São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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Cidades somem com habitantes mais antigos

DA ENVIADA ESPECIAL

A vida nos pequenos povoados da Espanha é caracterizada por gestos de solidariedade. Normalmente, são locais habitados por pessoas idosas cujos filhos casaram e "emigraram" para outras cidades em busca de casa e trabalho.
Os "sobreviventes", como se intitulam, vivem em meio a ruínas de casas antigas e igrejas, capelas e castelos abandonados, que dão à paisagem aspecto de museu ao ar livre. Apesar da solidão que dizem sentir, não querem abandonar o povoado. Sua maior preocupação é com o desaparecimento da própria história.
"Não me imagino longe daqui. Conheço todas essas pessoas, e vivemos como uma grande família. Se um está doente, todos ajudam. Se falta comida, o vizinho sempre te recebe como um ente querido", afirma Jesus Ramos Aznar, 67, que vive com a mulher em Castell de Cabras, um povoado com 22 moradores. "Aqui há mais três velhos, algumas ovelhas, umas casas abandonadas e nada mais", diz Ramos, que no verão recebe a visita da filha, do genro e dos netos.
Castell de Cabras vive hoje completamente isolada de outros povoados, mas, há dez anos, quando ali funcionavam duas minas de carvão, era considerada "dinâmica". Suas minas não sobreviveram, porém, à concorrência, e o retrato atual é considerado desolador.
"Éramos cerca de 200 ou 300 moradores. Depois que fecharam as minas, todos se foram, os bares fecharam, não há médicos ou escolas. Os jovens foram os primeiros, depois os pais. Ficaram só os velhos. Assim, a cidade vai desaparecendo, junto com nossas histórias de infância", diz Ramos.
Em Foscalanda, um povoado a uma hora de Castell de Cabras, outras 70 pessoas buscam motivações para não seguir para outras cidades. O pecuarista José Manoel Herrero, 38, cuida de 900 ovelhas e trabalha com a mulher na produção de lã.
"O trabalho é muito difícil, e a terra, ingrata. O inverno é terrível durante a maior parte do ano, e preciso trabalhar muito para ter dinheiro no final do mês", diz. Na cidade há mais dois pecuaristas.
Em Aguaviva, onde a idade média é 60 anos, a principal atração é um bar da prefeitura. Todos os dias, cerca de 50 homens se reúnem no local para jogar cartas, ler jornais ou conversar. "Aqui é o ponto mais movimentado da cidade. Há pessoas durante todo o dia e sempre estão felizes", diz a argentina Gilda Mazzeo. (LC)


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