1993-2001) e é hoje professor na Universidade Harvard.
Em entrevista concedida à Folha
por telefone, ele qualifica o episódio Jessica Lynch de "um show
paralelo", explorado pela mídia,
mas sem que se conheça o grau de
envolvimento do Pentágono em
sua produção.
"Não creio ser possível afirmar
que havia uma tática deliberada
para transformar essa jovem num
grande acontecimento emocional
para o país", afirmou White, para
quem "o governo não tinha absoluto controle sobre aquilo que a
mídia noticiava". Leia a seguir a
sua entrevista.
(JBN)
Folha - Como explicar a diferença
entre a versão inicial do resgate de
Jessica Lynch, mais heróica e épica,
e a versão atual, mais comezinha?
John White - Não saberia dizer o
que aconteceu. Mas, de qualquer
modo, em termos de guerra, o
episódio foi secundário, lateral.
Foi um espetáculo de show paralelo. Não tenho nada particularmente contra os tablóides de circulação popular ou contra as
emissoras de TV que se pautam
pelos mesmos critérios.
Folha - Mas não foi útil para o
Pentágono ter em mãos uma história emocionalmente tão forte?
White - Creio que sim. Pode-se
dizer que o sentimento patriótico
precisava ser alimentado. As pessoas de um modo geral se sentem
atraídas por esse gênero de história. Mas não creio ser possível
afirmar que havia uma tática deliberada para transformar essa jovem num grande acontecimento
emocional para o país.
Folha - Independentemente do
governo, a mídia também se deliciou. Jessica Lynch não simbolizava
o patriotismo do noticiário?
White - Com certeza. As guerras
sempre produzem acontecimentos de interesse humano, que procuram apresentar os soldados de
uma forma favorável.
Folha - Até que ponto o episódio
não distraiu a opinião pública no
momento em que ela poderia se
frustrar pela não descoberta das
armas de destruição em massa?
White - Não creio que seja o caso. O governo não tinha absoluto
controle sobre aquilo que a mídia
noticiava. A mídia foi frequentemente, durante a guerra, mais
realista que o rei. De qualquer forma, as supostas armas de destruição em massa, elas sim, constituem em si um imenso episódio
dentro da guerra. A imprensa
aborda o assunto diariamente,
enquanto a história de Jessica
Lynch tende a ser progressivamente esquecida.
Folha - O fato de não acharem essas armas acabará machucando a
imagem da administração Bush?
White - A população nunca tomou essas armas como um problema fundamental. Saddam era
bem mais importante, um ditador
assassino.
Há por aqui o sentimento de
que o mundo se tornou melhor
depois da deposição dele. Mas o
problema é outro. Nas próximas
oportunidades em que o governo
disser que tem informações de inteligência sobre o Irã ou a Coréia
do Norte, existirão dúvidas sobre
os autores dessas informações, já
que elas partem dos mesmos organismos que falharam com relação às armas de destruição em
massa.
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