São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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Livro infantil mantém estereótipo

LORNA DUCKWORTH
DO "THE INDEPENDENT"

Os livros infantis ainda perpetuam estereótipos ultrapassados, retratando as mulheres como seres emocionais e submissos que raramente trabalham, afirmaram psicólogos num congresso realizado em Londres.
Os livros escritos para crianças com menos de sete anos têm mais personagens femininos do que tinham os da década de 1940, quando estes eram virtualmente invisíveis. Nesses livros, no entanto, as mulheres continuam a exercer os papéis tradicionais na divisão dos sexos.
As mulheres são retratadas como tipos maternais e caseiros que se ocupam da cozinha ou como personagens malévolos, como as bruxas.
Mas, segundo o que a psicóloga Claire Etaugh disse ao Congresso Europeu de Psicologia, em Londres, as meninas já estão sendo retratadas de maneira mais realista e autorizadas a ser personagens aventurosos, independentes e inteligentes.
Já no caso das mulheres adultas, as únicas vezes em que recebem qualidades mais masculinas, como autonomia ou força, é quando são personagens más, como bruxas.

Harry Potter
Mesmo os livros sobre Harry Potter -sucesso da literatura infantil praticamente no mundo inteiro, escritos pela autora escocesa J.K. Rowling- cometem os mesmos erros. O personagem central é um garoto. Sua coadjuvante é a menina Hermione, que é inteligente e corajosa -mas age como menino.
A mulher adulta mais admirada nas histórias de Harry Potter é a senhora Weasley, mãe de Ron, o grande amigo de Harry.
Ela é uma figura materna tradicional, que gosta de cozinhar e encher as crianças de presentes. A maioria das outras mulheres é formada por bruxas que lecionam na escola Hogwarts de bruxaria. São pessoas competentes, mas estranhas.
De acordo com Etaugh, "a mensagem passada por livros como os sobre Harry Potter é que as meninas precisam fazer uma escolha. Ou elas se tornam mulheres carinhosas que colocam sua família em primeiro lugar, ou decidem brilhar no mundo masculino. Já os homens podem fazer as duas coisas".
Etaugh estudou 60 livros infantis escritos nos anos 1970, 1980 e 1990 e constatou que os personagens femininos equivalem aos masculinos em número. No entanto os femininos são estereotipados em 85% dos livros, independentemente da década em que foram escritos.
De todos os livros (que foram escolhidos aleatoriamente em uma biblioteca americana), apenas um incluía a figura de uma mãe que sai para trabalhar.
"O número de mulheres representadas aumentou. A probabilidade de elas serem os personagens principais e de figurarem nas ilustrações equivale à dos homens. Mas os estereótipos continuam vivos e ativos."
Etaugh disse que, na adolescência, as meninas muitas vezes são incentivadas a abrir mão de seus hábitos "masculinos" e se tornarem mais femininas, mais passivas e menos auto-afirmativas. E, segundo ela, os livros infantis espelham essas atitudes antiquadas.
"Eles não refletem a realidade, de nenhum modo. Muitas mães têm filhos pequenos e trabalham fora, acumulando diferentes papéis. Contudo não é essa a mensagem que se recebe dos livros. A julgar por eles, as mulheres são obrigadas a escolher uma coisa ou outra", afirmou a psicóloga.


Tradução de Clara Allain


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