|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cidades somem com habitantes mais antigos
DA ENVIADA ESPECIAL
A vida nos pequenos povoados da Espanha é caracterizada por gestos de solidariedade. Normalmente,
são locais habitados por pessoas idosas cujos filhos casaram e "emigraram" para outras cidades em busca de casa e trabalho.
Os "sobreviventes", como
se intitulam, vivem em meio
a ruínas de casas antigas e
igrejas, capelas e castelos
abandonados, que dão à paisagem aspecto de museu ao
ar livre. Apesar da solidão
que dizem sentir, não querem abandonar o povoado.
Sua maior preocupação é
com o desaparecimento da
própria história.
"Não me imagino longe
daqui. Conheço todas essas
pessoas, e vivemos como
uma grande família. Se um
está doente, todos ajudam.
Se falta comida, o vizinho
sempre te recebe como um
ente querido", afirma Jesus
Ramos Aznar, 67, que vive
com a mulher em Castell de
Cabras, um povoado com 22
moradores. "Aqui há mais
três velhos, algumas ovelhas,
umas casas abandonadas e
nada mais", diz Ramos, que
no verão recebe a visita da filha, do genro e dos netos.
Castell de Cabras vive hoje
completamente isolada de
outros povoados, mas, há
dez anos, quando ali funcionavam duas minas de carvão, era considerada "dinâmica". Suas minas não sobreviveram, porém, à concorrência, e o retrato atual é
considerado desolador.
"Éramos cerca de 200 ou
300 moradores. Depois que
fecharam as minas, todos se
foram, os bares fecharam,
não há médicos ou escolas.
Os jovens foram os primeiros, depois os pais. Ficaram
só os velhos. Assim, a cidade
vai desaparecendo, junto
com nossas histórias de infância", diz Ramos.
Em Foscalanda, um povoado a uma hora de Castell
de Cabras, outras 70 pessoas
buscam motivações para
não seguir para outras cidades. O pecuarista José Manoel Herrero, 38, cuida de
900 ovelhas e trabalha com a
mulher na produção de lã.
"O trabalho é muito difícil,
e a terra, ingrata. O inverno é
terrível durante a maior parte do ano, e preciso trabalhar
muito para ter dinheiro no
final do mês", diz. Na cidade
há mais dois pecuaristas.
Em Aguaviva, onde a idade média é 60 anos, a principal atração é um bar da prefeitura. Todos os dias, cerca
de 50 homens se reúnem no
local para jogar cartas, ler
jornais ou conversar. "Aqui
é o ponto mais movimentado da cidade. Há pessoas durante todo o dia e sempre estão felizes", diz a argentina
Gilda Mazzeo.
(LC)
Texto Anterior: Patrimônio cultural: Espanha adota famílias de imigrantes Próximo Texto: Ásia: Indonésia inicia processo de impeachment Índice
|