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Livro infantil mantém estereótipo
LORNA DUCKWORTH
DO "THE INDEPENDENT"
Os livros infantis ainda perpetuam estereótipos ultrapassados,
retratando as mulheres como seres emocionais e submissos que
raramente trabalham, afirmaram
psicólogos num congresso realizado em Londres.
Os livros escritos para crianças
com menos de sete anos têm mais
personagens femininos do que tinham os da década de 1940, quando estes eram virtualmente invisíveis. Nesses livros, no entanto, as
mulheres continuam a exercer os
papéis tradicionais na divisão dos
sexos.
As mulheres são retratadas como tipos maternais e caseiros que
se ocupam da cozinha ou como
personagens malévolos, como as
bruxas.
Mas, segundo o que a psicóloga
Claire Etaugh disse ao Congresso
Europeu de Psicologia, em Londres, as meninas já estão sendo retratadas de maneira mais realista
e autorizadas a ser personagens
aventurosos, independentes e inteligentes.
Já no caso das mulheres adultas,
as únicas vezes em que recebem
qualidades mais masculinas, como autonomia ou força, é quando
são personagens más, como bruxas.
Harry Potter
Mesmo os livros sobre Harry
Potter -sucesso da literatura infantil praticamente no mundo inteiro, escritos pela autora escocesa J.K. Rowling- cometem os
mesmos erros. O personagem
central é um garoto. Sua coadjuvante é a menina Hermione, que é
inteligente e corajosa -mas age
como menino.
A mulher adulta mais admirada
nas histórias de Harry Potter é a
senhora Weasley, mãe de Ron, o
grande amigo de Harry.
Ela é uma figura materna tradicional, que gosta de cozinhar e encher as crianças de presentes. A
maioria das outras mulheres é
formada por bruxas que lecionam
na escola Hogwarts de bruxaria.
São pessoas competentes, mas estranhas.
De acordo com Etaugh, "a mensagem passada por livros como os
sobre Harry Potter é que as meninas precisam fazer uma escolha.
Ou elas se tornam mulheres carinhosas que colocam sua família
em primeiro lugar, ou decidem
brilhar no mundo masculino. Já
os homens podem fazer as duas
coisas".
Etaugh estudou 60 livros infantis escritos nos anos 1970, 1980 e
1990 e constatou que os personagens femininos equivalem aos
masculinos em número. No entanto os femininos são estereotipados em 85% dos livros, independentemente da década em
que foram escritos.
De todos os livros (que foram
escolhidos aleatoriamente em
uma biblioteca americana), apenas um incluía a figura de uma
mãe que sai para trabalhar.
"O número de mulheres representadas aumentou. A probabilidade de elas serem os personagens principais e de figurarem nas
ilustrações equivale à dos homens. Mas os estereótipos continuam vivos e ativos."
Etaugh disse que, na adolescência, as meninas muitas vezes são
incentivadas a abrir mão de seus
hábitos "masculinos" e se tornarem mais femininas, mais passivas e menos auto-afirmativas. E,
segundo ela, os livros infantis espelham essas atitudes antiquadas.
"Eles não refletem a realidade,
de nenhum modo. Muitas mães
têm filhos pequenos e trabalham
fora, acumulando diferentes papéis. Contudo não é essa a mensagem que se recebe dos livros. A
julgar por eles, as mulheres são
obrigadas a escolher uma coisa ou
outra", afirmou a psicóloga.
Tradução de Clara Allain
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