São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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ÁSIA
Presidente Wahid é convocado a depor amanhã, mas afirma que não irá e que seus simpatizantes podem tomar as ruas

Indonésia inicia processo de impeachment

DA REDAÇÃO

A Assembléia Consultiva do Povo (MPR) iniciou ontem em Jacarta o processo de impeachment do presidente da Indonésia, Abdurrahman Wahid, 60, e o convocou para depor amanhã para responder a acusações de corrupção e incompetência.
Wahid, que tomou posse em outubro de 1999, disse que não irá comparecer, e uma aliada afirmou que o presidente pode declarar estado de emergência no país. A medida lhe permitiria dissolver a Assembléia, impedir o processo de impeachment e convocar eleições. Questionado se pretendia renunciar à Presidência, Wahid foi categórico: "Não".
O primeiro presidente do país eleito democraticamente havia afirmado antes que seus milhões de seguidores podem tomar as ruas se a MPR o destituir. O mandato de Wahid é de cinco anos.
"Eu lhes asseguro que venho dizendo a multidões em toda parte: "Por favor, não venham a Jacarta, sou contra a violência" ", afirmou Wahid em pronunciamento na TV de seu palácio na capital, com forte guarda policial. "Mas não me culpem se a multidão tomar conta de tudo sozinha", afirmou Wahid, que antes de chegar à Presidência liderava o maior grupo islâmico do mais populoso país islâmico do mundo.
Mas Rachmawati Sukarnoputri, aliada e amiga próxima do presidente, disse à imprensa que ele pretende declarar o estado de emergência em dois dias.
Amien Rais, o chefe da MPR e um dos políticos mais poderosos do país, que articulou a chegada ao poder de Wahid, pediu ao seu ex-aliado que renuncie para o seu próprio bem. "Se ele sofrer o impeachment, poderá ser levado a julgamento e ser responsabilizado pelo que fez durante seu governo", afirmou Rais. "Acho que as pessoas o perdoarão e o país ficará agradecido se ele renunciar."
A crise política que vem paralisando há meses o quarto país mais populoso do mundo (cerca de 207 milhões de habitantes) gera temores de violência por parte de milícias armadas que apóiam Wahid. A sessão da MPR de ontem foi protegida por centenas de policiais, arame farpado e dezenas de blindados. Mais de 40 mil policiais e soldados foram convocados para reforçar a segurança na capital. O país nunca teve uma transição pacífica de poder.
A sessão da MPR para iniciar o processo de impeachment estava marcada para 1º de agosto, mas foi adiantada por causa da irritação dos parlamentares com as ameaças de decretação do estado de emergência.
Alguns parlamentares sugeriram que a MPR poderia aprovar o impeachment já amanhã se Wahid não comparecer para depor. Os militares e a polícia, que têm 38 das 700 cadeiras da MPR, votaram a favor da convocação.
Os pedidos de impeachment foram causados por dois escândalos financeiros supostamente envolvendo o presidente. Se ele for deposto, será substituído pela popular vice-presidente Megawati Sukarnoputri, filha do líder fundador da Indonésia, Sukarno.
Wahid está sendo responsabilizado pela oposição por não ter realizado as reformas necessárias para superar a crise econômica e não conseguir conter as sangrentas disputas étnicas do país. A crise asiática atingiu a Indonésia em 1998 e contribuiu para a queda do então ditador Suharto, que ficou 32 anos no poder. Ele deixou a Presidência em meio à maior crise econômica do país, após uma onda de protestos violentos.


Com agências internacionais


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