|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Questão requer mais debate, afirma especialista
DA REDAÇÃO
O fato de a mulher participar
cada vez mais da força de trabalho
pode ser uma explicação, mas o
sociólogo austríaco Christopher
Prinz, diretor da Divisão de Política Social da OCDE (Organização
para a Cooperação Econômica e o
Desenvolvimento), acha "surpreendente" a pouca atenção dada à questão do gênero nos debates sobre a reforma do sistema de
aposentadorias na Europa.
Prinz, doutor em sociologia pela
Universidade de Viena (Áustria),
lidera atualmente um estudo da
OCDE sobre modelos de transferência de recursos públicos para
compensar os gastos que as famílias têm com os filhos.
Leia a seguir a entrevista que
Prinz deu à Folha, por e-mail, de
seu escritório em Paris.
(MB)
Folha - Qual é a tendência dos benefícios de previdência social para
as mulheres, especialmente no que
diz respeito às aposentadorias?
Christopher Prinz - Não há uma
tendência geral, mas é surpreendente que tão pouca atenção seja
dada à questão do gênero no debate sobre a reforma do sistema
de aposentadorias. Em parte, isso
pode ser explicado pelo aumento
(às vezes, rápido) dos índices de
participação das mulheres na força de trabalho, o que torna a regulamentação específica cada vez
menos necessária -e um aumento gradativo do valor médio
das aposentadorias de mulheres.
Pensões por morte do cônjuge,
que representam de fato uma
grande fatia dos gastos totais com
pensões e aposentadorias em alguns países europeus, serão certamente drasticamente reduzidas,
se não abolidas. Parte dessa tendência já pode ser vista -variando de reduções no valor dos pagamentos, como ocorreu na Áustria
em 2000, à sua total abolição, como a Suécia fez em 1990. Além
disso, as idades de aposentadoria
para mulheres determinadas pela
lei, que costumavam ser mais baixas em muitos países europeus,
estão sendo (e, em alguns lugares,
serão nas próximas décadas) harmonizadas. Ao mesmo tempo em
que essas mudanças essencialmente reduzirão os benefícios para alguns grupos de mulheres, outras mudanças menores devem
trazer algumas melhorias.
Folha - Alguns países europeus
têm políticas de compensação para
mulheres que optam por ficar em
casa depois de se casarem ou terem
filhos. Como fazem isso?
Prinz - Muitos países creditam
explicitamente os anos passados
em casa para cuidar dos filhos. As
regras variam consideravelmente
no que diz respeito à idade e ao
número de filhos, ao nível implícito de contribuições creditadas
nesses períodos, e a outras condições para receber os créditos [veja
quadro nesta página".
Folha - Há políticas para que a diferença entre os salários de homens e mulheres seja compensada
na hora da aposentadoria?
Prinz - A diferença entre os salários de homens e mulheres não é
explicitamente levada em consideração em nenhum país. Entretanto todos os países com aposentadorias de valor fixo (por exemplo, a Holanda, o Reino Unido ou
a Austrália), com um valor mínimo de aposentadoria (como os
países escandinavos) ou com uma
fórmula de benefícios progressivos (como os Estados Unidos e o
Canadá) têm uma política de redistribuição -às vezes, considerável- para pessoas de baixa
renda. Essa redistribuição frequentemente beneficia as mulheres, ainda que de forma implícita.
Folha - Quais são os países com os
melhores modelos de planos de
aposentadoria para mulheres?
Prinz - Talvez a Suíça, que combina estes elementos: seguro obrigatório para todos, inclusive
aqueles que não trabalham; a divisão obrigatória da aposentadoria entre os cônjuges; e créditos
pelo tempo passado cuidando de
filhos ou pessoas idosas.
Texto Anterior: Donas-de-casa lutam por seus direitos Próximo Texto: Benefício é pouco usado por brasileiras Índice
|